Os confrontos entre muçulmanos e católicos na República Centro-Africana (RCA) estão aumentando e podem deteriorar ainda mais a situação humanitária do país, alertou a chefe da agência da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay. Ela pediu que a comunidade internacional ajude a evitar um possível desastre.
“Muitas vezes na história, vimos a manipulação política das diferenças religiosas e étnicas resultarem em violações terríveis e danos em longo prazo para o tecido social de um país”, disse na sexta-feira (20). “Peço aos líderes nacionais e locais da República Centro-Africana para não alimentarem a violência com base na religião”, acrescentou.
Segundo Pillay, o país tem sofrido abusos contra os direitos humanos, incluindo assassinatos, violência sexual, prisões arbitrárias, ataques a hospitais, intimidação e destruição de propriedade.
O conflito na região começou quando o grupo rebelde Séléka lançou ataques contra as forças do governo e obrigou o presidente François Bozizé a fugir em março deste ano. Um governo de transição foi encarregado de restaurar a paz e abrir caminho para eleições democráticas, mas confrontos armados irromperam novamente e o movimento cristão anti-Balaka entrou no conflito.
Ao longo das últimas duas semanas, cristãos e muçulmanos lançaram ataques de represália uns contra os outros em torno da capital Bangui, onde cerca de 210 mil pessoas foram expulsas de suas casas. Aproximadamente 750 mil pessoas ficaram deslocadas no país de 4,6 milhões de pessoas. De acordo com a agência da ONU para os refugiados (ACNUR), 40 mil fugiram para os países vizinhos.
Uma equipe de direitos humanos da ONU recebeu relatos de que grupos anti-Balaka e ex-membros do grupo Séléka estão praticando atos abusivos em várias partes do país. Eles estão implantando o medo e a insegurança nas comunidades e armando parte da população.
Outros incidentes relatados incluem o linchamento de pelo menos 12 muçulmanos em Bangui nos últimos 10 dias, represálias por parte de grupos anti-Balaka, em Bouar, onde pelo menos 18 civis foram massacrados pelos ex-membros do grupo Séléka há dois meses, e numerosas mortes em ataques, represálias e contrarrepresálias em Bohong, a 75 quilômetros de Bouar.
Pillay também destacou os “esforços louváveis” do arcebispo Dieudonne Nzapalainga, do pastor Nicolas Guerékoyamé e do imã Omar Kobina Layama para promover a paz entre as religiões. Ela pediu que os líderes religiosos das comunidades redobrem os esforços para acabar com a violência no país.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU deve atingir mais de 1 milhão de centro-africanos em 2014. A agência está distribuindo comida em hospitais, orfanatos, igrejas e mesquitas, afirmou a porta-voz Elisabeth Byrs.
Ela observou que, até agora, os parceiros do PMA já distribuíram cerca de 506 toneladas de alimentos, incluindo arroz, ervilhas e óleo para mais de 118 mil pessoas em Bangui.
Fonte: ONU