O Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA), em cooperação com as autoridades locais, está distribuindo assistência alimentar de emergência e vale-alimentação para palestinos que foram afetados pela tempestade de inverno de dezembro. Já a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) mantém uma rede de segurança social destinada a proteger famílias palestinas.
O setor agrícola na Palestina está esperando grandes perdas para a próxima safra, com danos consideráveis previstos na infraestrutura e nas atividades empresariais.
Uma das mais fortes tempestades de neve das últimas décadas atingiu a Palestina este mês, enquanto chuvas torrenciais e inundações forçaram centenas de pessoas a sair de suas casas em busca de refúgio em edifícios públicos.
Wesam e sua família estão entre os atingidos. O morador de Gaza de 35 anos estava em casa com sua esposa e cinco filhos quando fortes chuvas e o esgoto inundaram sua casa. “Minha casa está completamente destruída pelas enchentes. Tivemos que fugir e eu não pude pegar qualquer dinheiro ou roupa extra. Não temos nada agora”, disse Wesam, que se refugia com sua família em um prédio de uma escola.
Wesam e sua família estão entre as 10 mil pessoas que estão em abrigos públicos e que receberam alimentos prontos do PMA após a tempestade. A ração de emergência inclui pacotes de peixe e pão enlatados.
O PMA, em cooperação com o Ministério de Assuntos Sociais (MoSA) da Autoridade Palestina, também chegou a mil pessoas afetadas pela tempestade na Cisjordânia.
A intensa queda de neve resultou em cortes de eletricidade e danos à infraestrutura, deixando um grande número de famílias sem energia elétrica. Além disso, mais de 250 pessoas estão recebendo vale-alimentação, permitindo-lhes a aquisição de produtos alimentares a partir de lojas locais.
À medida que a temperatura está subindo e a neve na Cisjordânia começa a derreter, são esperadas mais inundações. “É uma situação precária. O PMA continua a acompanhar de perto os impactos das condições meteorológicas extremas sobre a situação de segurança alimentar e está preparado para entregar ajuda alimentar adicional”, disse o representante do PMA no país, Pablo Recalde.
A situação da segurança alimentar na Palestina já era alarmante antes da tempestade, com um total de 34% dos lares palestinos — cerca de 1,6 milhão de pessoas — considerados em situação de insegurança alimentar em 2012. O PMA atualmente chega a 648 mil palestinos que precisam de ajuda alimentar todos os meses.
Inverno em Gaza: um equilíbrio delicado
Para Salah Uliyan, um refugiado da Palestina em um acampamento em Gaza, a vida diária é um jogo de números: há uma cuidadosa aritmética a ser pensada cotidianamente.
Ele é o chefe de uma família de oito pessoas — incluindo ele próprio, sua esposa, quatro filhas e dois filhos, que variam de 2 a 17 anos de idade. A casa de propriedade deles — uma sala, um pequen banheiro e uma cozinha — tem 60 metros quadrados.
Além disso, Uliyan é incapaz para o trabalho, devido a uma deficiência de 60% em uma mão — ele chegou a viajar para o Egito duas vezes para tratamento. Uma das filhas, Nasma, sofre de uma doença da glândula e precisa de tratamento no exterior.
A rede de segurança social fornecida pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) é uma parte importante de suas vidas. Uliyan conseguiu comprar algumas roupas, assim como uma máquina de lavar . O Programa de Geração de Emprego da UNRWA também conseguiu três meses de emprego para ele.
Esta equação delicada, no entanto, foi desequilibrada pela dureza do inverno, um desafio inesperado na já difícil situação. Diante não apenas do frio e da falta de energia, mas também das fortes chuvas e inundações, a família de Salah Uliyan entrou em um novo período de incerteza. Embora eles estejam na lista da UNRWA de apoio à reconstrução, não está claro quando isso será possível.
Como em muitas famílias, é a mãe que tem o registro mais clara das contas. “Eu estou tentando fazer face às despesas”, explica ela. “Eu uso o fogo para cozinhar e assar o nosso alimento, o pão, mas a chuva fez com que seja impossível. Não temos outro lugar para o fogo.”
A família teve de recorrer a vizinhos para cozinhar. Isso, no entanto, foi seguido por mais um desafio, quando as inundações em sua casa provocaram um acidente e ela quebrou suas mãos.
A história desta família não é atípica. Para muitos refugiados da Palestina em Gaza, a vida diária se resume aos números — o número de horas que não haverá eletricidade, o número de dias em que seus filhos estão com fome. Com a chegada do inverno, eles são obrigados a recalcular estes números diante de outros desafios que nem eles nem a UNRWA haviam previsto.
Em apenas cinco dias de dezembro, Gaza recebeu cerca de 75% de sua precipitação normal de inverno. Os números falam por si: no auge da tempestade, cerca de 10 mil pessoas foram deslocadas e 1.500 casas foram danificadas ou destruídas. À medida que a água recua, uma nova rodada de cálculos terá de começar.
Fonte: ONU