Dois emissários, um americano e outro nigeriano, viajaram neste domingo a Juba, para tentar evitar uma extensão da guerra civil que ameaça o Sudão do Sul, onde os combates continuam entre o exército e os rebeldes.
Donald Booth, o enviado dos Estados Unidos para o Sudão e o Sudão do Sul, é esperado à noite na capital sul-sudanesa, segundo um funcionário do Ministério das Relações Exteriores, que acrescentou que a Nigéria também enviou um emissário, sem especificar a sua função.
Antes deles, uma delegação de ministros das Relações Exteriores da África Oriental concluiu uma reunião de mediação de três dias encontrando no sábado o presidente sul-sudanês Salva Kiir.
Na sequência, o presidente Kiir prometeu “manter um diálogo sem pré-condições” com o seu rival, o ex-vice-presidente Riek Machar.
No terreno, os combates prosseguem neste domingo, apesar de o comandante-em-chefe do exército sul-sudanês (SPLA), James Hoth Mai, afirmar que seu país ainda não está à beira da guerra civil.
“Não estamos próximos de uma guerra civil. Vamos evita-la a qualquer preço”, disse à AFP no sábado.
Desde 15 de dezembro, o conflito armado entre o ex-vice-presidente Riek Machar e o presidente Salva Kiir tem mergulhado o país mais jovem do mundo em uma crise preocupante.
Na capital Juba, os combates fizeram pelo menos 500 mortos e há dezenas de milhares de pessoas deslocadas em todo o país, segundo uma avaliação parcial.
Os dois rivais, acostumados a uma longa guerra de independência (1983/2005) utilizam combatentes de suas respectivas comunidades, Dinka para Salva Kiir e Nuer de Riek Machar.
O comandante do SPLA também negou os rumores do envolvimento de jovens e crianças no conflito.
Mas ele foi obrigado a reconhecer que o governo “tem dificuldades” em dois estados, no instável Jonglei, no leste, e em Unité.
Os rebeldes ainda controlam Bor, capital de Jonglei, e ameaçam ocupar todo o rico estado petrolífero de Unité.
“Bor ainda é controlado pelas forças de Peter Gadet (aliado de Riek Machar). O SPLA avança, mas ainda não retomou a cidade”, reconheceu neste domingo o porta-voz do exército regular, Philip Aguer.
De acordo com uma autoridade local em Bentiu, capital do estado de Unité, tomada pelos rebeldes, as ruas ainda estão repletas de corpos desde a queda da cidade, causada pela deserção do comandante do SPLA.
“Há centenas de cadáveres que ainda não foram enterrados”, declarou à AFP o oficial, sob condição de anonimato.
O porta-voz do exército confirmou que o “estado de Unité está dividido” entre as forças do SPLA e as de Riek Machar.
“Nós não controlamos Bentiu, nós não sabemos quantas pessoas foram mortas ou feridas”, indicou.
A produção de petróleo é responsável por 95% das receitas do país. E o vizinho Sudão depende dessa produção, da qual deriva receitas significativas em tributos do fluxo de petróleo através do seu território por gasodutos.
As companhias petrolíferas começaram a evacuar o seu pessoal, como a estatal chinesa China National Petroleum Corp (CNPC), após a morte de cinco funcionários do setor.
Isso implica, na melhor das hipóteses, que a produção de petróleo será reduzida.
Centenas de estrangeiros que trabalham neste setor, incluindo chineses e paquistaneses, esperam no aeroporto de Juba na esperança de deixar o país.
Até o momento, as instalações petrolíferas não foram afetadas, e o petróleo continua a ser produzido, de acordo com o representante de Cartum em Juba.
Dezenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas, e muitos têm procurado refúgio em bases da ONU.
“Eu estou com medo. Eu não quero pensar que vou ser forçada a me refugiar novamente”, lamentou Susan Nakiden, uma sul-sudanesa entre milhares de outros deslocados em uma base da ONU em Juba.
Mãe de três filhos, ela afirmou que havia fugido durante a guerra civil que dividiu o Sudão entre o norte e o sul.
Mas as evacuações são difíceis de realizar em zonas de conflito. Assim, aviões americanos, três CV-22 Ospreys, que tentaram no sábado evacuar de Bor seus cidadãos, foram atingido por disparos. Quatro soldados americanos ficaram feridos.
Fonte: DM