Minas sempre recebeu bem os estrangeiros e não será agora, com a Síria ensanguentada por três anos de disputa pelo poder, que os mineiros serão menos solidários. A iniciativa do padre George Rateb Massis, pároco da igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte, que possibilitou a vinda de 16 refugiados, merece apoio.
Também nascido na Síria, onde foi ordenado sacerdote, o padre afirmou em entrevista ao Hoje em Dia que existem interesses maiores de outros países que impedem que o conflito em seu país acabe. Não é correto, segundo ele, chamá-la de guerra civil nem mesmo classificá-la como disputa entre cristãos e muçulmanos.
Padre George talvez enfrente contestações em sua interpretação sobre as causas de um conflito que se arrasta desde 2011 e que matou mais de 100 mil sírios, obrigando outros 2,3 milhões a buscarem refúgio em outros países.
O que mais surpreende, na reportagem publicada nesta segunda-feira (28), é que apenas 651 sírios tenham procurado o Brasil, no ano passado, em busca de refúgio. E que no ano anterior o governo tenha concedido abrigo a menos de duas centenas, entre milhões que fogem da violência na Síria.
Ou não será tão surpreendente assim, tendo em vista o número de assassinatos no Brasil? É possível que sejamos hoje tão violentos, aos olhos dos sírios, do que seu próprio país e, devido a isso, não nos procurem. Ousados, esses 16 jovens, com idades entre 19 e 24 anos, que escolheram se refugiar em Belo Horizonte. Até agora, não têm razões para arrependimento. Nenhum foi assaltado ou atropelado por veículos nas ruas da cidade. Depois de viver tanto tempo ameaçados por bombas e fugindo de alistamentos compulsórios para combater contra ou a favor do governo de Bashar al-Assad, eles se sentem em paz em Belo Horizonte.
Que assim seja! Que a paz esteja com eles, aqui. Na Síria, são desesperadoras as perspectivas de uma solução rápida para o conflito. Nesta segunda-feira, Bashar al-Assad oficializou sua candidatura para as próximas eleições presidenciais. Outros seis candidatos já se inscreveram, mas poucos duvidam da vitória do atual presidente, que está no cargo desde 10 de junho de 2000, depois da morte do pai.
É possível que os Estados Unidos tenham tanto interesse na derrota de al-Assad quanto os opositores armados de seu governo. Ao contrário da Rússia, que apoia o regime sírio. Seriam esses os interesses maiores de que fala o padre George, há 10 anos no Brasil. Em julho de 2012, uma semana após a Arquidiocese de Belo Horizonte ter lançado uma campanha em prol da Síria, por tempo indeterminado, ele voltou à sua terra, para um mês de visita, levando a primeira ajuda dada pelos fiéis, para a compra de comida e remédio.
Essa ajuda deve continuar e também a boa receptividade aos sírios. Minas é que mais vai ganhar com isso.
Fonte: Hoje em Dia