“O ano que se inicia será crítico para a resolução do conflito israelense-palestino. Eu apoio firmemente as atuais negociações e insto as partes a fazerem compromissos corajosos necessários para o fim da ocupação e para se alcançar a solução de dois Estados”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na abertura da reunião.
Além disso, a problemática situação socioeconômica na Faixa de Gaza foi ressaltada por Ban, na sequência dos relatórios internacionais e das denúncias frequentes sobre o bloqueio imposto por Israel ao território desde 2006 e sobre as consequências devastadoras para a população, extremamente empobrecida.
Ban disse que 2014 será um ano decisivo para o apoio aos israelenses e aos palestinos na superação de um status quo arriscado e insustentável. Ele pressionou os líderes dos dois lados a tomarem “decisões ousadas” em prol da paz, nesta que pode ser “a última tentativa de garantir a solução de dois Estados”, de acordo com as declarações divulgadas pela página oficial das Nações Unidas.
O observador permanente do Estado da Palestina para a ONU, Riyad Mansour, ressaltou a luta dos palestinos contra a injustiça, homenageando o aniversário do ativista e líder político norte-americano Martin Luther King. Ele também enfatizou a obrigação do Conselho de Segurança de garantir o cumprimento de suas próprias resoluções, que são a base de uma solução sustentável.
Masour enfatizou a necessidade de abordagem das questões centrais para uma solução justa, como o direito de retorno ou reparação para os refugiados, a questão de Jerusalém, as fronteiras, as colônias, a segurança, os recursos aquíferos e os prisioneiros palestinos.
“Nós temos participado responsavelmente em todos os estágios, rodadas e iniciativas do processo de paz por mais de 20 anos, inclusive nas atuais negociações,” disse Mansour, fazendo a ressalva sobre os desafios extremos, como o anúncio da construção de mais de 7,6 mil unidades de colônias apenas desde julho, além das milhares que já estão em construção em toda a Palestina e a continuidade da construção do extenso muro de segregação, que anexa grandes porções do território palestino.
“A potência ocupante também continua com suas batidas militares quase diárias nas áreas palestinas, perpetuando a face violenta e destrutiva da ocupação”, disse ele, com ênfase também para os ataques dos colonos contra agricultores e pastores palestinos. Além disso, ao menos 4.553 palestinos, inclusive crianças, foram presos ou detidos em 2013, adicionando aos mais de 5.000 palestinos atualmente presos nos cárceres israelenses. E Israel destruiu ao menos 200 casas palestinas no mesmo ano, deslocando forçosamente centenas de pessoas.
“Fazer a paz requer o respeito pelo direito internacional e uma mudança de mentalidade, de comportamento e de discurso, em linha com os objetivos do processo de paz.”
Já o representante israelense, Ron Prosor, disse que Israel está imerso em um “mar de hostilidade”, como uma “ilha de estabilidade e democracia”, enquanto alega a disposição para tomar “passos corajosos” em prol da paz, apesar da comemoração pela libertação de “terroristas”, no fim do ano.
Prosor referiu-se à libertação de três grupos de prisioneiros palestinos, conforme o acordado para a retomada das negociações, e que integram uma lista de 104 palestinos presos ainda antes das negociações de Oslo, no início da década de 1990.
Desde julho de 2013, palestinos e israelenses mantêm uma rodada de negociações prevista para durar nove meses, mas as conversações estão fundamentalmente estagnadas há meses devido, principalmente, à expansão da ocupação israelense sobre os territórios palestinos e à negligência com tópicos fundamentais para uma solução, como a definição das fronteiras, a questão dos refugiados, o estatuto de Jerusalém e a retirada militar e das colônias israelenses em territórios palestinos.
“Eu não subestimo as dificuldades, mas os riscos de inação ou da desistência são muito maiores,” disse Ban, na inauguração de uma jornada intensa de debates sobre o Oriente Médio e, especialmente, sobre a questão palestina.
Apesar de ressaltar o “empenho diplomático” do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que tem promovido as negociações, a proposta avançada pelo chanceler norte-americano, com o foco centrado nas “preocupações securitárias” de Israel e a abordagem geral às “questões centrais” para a solução da disputa, autoridades palestinas têm declarado o seu pessimismo crescente com as negociações, ainda que mantenham-se comprometidas.
A pressão internacional sobre Israel por sua política de ocupação tem sido notória, mas as autoridades israelenses continuam afirmando-se vítimas da política mundial, enquanto, como disse o próprio secretário-geral da ONU, o “estado das coisas” é alimentado e prolongado graças ao apoio incondicional e histórico que o Estado de Israel recebe de grandes aliados como os Estados Unidos e outros governos ocidentais.
Fonte: Vermelho