Nesta quarta-feira (9 de abril), o rei Abdullah II da Jordânia visitou o Presidente russo, Vladimir Putin, a fim de discutir “soluções pacíficas para a crise [síria]”. A esse respeito, o Governo jordaniano está particularmente preocupado, devido à proximidade entre Amman e Damasco, com o impacto causado por refugiados sírios, que vêm debilitando as capacidades financeiras e de infra-estrutura da Jordânia.
O país, que vem recebendo refugiados desde o início do conflito sírio, em março de 2011, conta agora com cerca de 590 mil refugiados registrados pelo ACNUR, o “Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados”. Aproximadamente dois terços deles residem em áreas urbanas, enquanto o um terço restante é abrigado em campos de refugiados[5].
Com 106 mil registrados pelo ACNUR e estimativas de acomodar mais de 130 mil, o “Campo de Zaatari” é o segundo maior campo de refugiados do mundo (atrás apenas do de Dadaab, no Quênia), o maior do “Oriente Médio” e se tornou a quarta maior cidade da Jordânia. Iniciado como medida provisória para receber algumas famílias sírias, o Campo agora começa a se parecer mais com uma comunidade estabelecida: é dividido em 12 setores com comitês administrativos próprios; a maioria dos refugiados vive em containers, e não em tendas; e conta com uma delegacia de polícia própria.
No último sábado (5 de abril), um protesto iniciado dentro do Campo levou à hospitalização de três refugiados sírios com ferimentos de bala, dos quais um veio a falecer, e deixou 28 policiais jordanianos feridos. Nove tendas e cinco containers foram queimados durante a manifestação.
De acordo com o ACNUR, o incidente começou porque um veículo que saía do campo foi parado pelos guardas, os quais descobriram que o motorista tentava tirar uma família do Campo clandestinamente. Após o motorista e a família serem detidos, notícias do ocorrido se espalharam e logo centenas – possivelmente milhares – de refugiados se reuniram e começaram a atirar pedras nos guardas, que chamaram reforços e, então, dispersaram a multidão com gás lacrimogêneo. Diferentemente, residentes do Campo afirmaram que os confrontos violentos ocorreram porque um policial jordaniano teria atropelado uma criança.
De toda forma, como afirmou um refugiado não identificado, “Nós somos sempre tratados de forma injusta, nós escapamos de uma injustiça [na Síria] para outra injustiça”. De fato, muitos sírios preferem não viver no campo de Zaatari, que rapidamente ganhou má reputação pelas condições de vida severas e desregradas.
As mesmas condições que constituem um “pesadelo logístico” para o Governo jordaniano evidenciam a severidade que intensifica o descontentamento da população refugiada: a manutenção do “Campo de Zaatari” impõe um custo meio milhão de dólares por dia (“com meio milhão de pedaços de pão e 4,2 milhões de litros de água distribuídos diariamente”) e grandes desafios em termos de saneamento, com adoecimento de milhares. Além disso, o estrito controle de acesso ao Campo intensifica as tensões dentro dele, posto que deixá-lo requer aprovação jordaniana, como evidenciado pelo caso que deu origem ao protesto.
Esse controle comprova outro lado da preocupação do “Governo da Jordânia” em relação a refugiados: existe não apenas seu impacto na economia e infraestrutura, mas também na segurança do país. Poucos dias após o incidentemente de sábado, o Governo anunciou ter suspeitas da existência de grupos dentro do Campo que visam criar o caos entre os refugiados, operando de acordo com os interesses do Regime sírio. Uma fonte da área de segurança afirmou que autoridades apreenderam um dispositivo explosivo em Zaatari e o desativaram.
O maior “Campo de Refugiados” do “Oriente Médio”, que normalmente tem de lidar com tensões e dificuldades comuns a contextos de emergências humanitárias, passa nesse momento por uma inspeção de segurança abrangente em busca daqueles envolvidos na manifestação. Autoridades afirmam que “armas foram contrabandeadas para dentro de áreas de refugiados”
Fonte: CEIRI