Entre pobreza e fome, o centro de refugiados na Gorongosa, Sofala, centro de Moçambique, continua a receber residentes, que fogem aos recentes confrontos militares entre o exército e homens armados, ligados à Renamo.
Miquilina Baliquinha, não se lembra da sua idade, mas gravou na memória recente as duas noites de chuva, no inverno, passados na mata, enquanto vagueava pela savana, para fugir aos ataques militares na última terça-feira.
“Pernoitei duas noites no mato até que fui achada por militares governamentais que me encaminharam para o centro de refugiados”, disse à Lusa Miquilina Baliquinha, tremula e pálida, recém-chegada ao centro de refugiados, sem saber do paradeiro dos dois filhos com quem vivia.
Centenas de tendas militares foram erguidas num bairro de Gorongosa, para acolher mais de seis mil refugiados na sequência do conflito político-militar que opõe, há um ano, o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição em Moçambique.
Sem um sistema de saneamento adequado, água ou uma estrutura oficial de apoio a refugiados de guerra, a população enfrenta novos problemas de subsistência.
“Sai da minha zona em Tambalale devido a guerra. Para sobreviver neste centro devo buscar lenha para vender, pois falta comida para alimentar a minha família”, contou à Lusa Tiago Augusto, 31 anos, com cinco filhos e duas esposas.
Em declarações à Lusa, Nhurussi Almoço, 35 anos e oito filhos, diz que não pretende regressar, para já, à zona de conflito, com receio de morrer.
Muitos dos refugiados optam por rezar pela paz numa capena improvisada, debaixo de mangueiras, que concentra fiéis aos domingos.
Fonte: Açores 9