O arquiteto japonês Shigeru Ban foi anunciado ontem vencedor do prêmio Pritzker deste ano, equivalente ao prêmio Nobel da arquitetura. A escolha contrariou as expectativas de boa parte dos profissionais da área. Alguns apostavam na vitória de uma mulher, já que desde a criação do prêmio, em 1979, apenas uma foi eleita pelo júri, a iraniana Zaha Hadid em 2004. Outra vertente torcia pela vitória de outra nacionalidade, já que no ano passado o agraciado também era japonês, Toyo Ito.
A terceira e mais complexa razão para essa surpresa em torno do nome de Ban pode ser explicada seu estilo mais austero e simples, que foge completamente da linhagem dos “starchitects”, como são chamados os arquitetos estrelados que projetam mega edifícios nas grandes cidades. Os traços de Ban buscam contemplar os mais carentes, as vítimas de tragédias e guerras, os sem glamour. O arquiteto sempre foi crítico à falta de contribuição social de seus colegas celebridades, afirmando que eles deveriam pensar mais no bem do público e menos em querer eternizar-se pela criação de monumentos mirabolantes.
Ban também já se queixou da falta de esforços dos arquitetos para criar para quem mais precisa. Ele dedicou boa parte de sua carreira desenhando abrigos temporários para refugiados e habitações populares, trabalhos normalmente relegados a segundo plano quando há a oportunidade de projetar para privilegiados. Em 1994, ele inventou uma construção de emergência para ser usada nos campos de refugiados em Ruanda. Foi para Genebra trabalhar para a ONU no desenvolvimento de moradias com tubos de papelão, material semelhantes aos rolos de papel higiênico e papel toalha. No ano seguinte, aplicou a mesma técnica para criar postos de atendimento em Kobe, no Japão, que acabara de ser destruída por um terremoto. Índia, China, Turquia e Haiti foram outros destinos recentes de seus protótipos.
Para muitos, a escolha de Ban foi uma forma de o júri do Pritzker valorizar o lado humanitário da arquitetura e salientar que, mesmo em meio a tantos mega edifícios contemporâneos, as obras transitórias são de enorme importância.
Fonte: Veja