ES acolhe 10% dos refugiados sírios no Brasil, diz Polícia Federal

domingo, março 23, 2014

refugiados sírios

Grupo Sírio está no Espírito Santo desde novembro de 2013. Foto: Juirana Nobres / G1ES

Em busca da sobrevivência e para fugir de uma guerra que já dura três anos na Síria, 51 civis já desembarcaram no Espírito Santo desde novembro de 2013 até março de 2014. Eles foram recebidos por uma ONG e têm toda a assistência para recomeçar a vida no Brasil. Segundo a Delegacia de Imigração da Polícia Federal no Espírito Santo, os refugiados sírios que chegaram em terras capixabas representam mais de 10% do total que estão no Brasil.

A República Árabe Síria enfrenta, desde março de 2011, uma guerra civil que já deixou mais de 100 mil mortos, destruiu a infraestrutura do país e gerou uma crise humanitária regional, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões deixaram o país em busca de refúgio em outras nações, aumentando as tensões entre os países vizinhos.

No início, a rebelião localizada na cidade de Daraa tinha um caráter pacífico, com a maioria sunita – que se considera prejudicada pelo governo – e a população em geral reivindicando mais democracia e liberdades individuais, inspirada pelas revoluções da chamada “Primavera Árabe” iniciadas no Egito e na Tunísia. Os manifestantes também acusavam o governo de corrupção e nepotismo.

refugiado sírio

‘Nos apegamos na fé e constantemente lemos a bíblia e aprendemos mais sobre os ensinamentos de Deus”, disse Jhon Aldheam. Foto: Juirana Nobres/ G1ES

O estudante de engenharia mecânica, de 21 anos, Jhon Aldheam, chegou ao Espírito Santo no dia 30 de janeiro de 2014, com os pais e um irmão. Jhon relatou ao G1 que pretende terminar a faculdade no Brasil, e, um dia, voltar para casa. “Em 2013, em Homs, vi vários amigos da faculdade morrerem na minha frente. Cenas que jamais vou esquecer. Eram muitos tiros e, em um determinado momento, a faculdade foi bombardeada. A vila foi abandonada. Eu e outros sobreviventes fomos para Damasco. Mas também tiveram bombardeios e nossa única alternativa foi sair de lá. Nenhum lugar estava seguro”, disse.

Jhon deixou namorada em Damasco e, por esta razão, não está totalmente feliz no Espírito Santo. “Gostaria que ela estivesse aqui, em segurança. A qualquer momento posso ter uma notícia desagradável e isso é o que mais temo. Para aliviar nossos pensamentos, nós sírios, nos apegamos na fé e constantemente lemos a Bíblia e aprendemos mais sobre os ensinamentos de Deus”, comentou.

Como todo jovem, Jhon Aldheam, tenta se divertir. Ele e outros sírios frequentam as praias de Vila Velha para jogar conversa fora e cantar músicas árabes, sempre ao entardecer. “Ainda me surpreendo com as vestimentas das pessoas. O horário da noite é sempre melhor”, disse meio sem jeito o sírio ao ser questionado sobre os biquínis das brasileiras.

refugiados sírios

Eles vão às praias para conversar e cantar músicas
árabes. Foto: Jhon Aldheam / Arquivo Pessoal

Apoio
Quem recebeu os refugiados no Espírito Santo foi a ONG Missão em Apoio a Igreja Sofredora (Mais), que surgiu em 2010 e é ligada à comunidade cristã pelo mundo.

De acordo com o pastor Jonatas Portugal, a primeira ação aconteceu no terremoto do Haiti. “Ajudamos doando água potável, comida, roupas e barracas. Depois desta experiência, fizemos ações emergenciais no Japão, nas Filipinas, no Sudão, no Burundi, no Paquistão e em outros países da Ásia e da Europa oriental”, explicou.

Os civis acolhidos no Espírito Santo são cristãos e foram recomendados por pastores da ONG que atuam na Síria. Segundo o pastor Jonatas, os refugiados chegam primeiro em São Paulo e depois seguem para estados onde a ONG trabalha.

Para receber os refugiados no Espírito Santo, um prédio de três andares, no Centro de Vila Velha, na Grande Vitória, foi alugado. “Eles recebem ajuda para a documentação, cuidados médicos, odontológicos, psicológicos, aulas de português e, para os que querem, estudo da Bíblia. A segunda etapa é a inserção, quando procuramos firmar parcerias com igrejas ou organizações que querem ajudá-los a recomeçar a vida em qualquer lugar do Brasil. No novo estado, nossos apoiadores conseguem trabalho e casa para eles viverem durante um ano até conseguirem caminhar sozinhos”, disse Jonatas.

casa em Homs

Casa de refugiado sírio antes de Homs ser atacada. Foto: Jhon Aldheam / Arquivo Pessoal

Processo
O refúgio é concedido por medo de perseguição e é solicitado por meio da Polícia Federal. Esse tipo de benefício tem regras internacionais bem definidas e é regulado pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). A legislação brasileira prevê que, para um estrangeiro obter refúgio no país, ele precisa comprovar temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. O solicitante também pode alegar generalizada violação de diretos humanos em seu país de origem, como, por exemplo, guerras.

Para assegurar que os pedidos protocolados no órgão tem fundamento, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça, faz pesquisas por meio da imprensa e da internet, além de consultar organizações internacionais, como a ONU, ou algumas universidades com as quais mantém convênio. Essas instituições enviam relatórios ao comitê brasileiro. Uma vez concedido o refúgio, os direitos se estendem a cônjuges, filhos, pais e outros integrantes da família que dependam economicamente do refugiado. Enquanto o pedido não é analisado, o solicitante recebe um protocolo e, de posse desse documento, consegue até trabalhar regularmente no Brasil.

O delegado chefe da Delegacia de Imigração da Polícia Federal no Espírito Santo, Fernando Amorim, disse que os refugiados sírios que chegaram em terras capixabas representam mais de 10% do total que estão no Brasil. “Sabemos da situação que o sírios estão vivendo e tentamos agilizar o possível. Eles são ouvidos e preenchem os dados necessários para serem encaminhados ao Conare. A partir desse momento eles são regulares no Brasil. Mais de 40 sírios refugiados já nos procuraram com a ajuda de integrantes e tradutores da ONG. Eles só falam árabe e muitas vezes isso dificulta a nossa comunicação”, disse Amorim.

Serviço
Polícia Federal – Shopping Praia da Costa em Vila Velha
Telefone: 3041 8120

Fonte: G1


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