ONU impedida de alimentar 18 mil refugiados na capital da Síria

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Foto: reprodução

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Já passou mais de uma semana desde a última vez que as equipas das Nações Unidas conseguiram entrar com alimentos e ajuda humanitária no campo de refugiados palestinianos de Yarmuk, localizado em Damasco, capital da Síria. O porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNWRA), Chris Gunness, diz à Renascença que a ausência de apoio humanitário afecta cerca de 18.000 refugiados, que estão isolados do resto do mundo. Chris Gunness, que concedeu uma entrevista à Renascença a partir da sede da UNWRA, em Gaza, afirma que a situação é “desesperada” e que se assemelha a um “cerco”. As Nações Unidas pedem uma acção imediata para aliviar o sofrimento e a fome dos refugiados, já que desde de 18 de Janeiro que não há autorização do governo sírio para furar o cerco. A Síria está em guerra civil há mais de dois anos.

O que é que aconteceu nos últimos meses que tornou a situação ainda mais complicada?
O que aconteceu foi que grupos armados da oposição mudaram-se para o campo e o governo respondeu cercando o acampamento. O acampamento foi muito danificado, os edifícios e infraestruturas civis foram danificados por causa dos combates e o que temos hoje é uma área sitiada. Temos tentado entrar, com muito pouco sucesso. Realizámos três tentativas para levar ajuda desde 18 de Janeiro, que resultaram no envio de 138 cestas básicas. É uma quantidade muito pequena, considerando que uma cesta de alimentos vai alimentar uma família de oito durante cerca de 10 dias e que estamos a tentar obter alimentos para 18.000 pessoas.
Este tipo de dificuldade em enviar ajuda humanitária também acontece nos campos próximos de Yarmouk?
Existem 12 campos de refugiados na Síria e sete deles foram reduzidos a teatros de guerra. Sim, há problemas de segurança extremos, tem havido danos sérios em muitos dos campos de refugiados e, claro, o facto de haver uma guerra civil a decorrer torna o trabalho muito difícil para a UNRWA, que é mandatada pela comunidade internacional para a realização de assistência em saúde, educação, serviços sociais e, obviamente, o trabalho de emergência.
Qual o previsível resultado para esta situação?
Em última instância, só pode haver uma resolução política. Pode certamente facilitar e resolver os problemas humanitários em grande medida, para começarmos a ajudar as pessoas e a dar início ao processo de reconstrução, tentando devolver ao lugar uma sensação de humanidade e estabilidade. Não tenho nenhuma dúvida de que se tem aprofundado o sofrimento dos civis dentro de Yarmouk e as partes envolvidas têm de trabalhar connosco a fim de reduzir e finalmente eliminar esse sofrimento.
O que é que as pessoas no resto do mundo podem fazer para ajudar?
Estar ciente da crise e do enorme sofrimento que está a acontecer é em si um acto de solidariedade humanitária extremamente importante. Em última análise, cabe aos que estão nas conversações de paz de Genebra fazer o que têm a fazer para trazer a paz e a segurança ao que antes era uma parte relativamente pacífica e próspera de uma cidade capital de um Estado-membro da ONU.
Como é que surge a existência de um campo de refugiados palestinianos em Damasco?
É certamente muito confuso que assim seja. Temos de recuar a 1948 e à guerra no Médio Oriente, quando os palestinianos, no que era então a Palestina, se encontraram no meio de uma guerra e tiveram de fugir. Muitos fugiram em direcção a Damasco e, quando chegaram lá, precisavam de espaço. Consequentemente, os campos de refugiados simplesmente apareceram naquele espaço. Agora, porque nunca houve uma solução justa e duradoura para a questão palestina, essas pessoas e os seus descendentes permaneceram nessa área e o acampamento cresceu e cresceu.

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