Mais de 1.100 civis aproveitaram os três dias de “trégua humanitária” no último fim de semana para deixar a Cidade Velha de Homs, no oeste da Síria.
Funcionários da ONU disseram que o número de pessoas retiradas da cidade – 1.151 na última contagem – foi maior do que o esperado, acrescentando que a evacuação foi o primeiro resultado tangível das negociações de paz, lançadas no início deste mês em Genebra entre os lados em conflito. A evacuação continuou nesta terça-feira.
Das pessoas que deixaram a Cidade Velha de Homs, 336 são homens com idades acima de 55 anos ou abaixo de 15 e estão sendo entrevistados pelas autoridades em uma escola abandonada em Andalus, Homs, que está servindo de abrigo. Alguns estão com suas esposas e filhos – mais de 40 já foram liberados e seguiram para Al Waer, nos arredores de Homs. O ACNUR e seus parceiros estão monitorando a situação.
Enquanto isso, os funcionários da ONU e seus parceiros, juntamente com o Crescente Vermelho Árabe Sírio, fizeram entregas emergenciais de comida e remédios para os civis que ficaram presos na Cidade Velha. Com a fragilidade das negociações, tanto civis quanto trabalhadores humanitários ficaram sob fogo cruzado durante a operação. Dezenas ficaram feridos.
Negociações estão em andamento para estender o cessar-fogo por mais três dias a fim de permitir que trabalhadores da ONU e do Crescente Vermelho Árabe Sírio distribuam ajuda aos civis que ficaram para trás. O esforço veio como uma nova rodada de negociações, iniciada nesta segunda-feira, em Genebra.
“Estamos muito preocupados com a situação humanitária”, disse o Representante do ACNUR na Síria, Tarik Kurdi. “Gostaríamos que todos os civis pudessem sair. Queremos ajudar a salvar a vida do maior número de pessoas possível”, acrescentou o Representante do ACNUR.
“Gostaria de reconhecer a imensa coragem dos voluntários do Crescente Vermelho Árabe Sírio e dos funcionários das Nações Unidas pelo esforço em realizar a evacuação humanitária de civis”, disse em um comunicado o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, António Guterres. “Particularmente, me encoraja a determinação de nosso staff em seguir tentando ajudar aqueles que ainda vivem em situação bastante crítica, sem acesso à assistência emergencial”, disse. “Isto mostra que mesmo na situação mais terrível é possível oferecer um fio de esperança às pessoas em extrema necessidade”.
No último sábado, trabalhadores humanitários foram alvo de fuzis e morteiros. Aproximadamente 83 civis conseguiram escapar da Cidade Velha. No domingo, outros 592 deixaram o local. Alguns correram em direção aos veículos da ONU para se abrigar dos tiros.
Representantes da agência da ONU – incluindo ACNUR, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o Programa Mundial de Alimentos (PMA), além da Organização Internacional para as Migrações (OIM) – juntamente ao Crescente Vermelho Árabe Sírio, levaram os os desabrigados para um centro de acolhimento onde receberam alimentos, remédios e uma pequena quantidade de dinheiro (US$ 135 por pessoa).
Os funcionários da ONU entrevistaram as pessoas que deixaram a Cidade Velha para identificar as necessidades de assistência daqueles que foram deixados para trás. De acordo com os termos da trégua, só podem deixar a cidade os homens idosos (acima de 55 anos), mulheres e crianças. A equipe da ONU relatou que muitas pessoas estão com a saúde debilitada e profundamente traumatizadas.
A Cidade Velha está isolada há 18 meses. Os que conseguiram escapar relatam escassez de comida bastante severa. “Passamos a comer ervas daninhas, depois o que nos restou?”, contou um senhor. “Começamos moendo trigo, coentro e canela. Graças a Deus ainda tínhamos isso para comer. Agora não restou nada. O que deveríamos comer: gatos ou outros animais?”.
No segundo dia da operação realizada durante o fim de semana, os funcionários da ONU e do Crescente Vermelho Árabe Sírio ficaram duas vezes sob o fogo cruzado enquanto tentavam entrar na Cidade Velha, por uma rota previamente acordada, levando produtos de higiene, alimentos, vacinas e medicamentos. Por mais de seis horas, as equipes de emergência e os civis permaneceram como alvos.
Dezenas de pessoas ficaram feridas, incluindo o motorista de um dos caminhões do Crescente Vermelho Árabe Sírio. Mais de 10 pessoas morreram. Centenas de outras pessoas que pretendiam sair foram impedidas por causa da violência. Dois caminhões foram danificados e tiveram que ser deixados na Cidade Velha. Um segundo comboio foi incendiado e dois caminhões inutilizados.
Como resultado, menos da metade da ajuda necessária pode ser entregue. Um oficial sênior da ONU classificou aquele sábado como “Dia do Inferno”. Ainda assim, no dia seguinte os trabalhadores humanitários continuaram a entregar alimentos.
Em toda a Síria, centenas de milhares de pessoas estão sobrevivendo em cidades de difícil acesso. Na última semana o ACNUR iniciou uma série de 13 voos, partindo de Damasco, para entregar suprimentos de inverno e medicamentos a 50 mil civis deslocados no nordeste do país. O primeiro voo incluía centenas de caixas de vacinas, seringas, açúcar e solução salina. O tempo frio e úmido provocou um aumento de doenças respiratórias, como asma e gripe.
Por Andrew Purvis em Beirute, Líbano.
Fonte: ACNUR