As crianças palestinas se utilizam da arte como forma de resistência simbólica em face de uma realidade massacrante.
Se expressando por imagens, por desenhos, estas crianças ecoam o conflito vivido naquela região não de modo sutil, mas de modo visceral, brutal. E este aspecto impacta por fazer perceber as angustias emergidas em imagens com cores tão fortemente vibrantes e que mostram situações desoladoras. O olhar das crianças com infâncias devastadas e refletidas nos desenhos evidenciam a opressão feita pelo exército de Israel e seus aliados.
A linguagem evocada por estes pequenos palestinos é a única que consegue carregar todo o sofrimento que transpassa gerações de modo tão singelo e pungente. Mas a percepção infantil, de modo geral, é permeada de silêncios, no sentido destes pequeninhos serem invisíveis, ou seja, suas dores serem subjugadas diante da dimensão de tais impasses. E isto ‘’valida’’ ainda mais a difusão de tais microcosmos; os silêncios dando lugar a esbravejos retumbantes. Os gritos que ensurdecem qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade acerca da situação mais complexa e insolúvel do oriente. Acolher estes desesperos e refletir sobre as perspectivas tão cruas das crianças, mesmo sabendo de tais verdades, é se abrir para uma consciência militante no tocante às discussões, debates pertinentes para responder o afeto (em sentido amplo) proporcionado pelo apelo de socorro das crianças palestinas, corrompidas pelos golpes duros que os meandros da arquitetura da violência geram.
É sabido do estrondo do confronto Israel-Palestina (judeus-árabes) que assola o contexto internacional desde tempos remotos. A sinuosidade do conflito se ergue atualmente pela ‘’encurralada’’ de Israel ao povo palestino de Gaza; deixando palestinos refugiados, em situações precárias, e com forte cerco acerca de qualquer bravura fora dos limites impostos (como consequência, por vezes, de prisões indevidas, com aspecto arbitrário; senão forem mortos). O poderio de Israel, pós-segunda guerra, se estabeleceu agressivamente. E com uma conjuntura econômica e territorial frutífera, os aliados de Israel se fincam pelos interesses político-econômicos, como os Estados Unidos. A ajuda bélica que Israel recebe para dominar o povo palestino que se enfraqueceram, dentre outros aspectos, pela luta interna de grupos radicais, é assustadora. E o que as crianças palestinas ressoaram no papel é a sintetização destas conjecturas subjugadoras.
O fato que embalou estes desenhos e fez com que tivessem uma repercussão forte, foi o cancelamento da exposição destas imagens. Assim, faz-se necessário expor as prerrogativas para tal ato de censura: A Aliança do Oriente Médio para a Infância (MECA), em 2012, associou-se ao Museu de Arte para Crianças em Oakland (MOCHA), nos EUA, para uma exposição da perspectiva infantil da situação do povo palestino materializado em desenhos. Mas pela imposição de organizações Pró- Israel (em São Francisco), o responsável pela diretoria do museu decidiu recuar, pois mostrar os atos violentos exercidos também pelos EUA é impactante demais para parte dos norte-americanos suporta, já que tem como atenuante das atitudes os traços assombrosos das crianças palestinas.
Dentre outras consequências evitáveis com a censura está a não emersão de desenhos feitos por crianças do Afeganistão e Iraque. A diretora do MECA, Barbara Lupin, não ficou calada ante tal grau de cerceamento, pronunciando-se de forma provocativa: “Mas quem ganha com isso? (…) nossa liberdade perde, as crianças de Gaza perdem. Os únicos ganhadores aqui são os que gastam milhões de dólares para censurar toda crítica a Israel e o silenciamento das vozes das crianças que vivem todos os dias sob o cerco militar e com a ocupação”,
Os desenhos, desta forma, se articulam numa torturante expressividade, pois como a realidade é inaudita, o único meio de se tanger o que se vive é pela arte.
Fonte: OBVIUS