Foto: Aurelie Baumel/MSF
As primeiras chuvas torrenciais da estação deixaram grande parte do campo de Tomping, na capital do país, Juba, debaixo d´água, dificultando ainda mais as já inaceitáveis condições de vida para mais de 25 mil pessoas abrigadas ali. Na última semana, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) se viu obrigada a interromper temporariamente as atividades médicas em suas clínicas por conta das inundações.
A água parada, a grave superlotação, a drenagem inadequada e o número reduzido de latrinas funcionais acabam criando condições ideais para a proliferação de doenças diarreicas e infecções de pele. Essa situação é particularmente preocupante, pois a estação das chuvas ainda não começou oficialmente. A equipe de MSF já tratava um grande número de casos de diarreia, malária e infecções respiratórias, doenças que só surgiriam com a chegada das chuvas.
“Essas fortes chuvas são apenas uma amostra do que está por vir”, diz Carolina Lopez, coordenadora de emergência de MSF. “A época das chuvas de verdade terá início em breve, e vem sempre acompanhada de um grande aumento nos casos de malária. Isso, somado às precárias condições de vida no campo, torna evidente que o risco de surtos da doença é alto. As condições sanitárias no campo devem ser melhoradas urgentemente para prevenir uma situação desastrosa.”
Mais de 25 mil pessoas buscaram refúgio nos complexos da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) situados em Juba, após o início do confronto entre o governo e as forças de oposição por todo o país em dezembro.
A chuva inundou aproximadamente 20% da área reservada para as pessoas deslocadas, deixando parte de seus abrigos improvisados debaixo d´água e destruindo seus poucos pertences.
“Eu vivia do outro lado da estrada, uma das áreas que está completamente debaixo d´água hoje”, diz um jovem deslocado. “Eu perdi meu abrigo. As únicas coisas que consegui guardar cabem em minha bolsa. Fico me perguntando onde vou dormir à noite.”
O dilúvio também destruiu aproximadamente 150 latrinas, um problema sério, visto que o número de estruturas existentes já estava bem abaixo do necessário no campo. Uma área que fora identificada para a construção de novas instalações sanitárias foi ocupada por pessoas que se deslocaram das áreas alagadas do acampamento em busca de um terreno seco. As pessoas também se realocaram pelas estradas, causando graves congestionamentos e restringindo o tráfego de veículos.
“O maior problema é a falta de espaço, que piorou com as recentes inundações”, diz Carolina. “As pessoas são forçadas a viver umas sobre as outras, em condições extremamente limitadas e insalubres.”
A superlotação e a inundação impediram também que organizações oferecessem a assistência necessária. A clínica administrada por MSF no campo de Tomping ficou parcialmente inundada na quinta-feira passada. “A equipe passou mais de duas horas limpando a clínica antes de começar a trabalhar”, acrescenta Carolina. “Por volta do meio-dia, a chuva incessante nos forçou a interromper as consultas por algumas horas, deixando centenas de pessoas sem cuidados médicos naquele dia. Desde então, temos adaptado a configuração da clínica e drenamos a área inundada para lidar com as próximas, e inevitáveis, chuvas.”
MSF oferece assistência médico-humanitária no Sudão do Sul há mais de 30 anos. Após o início dos confrontos em Juba, em 15 de dezembro de 2013, e depois em vários outros estados, MSF ampliou sua capacidade para responder rapidamente às necessidade médicas de emergência no país. Atualmente, equipes da organização atuam em vinte projetos, em nove dos dez estados do Sudão do Sul, oferecendo cuidados de saúde básica, cirurgia e vacinação, assim como água potável para as pessoas que deixaram suas casas.