A situação na República Centro-Africana (RCA) é crítica e a comunidade internacional precisa ajudar a restaurar a segurança no país, inclusive fortalecendo os esforços das forças de manutenção da paz, afirmou a chefe da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, na segunda-feira (27).
Estima-se que milhares de pessoas morreram e 2,2 milhões, cerca de metade da população do país, precise de ajuda humanitária. O conflito começou quando rebeldes Séléka, principalmente muçulmanos, atacaram forças do governo em dezembro de 2012. Recentemente, cristãos das milícias anti-Balaka resolveram entrar no combate contra os muçulmanos.
Na semana passada, confrontos em vários bairros de Bangui resultaram em mortes, saques de lojas, casas e mesquitas e forçaram ex-Sélékas e civis muçulmanos a fugir para a cidade de Damara, a cerca de 65 km ao norte da capital.
A centro-africana Amina contou à ONU que estava abrigada dentro de uma mesquita quando os combates começaram. Ela foi cercada por homens armados e levou um tiro na perna. Mesmo ferida, ela conseguiu fugir até um centro de transito em Bossambele, a 170km a noroeste de Bangui, com mais 57 pessoas, incluindo o imã da mesquita atingida, Abdoulaye.
Na quarta-feira (22), temendo a segurança das pessoas em Bossambele, a agência da ONU para os refugiados (ACNUR) e outras agências humanitárias fizeram uma operação para transportar esses 58 centro-africanos para uma mesquita na capital do país.
A situação em Bossambele e a operação para evacuá-los acentuam algumas dificuldades enfrentadas por aqueles que tentam fornecer proteção para os grupos deslocados.
Mesmo em conflito, ONU testemunha relatos de ajuda mútua entre muçulmanos e cristãos
“Estamos enfrentando uma situação complexa de desafios que envolvem essencialmente a necessidade de proteção individual de grupos deslocados que estão sob ameaça direta de grupos armados, mas também da violência individual e de grupos”, disse a vice-representante do ACNUR em Bangui, Tammi Sharpe.
“A evacuação salvou a minha vida e a de minha família”, disse Amina, contando que os grupos armados a perseguiram até o centro de trânsito, acusando-a de ser uma Séléka. Apesar de parte do conflito ter um fundo religioso, ela agradeceu ao pastor cristão que a protegeu dos combates e proporcionou uma travessia segura à Bossambele.
A ajuda mútua entre muçulmanos e cristãos é algo que o ACNUR tem testemunhado regularmente. Essa situação também ocorreu com o imã Abdoulaye, que só conseguiu chegar ao centro de trânsito graças à ajuda de “amigos cristãos”, que escondiam muçulmanos em suas pequenas propriedades.
“A violência sectária alcançou níveis perigosos e, como esse episódio revela, a segurança dessas pessoas ao longo prazo depende do combate à impunidade pelos atos de violência e às raízes desse ódio crescente ao encontrar meios para promover a coexistência pacifica”, disse o diretor internacional de proteção do ACNUR, Volker Türk.
Além da capital, outras cidades sofrem com a violência. Em Bouar, confrontos foram registrados entre ex-Séléka e anti-Balaka nos dias 20 e 21 de janeiro. Vários civis e combatentes ex-Séléka foram mortos. A cidade está deserta e membros anti-Balaka estão ameaçando organizações internacionais que abrigam parentes muçulmanos de sua equipe.
Perto dali, em Baoro, anti-Balakas também atacaram civis muçulmanos no dia 22 de janeiro, matando pelo menos 80 pessoas e ferindo outras centenas. Em torno de 4 mil casas também foram queimadas.
ONU pede segurança para continuar oferecendo ajuda humanitária
Trinta e oito caminhões contendo comida para alimentar 155 mil pessoas durante um mês estão bloqueados entre a fronteira do país com o Camarões desde o dia 6 de janeiro. Primeiramente, não havia nenhum oficial para autorizar a passagem dos caminhões e, agora, os motoristas não querem seguir viagem devido à insegurança do caminho até Bangui.
Na quinta-feira (23), um comboio da Missão Internacional de Suporte para a RCA (MISCA) chegou na fronteira para tentar ajudar os caminhoneiros, informou a porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Elisabeth Byrs.
A agência trabalha com outra alternativa: fazer uma ponte aérea carregando as 3 mil toneladas de alimentos de Douala, Camarões, até a capital Bangui, mas isso iria aumentar substancialmente o custo da operação de emergência no país.
De imediato, o PMA tem priorizado distribuições no acampamento perto do aeroporto de Bangui, que abriga 100 mil pessoas.
Desde o dia 7 de janeiro, a agência já ofereceu rações com cereais, leguminosas e óleo para mais de 40 mil centro-africanos. Outros 25 mil deslocados também receberam rações alimentares este mês em acampamentos menores.
Enquanto isso, os confrontos nos postos de controle ao longo do corredor Beloko-Bangui continuam dificultando o trânsito de caminhões.
Os estoques de cereais estão acabando e, caso os alimentos não cheguem a tempo, os níveis de tensão no acampamento perto do aeroporto podem ficar extremamente altos, complicando ainda mais a situação dos deslocados.
Fonte: ONU