“Morrer na Síria teria sido melhor do que estar aqui”, diz refugiado sírio no Líbano

sábado, março 29, 2014

refugiados sírios

Refugiados sírios vivem em condições precárias no Líbano. Foto: Reuters

As reclamações são sempre as mesmas entre os residentes de um assentamento informal para refugiados, em Bebnine, no norte do Líbano: não há dinheiro, nem trabalho, a comida é pouca e as condições de higiene deixam muito a desejar. Recentemente, mais um item foi adicionado à lista: as organizações que deveriam resolver tais problemas não ajudam em nada.

De acordo com o site The Huffington Post, as 50 famílias que conseguiram escapar da Guerra Civil na Síria e se estabeleceram na no norte do Líbano contam que as ONGs vão ao local uma vez por mês (ou às vezes uma vez a cada dois meses) para anotar nomes e prometer que a ajuda já está a caminho.

Algumas também deixam objetos que não têm muita utilidade, como colchões de espuma e tabletes de iodo para purificar a água. Outras oferecem serviços como aulas de inglês, algo que está longe de ser prioridade entre famílias que lutam para conseguir se alimentar. Segundo os residentes sírios, depois que os membros das ONGs vão embora nunca mais se tem notícia deles ou de alguma ajuda a mais.

Jalal Ahmad, o líder informal do campo, diz que nada faz sentido. Em sua barraca, os únicos sinais destas visitas são o fogão e uma pilha de folhetos de diversas ONGs diferentes.

Atualmente, há cerca de 1 milhão de refugiados sírios no Líbano, o que aumentou em 25% a população do país e extrapolou a capacidade de trabalho das ONGs. Em Akkar, região onde o campo de Bebnine está localizado, há cerca de 200 assentamentos.

Os grupos de ajuda dizem que receberam em 2014 cerca de 240 milhões de dólares, mas isso corresponderia a apenas 14% do que seria preciso para suprir as necessidades básicas dos sírios, segundo o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Bathoul Ahmed, porta-voz do ACNUR em Tripoli, admite que o enorme aumento do número de refugiados no país vai além das capacidades de ajuda. A organização precisa visitar todos os campos e determinar quais são as necessidades dos residentes, mas a falta de tempo e o excesso de trabalho faz com que muitos sejam acidentalmente esquecidos.

Os refugiados acreditam que a situação está desse jeito devido a motivos muito mais obscuros, ainda que não haja provas para tal. Eles insistem que as ONGs embolsam a maioria do dinheiro que lhes é enviado, comprando carros em vez de suprimentos. E acrescentam que as pessoas participam dos grupos de ajuda apenas para ter status.

Alguns campos de refugiados no Líbano são relativamente limpos e organizados, mas a situação em Bebnine é péssima. Ratos e cobras estão por toda a parte, e as tendas são construídas em cima da terra com materiais doados ocasionalmente pelos grupos de ajuda. Segundo Khaled, um residente que não quis dizer seu sobrenome, a única fonte de água é um cano aberto atrás de uma construção próxima. Os refugiados dizem que a água é poluída e já causou doenças como brotoejas em crianças e pedras nos rins.

Ainda que os grupos de ajuda venham, os refugiados também precisam lidar com problemas que vão além das necessidades básicas. Eles montaram suas tendas em uma área de terra não produtiva cujo dono é Muhammad Murabi, um empresário membro de uma família importante em Bebnine.

Murabi cobra uma taxa por mês pelo uso da terra: 50 mil libras libanesas (cerca de R$74) pelo direito de armar uma barraca. É um preço considerado justo nos parâmetros dos donos de terras ocupadas por refugiados, mas pesado para famílias que não conseguem arranjar trabalho. A maioria dos residentes conta com empréstimos dos vizinhos libaneses e esperam poder pagar um dia.

Murabi diz que não tira proveito dos refugiados. Ele acredita que os sírios são seus irmãos e compartilha de sua raiva em relação às ONGs, zombando dos grupos de ajuda que visitam o campo: “Tire uma foto de mim! Eu ajudei as crianças!”. E acrescenta em uma voz sarcástica: “faça uma foto, filme, e depois vá embora sem ajudar em nada!”. Ele costuma levar ao assentamento aquilo de que os residentes tanto precisam: comida, dinheiro, material de primeiros socorros e produtos de higiene pessoal.

Porém, Ahmad diz que, recentemente, um grupo de ajuda irlandês chamado Concern Worldwide quis contruir banheiros no campo, mas Murabi não permitiu. O dono do terreno confirma a informação e explica seus motivos: o esgoto teria corrido para as terras vizinhas ao assentamento, que também são suas, e as inutilizado. O Concern Worldwide também teria pedido que ele pagasse pelos custos de limpeza semanais dos banheiros. Para Murabi, já há muito prejuízo em alugar a terra para os refugiados, e ele não queria gastar ainda mais dinheiro.

Na Síria, antes da guerra, Ahmad era um importante gestor de projetos em um escritório de engenharia. Ele tem raiva da situação em que vive, mas está resignado: descreve os problemas com ar de quem já contou a história várias vezes. Porém, de repente, admite: “eu preferia ter morrido na Síria a estar aqui”. Em seguida, ele volta ao trabalho.

Fonte: R7


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