Só 11 milhões, ou 6%, dos 247 milhões de dólares necessários para aliviar a crise humanitária na República Centro-Africana (RCA) foram entregues. O apelo feito pela ONU no mês passado é para ajudar o país onde cerca de 886 mil pessoas foram expulsas de suas casas e estão sem serviços básicos, como alimentos, água, cuidados médicos e abrigo.
“Entendemos as razões que estão sendo dadas, mas não podemos aceitá-las”, disse o diretor da Divisão Operacional do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), John Ging, na quinta-feira (16), observando que os doadores explicaram não ter como atender a todos os apelos humanitários no mundo, que agora totalizam mais 12,9 bilhões de dólares.
Estima-se que milhares de pessoas foram mortas na RCA e que 2,2 milhões, aproximadamente metade da população, precisem de ajuda humanitária. O conflito começou há um ano, quando rebeldes do grupo Séléka, formados principalmente por muçulmanos, lançaram ataques contra o governo. Recentemente, milícias cristãs conhecidas como antiBalaka resolveram contra-atracar.
Ging, que passou cinco dias no país, afirmou que o conflito, ao contrário do que se quer dar a entender, não é entre comunidades. Apesar de algumas pessoas estarem atacando povoados vizinhos em nome de suas próprias comunidades, elas não as representam, afirmou.
“Ambas as comunidades não querem nada mais do que segurança, paz e um ambiente em que elas possam voltar para casa e reconstruir suas vidas. Esta foi a mensagem consistente de todos que conheci”, observou.
O representante do OCHA alertou que os responsáveis pela violência estão tentando transformar o conflito em étnico-religioso, mas que as comunidades estão fazendo o possível para resistir.
” O que temos hoje na RCA é um país em um mapa, um território marcado, mas não temos a infraestrutura de um Estado. Politicamente o país entrou em colapso, as instituições de serviço público [saúde, educação, serviços sociais] entraram em colapso. Isso resulta, em primeira instância, em uma situação muito trágica para a população em termos humanitários”, avaliou, acrescentando que o Exército e a polícia também se desintegraram, aumentando a crise de segurança.
A renúncia do presidente de transição, Michel Djotodia, e do primeiro-ministro, Nicolas Tiangaye, na semana passada é vista por Ging como uma nova oportunidade para os centro-africanos.
Fonte: ONU