Após mais de três anos de conflitos, começam a surgir sinais de que governo está ganhando
ANNE BARNARD - THE NEW YORK TIMES
Conforme forças de segurança dominam os últimos redutos insurgentes ao longo da fronteira com o Líbano, liberando o corredor estratégico de Damasco até a costa, região natal do presidente Bashar al-Assad, a mensagem é clara: o governo está vencendo, e pode se dar ao luxo de ser magnânimo. Ele está oferecendo o que chama de reconciliação a adversários arrependidos, e alguns estão aceitando.
Mas a relativa tranquilidade pode ser enganosa. Abaixo de uma calma imposta por forças militares, cercos e fome, o palco parece montado para um período instável de conflitos prolongados que podem voltar a explodir em alguns meses ou anos. Ressentimento e desconfiança estão por todos os lados. O país continua dividido entre áreas do governo e o norte controlado pelos insurgentes. Na capital, a movimentação parece reprimida, e não diminuída.
Mesmo reafirmando o controle no centro crucial do país e aplicando o cessar-fogo em bairros problemáticos de Damasco, o governo não solucionou um dos agravos políticos que continuam rasgando o tecido nacional. Seus opositores, armados e desarmados, estão recuando e aceitando a derrota em algumas regiões – por enquanto. Porém, muitos dizem não ter desistido, e estariam apenas reavaliando seus planos e objetivos com um olho no futuro.
Dezenas de entrevistados em áreas controladas pelo governo – tanto aliados quanto adversários do governo – duvidam das garantias oficiais de que a vida está voltando ao normal. Entre os 9 milhões expulsos de suas casas, muitos permanecem sem saber quando (e se) poderão voltar.
No coração da capital, mesmo por trás de portões de segurança recém-pintados com a bandeira síria oficial, os opositores do governo dizem estar simplesmente mantendo as cabeças baixas. Poucos refugiados confiam nas promessas de um retorno seguro a regiões antes rebeldes. Alguns prometem continuar a luta de forma pacífica, outros afirmam que os combatentes estão desistindo por falta de armas, ou para poupar suas cidades de mais destruição e fome – mas geralmente não por mudanças de opinião.
“Agora não existe sentido”, explicou um dono de loja que, como muitos outros, pediu para não ser identificado. “Mas estou certo de que há milhares de jovens que estão apenas esperando por sua chance de lutar”.
As autoridades insistem que os sírios logo voltarão a viver tranquilamente juntos, e muitos em todos os lados esperam exatamente isso. Mas as queixas sobre repressão, corrupção e desigualdade que desencadearam protestos em 2011 continuam sem solução. Assim como os ressentimentos que cresceram exponencialmente durante uma guerra que matou 150 mil pessoas.
“Eles precisam admitir seus erros e pedir desculpas ao povo sírio. Não existirá uma solução política sem a justiça de transição.” Empresário de Damasco que pediu para não ser identificado
Fonte: O Tempo