Depois de uma “tensa mas promissora” encontro na quinta-feira (30) entre representantes do governo sírio e o principal grupo de oposição para chegar a uma solução política para a guerra civil de três anos do país, o mediador da ONU e da Liga Árabe disse que a primeira ronda de conversações terminará nesta sexta-feira (31) sem nenhum avanço sério e nenhuma grande mudança na posição de ambos os lados.
Falando a jornalistas em Genebra, após o que ele descreveu como uma “reunião bastante longa”, onde os dois lados discutiram assuntos “sensíveis” sobre a situação da segurança e do terrorismo na Síria, o representante especial conjunto das Nações Unidas e da Liga dos Estados Árabes, Lakhdar Brahimi, disse que a primeira rodada de negociações seria encerrada depois de um pouco mais de uma semana.
“Amanhã de manhã será a nossa última sessão. Espero que tentemos tirar algumas lições sobre o que fizemos e ver se podemos nos organizar melhor para a próxima sessão. Acho que isso é o suficiente para um começo”, disse Brahimi, expressando a esperança de que, quando as negociações recomeçarem, provavelmente em fevereiro, “sejamos capazes de ter uma discussão mais estruturada”.
Desde que o conflito irrompeu em março de 2011 entre o governo e vários grupos que buscavam a derrubada do presidente Bashar al-Assad, mais de 100 mil pessoas foram mortas e cerca de 9 milhões expulsas de suas casas. Mais de 9,3 milhões de pessoas no país precisam de ajuda humanitária, disse a ONU, com mais de 2,5 milhões deles vivendo em áreas onde o acesso é seriamente limitado ou inexistente.
O objetivo das negociações em andamento na Suíça desde 24 de janeiro é o de obter uma solução política para o conflito sírio através de um acordo global entre os dois lados para a plena implementação do comunicado de Genebra, adotado após a primeira reunião internacional sobre a questão, em 30 de junho de 2012, e desde então aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU.
O comunicado estabelece passos-chave em um processo para acabar com a violência. Entre outros pontos, pede o estabelecimento de um órgão de governo de transição, com plenos poderes executivos e composto por membros do atual governo e da oposição, entre outros grupos, como parte de princípios e diretrizes para uma transição política liderada pelos sírios.
Acesso humanitário: decepção sobre falta de acordo até agora
Embora observando que os dois lados concordaram que “o terrorismo de fato existe na Síria e que é um problema muito sério”, Brahimi disse que não houve acordo sobre a forma de lidar com o tema. No entanto, as delegações rivais concordaram em realizar um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da guerra civil, “não importando a qual [lado] pertençam”.
No geral, Brahimi disse “não ter notado qualquer alteração importante, para ser honesto, em posições dos dois lados”, e expressou profunda decepção de que não houve nenhum movimento para permitir que comboios de ajuda humanitária da ONU entrem em Homs, ou para permitir que os civis deixem a cidade atualmente sitiada e sem acesso a suprimentos essenciais.
“Estou muito, muito desapontado, porque a situação em Homs é ruim e tem sido ruim durante meses, anos até. Esse é o primeiro lugar onde um terrível combate e muito destruição têm ocorrido”, disse ele, embora acrescentando que as negociações sobre o acesso humanitário ainda estão em curso.
Brahimi também informou que as negociações ainda estão em curso em relação ao campo de refugiados de Yarmouk, em Damasco. Nesta quinta-feira (30), alguma ajuda chegou ao campo. “Portanto, ocorreu uma solução parcial em Yarmouk, mas nenhuma solução ainda em Homs”, disse ele.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) já havia confirmado que conseguiu entregar ajuda aos moradores presos em Yarmouk.
De acordo com o porta-voz da UNRWA, Chris Gunness, a Agência distribuiu mais de mil pacotes de comida para os palestinos no campo, o primeiro auxílio desde 21 de janeiro, quando havia distribuído 138 cestas básicas.
“Estamos entusiasmados com a entrega da ajuda e da cooperação das partes no terreno. Esperamos continuar e aumentar substancialmente o montante da ajuda a ser entregue porque o número de pessoas que necessitam de assistência está na casa das dezenas de milhares de pessoas”, disse Gunness, destacando que o número inclui cerca de 18 mil palestinos, entre eles mulheres e crianças.
“Precisamos nos basear no desempenho modesto de hoje. A UNRWA e a comunidade internacional precisam urgentemente de acesso humanitário seguro, substancial e permanente”, disse.
Fonte: ONU