A República Democrática do Congo (RDC) está em meio a uma emergência. Por duas décadas, o conflito persistente nas províncias do leste do país e a instabilidade em outras regiões, além do sistema de saúde disfuncional, causaram crises humanitárias recorrentes e surtos de doenças.
Em relatório divulgado hoje, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) utiliza informações médicas e testemunhos de pacientes e profissionais para expor a verdadeira dimensão da emergência vivida todos os dias pela população da RDC, principalmente nas províncias do leste, afetadas por confrontos armados, onde MSF atua. A organização pede ação imediata para acabar com o sofrimento persistente da população.
Em “Emergência diária: o sofrimento silencioso na República Democrática do Congo” (“Everyday Emergency: Silent Suffering in Democratic Republic of Congo”, em inglês), MSF conclui que muitas das pessoas que precisam de assistência humanitária no país não têm acesso a ela. Muitas comunidades são desprovidas de cuidados médicos devido à infraestrutura precária, aos deslocamentos e à violência, e a assistência adequada não está sendo oferecida por organizações de ajuda e pelo Estado em regiões rurais e afetadas por conflitos. Além disso, a violência contra civis, equipes médicas e propriedades é comum e os provedores de cuidados de saúde são, frequentemente, levados e suspender operações, privando as pessoas de cuidados médicos extremamente necessários.
MSF também evidencia no documento que muitas pessoas vulneráveis nas províncias do leste do país, afetadas pela violência, são excluídas do acesso a cuidados de saúde por um sistema de recuperação dos custos implementado por estruturas de saúde oficiais e organizações não governamentais. Embora o sistema nacional de saúde garanta, na teoria, cuidados gratuitos em situações de emergência, as pessoas ainda são obrigadas a pagar, apesar de viverem em zonas de guerra.
“Infraestrutura e sistema de saúde em mal funcionamento, conflitos em andamento e falta de respeito com agentes de saúde e humanitários, um sistema de recuperação de custos profundamente arraigado que faz com que os pacientes paguem por cuidados de saúde mesmo que em situações de crise. Todos esses fatores têm tido um efeito catastrófico na saúde das pessoas no leste da RDC”, afirma Annemarie Loof, gerente operacional de MSF.
Quanto as 2,96 milhões de pessoas que estão atualmente deslocadas na RDC – principalmente o grande número de deslocados escondidos que vivem com famílias que os abrigam ou mesmo na mata – a situação é terrível. Essas pessoas recebem de pouca a nenhuma assistência humanitária e, quando recebem, é de forma irregular. Enquanto isso, há uma pressão constante sobre os provedores de ajuda para canalizar a assistência a determinadas zonas “libertas”, com o propósito de estabilizar regiões afetadas pelo conflito e fortalecer a autoridade do governo.
“Surtos de doenças como sarampo, malária e cólera ocorrem ano após ano no leste da RDC. Ainda assim, o sistema de saúde é, na maioria dos casos, incapaz de prevenir ou responder a eles”, afirma o Dr. Jatinder Singh, coordenador médico de MSF na RDC. “Como consequência, muitas pessoas sofrem e morrem e a tragédia maior é que muito desse sofrimento humano poderia ser evitado.”
Ações imediatas precisam ser colocadas em prática para pôr um fim a esse sofrimento prolongado. MSF pede que grupos armados respeitem civis, instalações médicas e humanitárias, e que haja melhor provisão de ajuda humanitária, baseada unicamente nas necessidades das pessoas, ao invés de sua localização ou qualquer tipo de agenda política. A organização pede a remoção de barreiras financeiras para os cuidados de saúde voltados para as pessoas vulneráveis em regiões afetadas por conflitos no leste da RDC e melhores sistemas de prevenção e de resposta a doenças epidêmicas.
Fonte: MSF