Angelina Jolie e William Hague: Como duplas improváveis podem dar certo

sábado, junho 21, 2014

Angelina Jolie e Willian Hague em cerimônia em Londres em 10 de junho. Os dois tentam combater o uso do estupro como arma de guerra

Angelina Jolie e Willian Hague em cerimônia em Londres em 10 de junho. Os dois tentam combater o uso do estupro como arma de guerra

Por Barbara Ellen

Quando Angelina Jolie recebeu o título de dama do Reino Unido, o país havia acabado de se recuperar das fotos dela com Brad Pitt e William Hague chegando à cúpula pelo fim da violência sexual em conflitos, um evento muito válido. Foi pena, portanto, que William Hague parecesse ter sido levado em uma excursão por vizinhos bondosos e elegantes, que perceberam que ele ficava em casa sozinho o dia inteiro, chupando balas e assistindo a programas de decoração. (“Temos de ajudar aquele pobre homem!”)

E por que Pitt de repente estava lá? Quem pode dizer que ele não pensou: “Espere um maldito minuto — o que esse belo e rude secretário do Exterior britânico, esse homem de bela figura, está fazendo com minha Angie nessas tais cúpulas? Esse sujeito Hague poderia ser uma ameaça sexual significativa.” Improvável, mas por que se preocupar com algo tão entediante quanto fatos, ou reconhecer o que pode ser verdadeiro altruísmo, quando a frívola conjetura é tão mais divertida?

Durante a cúpula, Hague comentou o quanto admira Jolie, com quem trabalhou durante dois anos no combate ao estupro nas zonas de guerra, como Ruanda e Síria, acrescentando que eles continuarão trabalhando juntos. Quando perguntada sobre a dupla, Jolie apenas disse: “Qualquer coisa que funcione”. No entanto, houve vários momentos ridículos, e Hague foi abertamente chamado de “tiete”. (Mais tarde, David Cameron foi acusado de praticamente carregar a bolsa para Jolie.)

De sua parte, astros humanitários como ela são habitualmente criticados como narcisistas e/ou fantasiosos — fantoches idiotas ou autopropagandistas interesseiros –, quer o mereçam, quer não. De muitas maneiras, é fácil compreender por que a “estranha dupla” Hague/Jolie atrai tanta atenção negativa. Vê-los juntos é simplesmente surpreendente — um caso clássico de colisão de dois mundos muito diferentes. Eu estava pensando que a última vez em que vi um par tão díspar foi quando Jack Straw levou Condoleezza Rice a conhecer Blackburn, mas então alguém indicou que pelo menos eram dois políticos. Em contraste, isto é política (showbiz de fábula para gente feia) e showbiz de verdade (para gente realmente bonita) fundindo-se para formar uma pasta incoesa que, alguns poderiam temer, seria o oposto perfeito de sério, digno ou produtivo. Nessas circunstâncias, geralmente se levanta (corretamente) a tese de que nem tudo precisa ser visto pelo prisma da celebridade. Embora eu basicamente concorde, também digo há muito tempo que, sendo tão super-recompensadas, talvez as celebridades devessem ser obrigadas a fazer mais trabalho de caridade, e não menos. Mais seriamente, Jolie vem promovendo temas sérios há bastante tempo e em geral se comportou com graça e simplicidade. Ela também parece plenamente consciente de que sua principal contribuição é atrair publicidade para causas nada glamourosas, chamando o tipo de atenção global que Hague, um mero político com cara de batata brotada, não conseguiria sozinho.

Em sua missão, Jolie parece estar tendo enorme sucesso (assim como Hague, para ser justa), então qual é o problema? Os que acusam Jolie de “posar” ou “atuar” talvez devam se lembrar de que ela recentemente sofreu uma dupla mastectomia como medida preventiva contra o câncer de seio, o que certamente concentraria seus pensamentos. Além disso, Jolie já é celebridade duas vezes — primeiro como filha do ator Jon Voight e depois por si mesma. Por isso é impossível acreditar que ela esteja realmente cheia disso e desta vez sinta necessidade de que sua fama signifique alguma coisa?

De fato, embora eu tenha feito minha parte zombando das celebridades super-honestas ou “caridosas” para si próprias, algumas vezes também me perguntei se isso se tornou uma reação automática e baixa. Esta é uma dessas vezes. Pode ser que o trabalho de duplas humanitárias improváveis como Hague e a hoje dama Angelina seja mais frutífero do que lhes dão crédito. Talvez seja a reação de alguns de nós que nem sempre é totalmente sincera.

Leia mais no Guardian.co.uk

Fonte: Carta Capital


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