Atrozmente impune

terça-feira, junho 5, 2012

KabulEm Kabul ser criança é uma condição existencial complexa e complicada. A vida das crianças não era fácil debaixo do regime lunático Taliban, nem foi fácil antes, durante todo o período da guerra, mas agora a condição infantil ultrapassa a questão básica da sobrevivência. A situação presente das crianças afegãs é não o serem. É como se alguém nascesse já adulto, ou na fase avançada da adolescência. Assim uma coisa tipo geração espontânea.
A solução é, mal possam andar e ter algum discernimento, venderem nas ruas, por onde passam grande parte do dia. As escolas públicas são caras e as privadas são vedadas aos filhos do povo. As alternativas dos pais é fazerem com que as crianças frequentem algumas escolas das ONG, enquanto com o que as crianças ganham na rua, vão poupando para terem o dinheiro suficiente que permita o ingresso numa escola pública.
Uma das ONG que mais activa é na educação e na saúde, é a APV (Voluntários Afegãos pela Paz), uma ONG formada por médicos, enfermeiros, professores, profissionais das mais variadas actividades, afegãos, que contribuem com o seu esforço e saber, colocando-se ao serviço da população. E assim ensinam às crianças o mais elementar, a ler, a escrever, a aritmética, a arte…para que quando tiverem oportunidade de ingressar numa escola pública as crianças já vão a saber qualquer coisa. São formas de colmatar a ausência de redes públicas de educação universal e gratuita.
Os pais, desesperados, tentam fazer com que os filhos aprendam a fazer qualquer coisa produtiva, para que não cometam o acto suicida de alistarem-se, ou caíram nas mãos dos senhores da guerra. Mas a situação não é fácil. O desemprego é norma, o trabalho é precário, quem tem empregos agarra-se a eles com unhas e dentes, restando as oportunidades de negócios cinzentos, que levam rapidamente aos negócios escuros.
A renda de uma casa em Kabul ronda entre mil a 2 mil afganis, compartidas com varias famílias. A alimentação é constituída por pão, batatas e chá sem açúcar (este é um luxo). A grande maioria das mulheres são analfabetas e afastadas do processo produtivo e os homens sujeitam-se ao trabalho que encontrarem. A única forma que as famílias encontram para minorar a situação dos miúdos, é a venda nas ruas, ou a banca de engraxar sapatos.
E a saúde? Um inferno! Um soldado norte-americano custa por ano, aos USA, um milhão de dólares (salario, prémios, assistência médica, alojamento, custos logísticos, equipamento, deslocações, alimentação, combustível, custos administrativos, custos de campanha, comunicações…). Uma clinica custa, já a funcionar, 200 mil USD ano (segundo os custos apontados pelo Ministério da Saúde Afegão). Com menos 6 soldados funcionam 30 clinicas. A APV prevê que o a recuperação das escolas existentes, que estão semidestruídas e a construção de 10 novas escolas em Kabul, mais as poucas que funcionam, o suficiente para dar uma resposta condigna às necessidades, com os encargos dos professores e de funcionamento, abolindo a obrigatoriedade de pagar o ensino básico, seria resolvido com 50 milhões de USD. Ou seja com menos 60 soldados norte-americanos no terreno, se os USA tivessem um efectivo interesse em ajudar o Afeganistão, poderiam ser construídas e postas a funcionar, em Kabul, 30 clinicas e cobrir-se a rede publica escolar, com a construção de 10 novas escolas, recuperação das escolas desactivadas pela guerra e aproveitamento das existentes.
Deixemos o inferno afegão. Antes de passar ao inferno Sírio, está na hora do relato da peregrinação de Chris Two, que hoje termina a visita aos infernos. Aqui vai:
Caminharam durante dias e noites até chegarem a uma região, entre duas montanhas de ferro, onde se situam grandes infernos sobrepostos, estando cada um rodeado por 16 infernos pequenos que, por sua vez, estão cada um deles, rodeados de 10 milhões de micro infernos. Nestes infernos são castigadas as almas condenadas por orgulho, atentado ao pudor, cólera, insolência e avareza. Todas as almas são chinesas. Os castigos aplicados consistem em lançarem as almas num rio de sangue, serem queimadas com fogo eterno, trespassadas por lanças e punhais, enregelarem e serem cobertas de imundícies. Depois do sofrimento, as almas condenadas, são transformadas em demónios esfomeados e permanecem aqui eternamente. Aquelas que revelarem sinais de sincero arrependimento durante as torturas passam para os corpos de animais, reiniciando o ciclo.
Em seguida dirigiram-se para as regiões médias da parte Oriental do Inferno, um local de suplícios, em que o fogo também não é o elemento central das torturas. Nesse pequeno inferno as almas condenadas são devoradas por enormes répteis, asfixiadas lentamente pelo fumo, sufocadas por enxofre, trespassadas por punhais e as almas das mulheres que atormentaram os maridos ou que cometeram adultério são enforcadas e assim permanecem nas forcas, com a língua de fora, que os corvos aproveitam para debicar. As almas permanecem neste inferno por um tempo proporcional aos pecados cometidos, mas nunca inferior a 100 anos. No entanto, todos os anos, os guardiões abrem as portas por cinco dias e as almas que cumpriram a pena podem sair, ou as que os seus familiares rezaram todos os dias por elas, têm essa oportunidade, assim como as almas que mostraram um franco arrependimento. Ao chegarem a este inferno as almas são surpreendidas por deliciosos mangares e roupas novas. Mas depois já não comem nem se vestem, até terminarem a pena. Algumas têm penas eternas. As almas recebidas neste inferno são todas as almas provenientes de vidas do Médio Oriente, que não sejam islâmicas, judaicas ou cristãs.
O Inferno do Islão é formado por 7 pisos sobrepostos e seja qual for a velocidade, demora-se mil anos a ir de um piso a outro. O 1º piso deste Inferno é destinado às almas dos crentes que não se arrependeram dos seus pecados. É constituído por mil montanhas de fogo, havendo em cada montanha 70 mil cidades de fogo, em cada cidade 70 mil casas de fogo, em cada casa 70 mil camas de fogo e em cada cama 70 mil diferentes formas de tortura. O 2º piso alberga as almas dos ateus, o 3º piso alberga as almas dos que se suicidaram, o 4º piso é destinado aos ladrões e homicidas, o 5º aos Gays, o 6º aos pagãos e o 7º para os que tentaram subverter a ordem das coisas, na terra dos Homens. Todos estes Infernos foram criados pelo Misericordioso, segundo afirmam os teólogos, mas só é conhecida a composição do 1º piso. Os restantes, só Ele é que sabe como são. De qualquer forma, a regra é clara, obrigando as almas dos ímpios a serem lançadas ao fogo eterno e renovável, dormirem nas chamas, comerem o seu fogo e beberem bronze fundido.
Chris e o Anjo pernoitaram neste Inferno antes de retornarem á Terra.
Os infernos do oriente…O governo sírio negou qualquer envolvimento nos massacres de Hula, onde 116 pessoas, entre as quais 32 crianças, foram barbaramente massacradas, acusando o Exercito Livre Sírio dos massacres. Os observadores das Nações Unidas, no entanto, suportam que foram as unidades militares governamentais e milícias lealistas, as responsáveis. As afirmações e contra-afirmações acabam por constituir um véu, sob o que de facto aconteceu. O governo sírio alega que o massacre foi efectuado por 100 combatentes do Exército Livre, com uniformes do exército sírio que atacaram os postos de controlo governamentais em torno da cidade Hula, na madrugada do dia 26 de Maio e penetraram em Hula, onde perpetuaram o massacre. O porta-voz do Ministério dos Assuntos Exteriores, Yihad Madisi, culpou os bandos armados pelo massacre, numa condenação veemente.
A oposição aponta o dedo ao exército sírio e às milícias alauitas, os shabiha, afirmando que o exército bombardeou a cidade na véspera, devido às manifestações antigovernamentais que ocuparam as ruas da cidade e que as milícias realizaram os massacres após os bombardeamentos. Os observadores da ONU confirmam os bombardeamentos, pois recolheram amostras das munições e morteiros lançados pela artilharia síria, mas não se manifestaram directamente sobre o massacre, pois limitaram-se á recolha de informações da oposição. A comunidade alauita de Hula está aterrorizada, perante a possibilidade de sofrerem represálias, pois as acusações recaem sobre as suas milícias e lançaram uma campanha de solidariedade com Hula, doando sangue para os hospitais.
A situação síria está num impasse. É um pântano, no sentido literal do termo, onde as forças em colisão se atolaram. Do lado do governo a palavra de ordem é aguentar o mais possível na expectativa de uma solução negociada. Do lado da oposição o Conselho Nacional Sírio é a imagem reflectida do pântano, na expectativa, também, de uma solução negociada. Os bandos armados do Exercito Livre da Síria, por sua vez, encontram-se também eles atolados na espiral de violência que as suas acções geram. Um massacre é algo que pode inverter a situação. Já o vimos acontecer na história recente por diversas vezes, desde Timor ao Iraque, passando pela Jugoslávia e Líbia.
No plano internacional a confirmação do massacre faz aumentar as pressões sobre o estado sírio e aumenta o apoio á sublevação. Muitos estados foram rápidos na condenação e precipitados nas atitudes. A Arábia Saudita fornece grande quantidade de equipamento ao Exercito Livre Sírio e a comprová-lo está a forma como o cessar-fogo foi violado pelos bandos armados (3500 vezes desde que entrou em vigor a 12 de Abril), em ataques cada vez mais organizados e estruturados e onde o poder de fogo é cada vez mais considerável, o que obriga a respostas de maior envergadura militar por parte do governo.
A Liga Árabe fez letra morta da sua própria missão de observação que referia-se á forma como os bandos armados estavam equipados e às suas acções ofensivas. No entanto, é bom não esquecer, que o Exercito Livre é alimentado pela repressão sistemática aos manifestantes que protestam pacificamente. Por outro lado vai ser muito difícil realizar reformas no sistema se não houver gás nas cozinhas, devido às sanções. O plano de Kofi Annan reduziu os apelos á intervenção estrangeira, o que manifestamente não é do agrado dos USA, nem dos estados do Golfo nem da OTAN. Um massacre, devidamente tratado nos media serve, sem qualquer dúvida, para mexer as águas do pântano e criar uma situação (tão ao gosto dos estrategas político-militares do ocidente) de intervenção militar humanitária.
A situação económica Síria, embora difícil não é calamitosa. A agricultura, sector de peso na economia síria, está com uma saúde relativamente boa, graças às chuvas, o turismo não é uma fonte importante para a Síria, ao contrário do Egipto e do Líbano e o petróleo cobriu o resto. Inclusive em Damasco a construção continua e mesmo em cidades sujeitas às pressões dos combates os mercados continuam abastecidos. O Irão (o objectivo final da agressão á Síria), mantém a ajuda económica o que ajuda a reduzir o impacto das sanções.
Mas á medida que o tempo passa, a oportunidade de exploração por parte do Ocidente das atrocidades registadas em Hula, reduz-se e leva inclusive os media a voltarem para trás e a darem o dito por não dito, como aconteceu com a BBC, que foi apanhada a utilizar fotos antigas do Iraque na cobertura dos acontecimentos em Hula. Esta é uma guerra moderna de quarta geração. Na Venezuela, no Afeganistão, na Líbia e na Tailândia, por exemplo, os grupos de agitadores utilizaram o assassinato de elementos das suas fileiras para culpabilizar os governos, criando situações de alta massa critica em termos internacionais. Por isso os acontecimentos de Hula são cruciais.
A tragédia de tudo isto é que os massacres continuam e vão continuar. Têm de ser condenados e não podem ser esquecidos. E quem os comete tem de ser condenado. A tragédia maior é que a História ensina que eles caem no esquecimento depois de cumprido o seu objectivo. Quem se recorda dos acontecimentos da Argélia na década de 1990, em que as unidades da Guarda da Pátria assassinaram indiscriminadamente opositores á FLN? E quem é que refere o que ocorreu nos campos especiais para emigrantes, na Líbia, quando Kadhafi se arvorou em guarda fronteiriço da UE, povoando de emigrantes africanos os campos especiais, para depois os utilizar em milícias de suporte ao seu regime? E dos policias drogados de Mubarak, os baltagi, que assassinavam e espancavam os seus opositores? E quem se recorda quando Israel utilizou os falangistas libaneses nos massacres perpetuados em campos de refugiados no Líbano? E quem se recorda de Rifaat, o tio de Bashar Assad, que comandava as forças especiais sírias que massacraram os revoltosos de Hama, em 1982 e que hoje vive entre Paris e Londres, protegido pela OTAN, que zela pela sua segurança pessoal, para não cair nas mãos dos serviços sírios?
“Será o dia em que o castigo os cobrirá por cima e por baixo dos seus pés; então ser-lhe-ás dito: Sofrei as consequências das vossas acções!” (Alcorão, 29’Surata – Al’Ankabout – versículo 55).
Fontes
Kathy Kelly; In Kabul no one hear the poors; http://truth-out.org
http://www.vcnv.org (Voices for Creative Nonviolence)
Patrick Cockburn; Syria after the massacre; http://www.counterpunch.org
Tony Cartalucci; Atrocidades cometidas a pedido; http://www.Informationclearinghouse.info
Jon Lee Anderson; Los treinta y dos ninos de Hula; http://www.elpurcoespin.com.ar
Robert Fisk; Pronto olvidaremos el nuovo horror en Siria; http://www.jornada.unam.mx
Associeted Press, 30 de Maio de 2012.

Faça seu comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>

Voluntários

Loja Virtual

Em Breve
Close