Angelina Jolie: “Acredito no mal porque vi o mal”

sexta-feira, junho 6, 2014

A atriz está em “Malévola”, uma versão moderna do conto de fadas “A Bela Adormecida”. Na vida real, ela diz ter conhecido a maldade ao viajar como comissária da ONU

RETORNO Angelina Jolie em 2011. Ela volta às telas depois da militância e da cirurgia (Foto: Sofia Sanchez e Mauro Mongiello/Trunk Archive)

RETORNO
Angelina Jolie em 2011. Ela volta às telas depois da militância
e da cirurgia (Foto: Sofia Sanchez e Mauro Mongiello/Trunk Archive)

“Nunca pensei que faria um filme da Disney”, diz a atriz americana Angelina Jolie, de 38 anos. “Na verdade, nunca fiz um filme a que meus filhos pudessem assistir. Jamais me oferecem esse tipo de papel.” É um belo dia de fim de primavera em Los Angeles, com sol, 22 graus, nuvens e flores por todo lado. Angelina pouco ou nada vê de tudo isso. Desde a manhã, está trancada num hotel de luxo em Beverly Hills, recebendo a imprensa na habitual maratona promocional de lançamento de um filme. No caso, sua estreia como habitante do mundo Disney: Malévola, uma releitura da história da Bela Adormecida. O filme toma emprestada uma ideia do bem-sucedido musical da Broadway: Wicked.

O roteiro do filme, como do musical, explora o passado de uma vilã, a Malévola do título, para explicar suas ações e recolocá-la como, na pior das hipóteses, uma heroína incompreendida e digna de redenção. Usando lentes de contato especiais e próteses de silicone e gel no nariz, nas orelhas e na face – mais um par de chifres de poliuretano, presos à cabeça com uma touca especial e uma série de ímãs –, Angelina cria uma Malévola  plausível dentro do mito reinventado pelo roteiro da veterana Linda Woolverton (A Bela e a FeraO Rei Leão,Mulan). O diretor do filme é Robert Stromberg, supervisor de efeitos especiais de Piratas do Caribe. A magia das imagens está garantida.

Malévola marca o retorno à vida pública de Angelina, após três anos tomados por seu trabalho humanitário, como Enviada Especial das Nações Unidas, e por uma série de tratamentos médicos que resultaram, em fevereiro de 2013, na cirurgia para remover os seios. Ela constatou que tinha o mesmo perfil genético de sua mãe (a modelo e atriz Marcheline Bertrand, que sucumbiu ao câncer de mama e ovários em 2007, aos 56 anos) e decidiu por uma cirugia radical preventiva. A decisão de divulgar a cirurgia num artigo para o New York Times foi definida pelo geneticista Eric Topol, como um gesto de alto simbolismo e “um momento que para sempre impulsionará a medicina genética”. Até o lançamento, em dezembro, de seu segundo filme como diretora, o drama de guerra Invencível (Unbroken), ela continuará com sua agenda de ativismo. Comparecerá em Londres, neste mês, a uma reunião de cúpula de 141 países para debater a violência contra as mulheres em situações de conflito.

Depois, talvez ela e Brad Pitt se juntem novamente nas telas, algo que não acontece desde a comédia Sr. e Sra. Smith, de 2005, que deu início ao namoro deles. Desta vez, Angelina será diretora e roteirista, e Brad ator. “Depois de muita conversa, agora finalmente farei um filme com Brad”, diz ela, sorrindo. “É uma parceria: escrevi, vou dirigir e atuaremos juntos. Será maravilhoso.”

Esse papel é muito diferente de todos os que a senhora fez em sua carreira. Por que escolheu esse projeto agora?

Angelina – Sempre quis fazer um papel assim. Gostei desse porque, além de ser um filme que meus filhos podem ver, é um filme que gostaria que eles vissem. Tem uma mensagem coerente com o modo como os educamos. A ideia de que cada um tem uma história que não conhecemos, que não podemos saber o que cada um passou, se foi doente ou molestado ou marginalizado. E que, mesmo que coisas terríveis tenham acontecido, temos sempre de lutar para recuperar nossa humanidade, não permitir que o mal tome conta de quem somos.

O filme Malévola contesta alguns chavões dos contos de fadas do universo Disney. Nos convida a ter um novo olhar sobre o “vilão”, o personagem “do mal”. Qual sua definição de “mal”?

Angelina – Não sei como definir, mas sei que existe. Acredito no mal, porque vi o mal. Não é o das histórias. Não é o de Hollywood. É o que vi em minhas viagens pelas Nações Unidas: crianças queimadas, famílias destruídas, órfãos, mulheres violentadas, crianças torturadas, com unhas arrancadas… Essas meninas (na Nigéria) arrancadas de suas escolas, raptadas. Esse é o mal. É importante compreender o mal e compreender de onde vem, quais são suas raízes. Só assim é possível combatê-lo de verdade. Para enfrentar esse mal, temos apenas as saídas da Justiça, em primeiro lugar, depois da educação. Precisamos nos unir, unir todas as pessoas que reconhecem esse mal e realmente encará-lo.

O  filme também redefine as ideias de “amor verdadeiro” e “felizes para sempre”, clichês comuns no universo de Walt Disney. Qual sua visão sobre essas ideias?

Angelina – Nunca fui romântica. Sou realista e pragmática. Nunca acreditei em “amor verdadeiro”, “amor à primeira vista”. Nunca acreditei na ideia de que basta você encontrar a pessoa certa e se entregar a essa pessoa, e ela se transformará na sua felicidade. Isso mudou quando me tornei mãe. No momento em que olhei nos olhos de Maddox no orfanato (nascido Rath Vibol em Pnom Penh, Camboja, Maddox foi adotado por Angelina aos 7 meses, em 2002), todo o meu mundo mudou. Foi a primeira vez que compreendi o que era amor verdadeiro. É o momento em que você não é mais o centro do mundo e é capaz de se dar inteiramente a outra pessoa, e essa pessoa se torna sua felicidade. Tudo de ruim que possa acontecer a essa pessoa, você diz: “Que venha para mim, não para ela”. Não estou sozinha. Quase todas as mães e pais se sentem assim.

“Dirigir filmes é uma forma de abordar temas importantes e me educar a respeito de coisas que não conheço”

É seu primeiro trabalho diante das câmeras desde as cirurgias a que a senhora se submeteu em fevereiro do ano passado. Como está sua saúde?  Se a senhora pudesse voltar atrás, faria algo de forma diferente?

Angelina – Minha saúde está ótima. Tenho muita energia.  Estou feliz por ter tomado as decisões que tomei. Mesmo a decisão de ter levado a público minha decisão. Era meu dever para com as demais mulheres. Aprendi muito sobre minha saúde e não achava correto deixar de compartilhar o que aprendi e as escolhas que fiz com outras mulheres. Como teria sido bom se as ferramentas que temos hoje estivessem disponíveis para minha mãe, e que ela tivesse essa escolha quando era mais jovem. Ela poderia estar viva e comigo, hoje, aproveitando seus netos.

A senhora pretende continuar o tratamento com a remoção dos ovários, procedimento recomendado para mulheres com a mesma mutação genética sua e de sua mãe?

Angelina – Sempre fui muito franca e firme em minha decisão de continuar o tratamento. Neste momento, me informo sobre o assunto, compreendo todos os detalhes sobre o que a mutação significa e como melhor me preparar para ela. Minha opção, como antes, é manter minha privacidade – minha e de minha família – antes e durante o processo, para que eu possa comentá-lo abertamente depois.

Em dezembro deste ano, teremos seu segundo filme como diretora, Invencível, a história do corredor olímpico Lou Zamperini. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele tornou-se prisioneiro dos japoneses. A senhora está determinada a continuar sua carreira como diretora?

Angelina – Estou. Na verdade, estou cada vez mais interessada no trabalho de direção cinematográfica. Me tornei diretora por acaso. Escrevi o roteiro de meu primeiro filme (Na terra de amor e ódio, 2011) como um exercício pessoal, uma meditação sobre o que eu tinha visto e aprendido sobre a situação na Bósnia – uma guerra que nunca consegui compreender direito – e não consegui achar  ninguém que tivesse a mesma paixão pelo assunto, ninguém em quem confiasse. Atualmente, dentro do mundo do entretenimento, dirigir é o que mais quero fazer. É onde está meu interesse. Dirigir filmes é uma forma de abordar temas importantes para mim e de me educar a respeito de coisas que não conheço, de aprender sobre história, sobre cultura e de me aprofundar no conhecimento do próprio cinema.

Se a senhora tivesse de escolher entre ser atriz, ser diretora e ser ativista, o que escolheria?

Angelina – Poderia não ser nenhuma das outras coisas e ser feliz. Mas não poderia não ser uma ativista. Poder usar o poder da celebridade e, assim, chamar a atenção para pessoas e problemas que em geral passam despercebidos é algo que realmente faz sentido para mim. Demorei algum tempo até compreender o que significava ser celebridade, as coisas de que você abre mão sendo uma celebridade e, ao mesmo tempo, o poder que você tem. Comecei nisso muito jovem. De imediato, não sabia o que fazer com o poder e a celebridade. Francamente, nem poder nem celebridade me interessavam muito. Ser capaz de dar uma finalidade, um sentido a isso, é algo muito especial.

Fonte: Época


Faça seu comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>

Voluntários

Loja Virtual

Em Breve
Close