Baixa de soldados aumenta a tensão na Somália

quinta-feira, março 13, 2014

soldados

Soldados do exército da Somália patrulham uma rua em Mogadíscio, no dia 23 de fevereiro. A preocupação aumenta, enquanto centenas de efetivos afastados dessa força protestam contra a medida. Foto: Ahmed Osman/IPS

Os habitantes da capital da Somália temem por sua segurança desde que o exército afastou centenas de soldados, isso porque muitos continuam armados. Chefes militares disseram, em fevereiro, que 1.700 soldados foram “afastados de suas responsabilidades” dentro de uma reestruturação para converter o exército em uma força mais profissional.

O chefe do Exército Nacional Somaliano, general Dahir Jalif Elmi, afirmou que o pessoal que deu baixa não estava capacitado para cumprir suas funções, pois incluía idosos e deficientes, mas acrescentou que o governo cuidaria deles. Porém, pouco depois da baixa, centenas desses homens armados ocuparam as ruas de Mogadíscio, a capital do país, para protestar.

“Liberar um exército de 700 soldados com suas armas na cidade não só é perigoso, como é diretamente irresponsável”, disse à IPS o legislador Ahmed Ahmed. Para ele, os ex-soldados agora são potenciais recrutas da organização islâmica radical Al Shabaab, que assumiu o atentado com carro-bomba, no dia 27 de janeiro, em Mogadíscio, no qual morreram pelo menos uma dezena de pessoas.

Esse grupo está vinculado à rede fundamentalista Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden, capturado e executado em 2011 pelos Estados Unidos. A baixa dos soldados aconteceu justamente quando o governo e a Missão da União Africana na Somália (Amisom) anunciaram planos para lançar uma campanha militar efetiva contra o Al Shabaab.

Barre Farah, militar da reserva, afirmou que a decisão de afastar os soldados era necessária para “modernizar e profissionalizar” essa força, mas tem dúvidas sobre a oportunidade da medida. “Não dá para entender porque o exército agiu nesse momento, e de uma forma que pode colocar em risco a segurança e, possivelmente, dar vantagens ao nosso inimigo”, opinou à IPS, em Mogadíscio.

Farah não descarta que os ex-soldados entrem para a insurgência, como último recurso, complicando a expulsão do Al Shabaab de seus redutos no centro e sul do país. Contudo, desconsiderou informes de que alguns desses já estão se incorporando ao grupo extremista.

Pouco depois da baixa, os moradores da capital, cansados da crescente insegurança e dos ataques contra a cidade, expressaram sua preocupação. “Isso se soma à insegurança na cidade e em outros lugares, porque esses soldados não têm nenhuma fonte de renda, e isso é desestabilizador”, observou à IPS Hawa Ali, morador de Mogadíscio.

Alguns residentes denunciaram que soldados do governo estabeleceram postos de controle ilegais, dentro e fora da capital e ao longo das estradas que ligam a cidade com o sul e o centro do país, para exigir dinheiro da população. Muitos temem que os que foram afastados agora comecem a fazer o mesmo. Mohammad Ugaas, professor em Mogadíscio, afirmou que não desarmar os ex-soldados é uma “receita para o desastre”.

O exército mantém total silêncio sobre as armas e não está claro o motivo de permitir que o pessoal afastado as conservasse. Porém, um oficial afastado disse que, embora a maioria dos soldados ainda tenha sua arma, não são uma ameaça para a capital. Nenhum dos 700 se uniu aos insurgentes, assegurou.

“Estamos indignados pelo modo como fomos tratados, mas isso nunca fez com que nenhum de nós pensasse na possibilidade de se unir a uma organização terrorista que combatemos durante anos. Isso é impossível”, declarou Farah à IPS. Também afirmou esperar uma intervenção da comunidade internacional que os ajude a se integrar à vida civil para a qual não estão preparados.

“É preciso que aqueles que não podem trabalhar devido à idade ou por deficiência recebam uma pensão decente e cuidados. E os que estão dispostos e em condições de trabalhar sejam capacitados para conseguir um trabalho civil ou apoio financeiro para iniciar um negócio”, pontuou o ex-oficial.

O comandante Yasin Javlani assegurou que o governo cuidará dos soldados afastados e que logo será criada uma nova agência para facilitar esse processo. “Você não esperará que o exército simplesmente afaste soldados ao acaso e não tenha um plano para cuidar deles. Esse não é o caso, e nunca será. Estamos modernizando nosso exército para servir melhor ao país”, ressaltou à IPS. Porém, não respondeu à acusação de que o exército não desarmou os soldados, e se limitou a informar que haverá uma investigação a respeito.

Fonte: IPS


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