Cerimônia – Dia Mundial “Nós também acolhemos”

sábado, junho 21, 2014

O que seria uma reunião singela recebeu o ar solene e emocionante da importância dos atos que li se queria homenagear.

padreNo último dia 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo realizou uma cerimônia em celebração ao Dia Mundial dos Refugiados.

A rotina diária da Caritas tem testemunhado gestos individuais belíssimos de solidariedade, que não vêm de organizações ou corporações: refugiados têm hospedado em suas próprias casas pessoas recém chegadas ao Brasil; têm assumido a guarda de menores que chegam ao país totalmente desacompanhados de responsáveis; têm deixado os seus trabalhos e afazeres diários para servirem como tradutores a solicitantes de refúgio que sequer conhecem; têm organizado suas comunidades para arrecadar fundos e itens de doação; têm acompanhado conterrâneos em hospitais, repartições públicas e entrevistas de emprego; têm apoiado outros refugiados em grave estado de saúde e até na morte. Muitos têm aceitado expor sua vida e história em palestras e vídeos de sensibilização ou têm participado da realização de eventos e projetos destinados a divulgar a questão do refúgio no Brasil.

A importância destes atos na vida dos refugiados recém chegados é imensa e tão extraordinária quanto o significado destas ações de solidariedade.

Por isso, a Caritas São Paulo quis homenagear todos aqueles que, mesmo sendo estrangeiros refugiados no Brasil, têm agido como o melhor dos anfitriões para aqueles que chegam a São Paulo após deixarem seus países em virtude de guerras e de perseguições abomináveis.

Recebendo uma rosa e ouvindo algumas palavras que tentavam traduzir a importância dos seus gestoes de solidariedade, cerca de 40 refugiados representaram aqueles para os quais a homenagem foi dirigida. E foi uma alegria constatar que não seria possível reunir no espaço da Caritas São Paulo todos aqueles que têm sido “refugiados anfitriões”.

marceloDiante da frase “somos acolhidos, mas também acolhemos”, os refugiados, a equipe da Caritas e representantes de outros parceiros da rede de proteção se emocionaram com as histórias ali compartilhadas, que silenciosamente parecem gritar que todos aqueles que chegam ao Brasil para aqui se refugiar trazem muito em suas mãos e estão dispostos a oferecer seu tempo, suas habilidades e a riqueza da sua diversidade!

Isso tudo, aliás, estava também presente na sala das homenagens, através das pinturas feitas pelos refugiados ao longo da semana que antecedeu o dia 20 de junho. Perguntados sobre o que já ensinaram a um brasileiro, eles pintaram suas mãos e ilustraram painéis, para dizer: nós também temos o que oferecer!

 

Leia abaixo as homenagens lidas pelos funcionários e voluntários da Caritas aos refugiados:

ÀQUELES REFUGIADOS QUE TÊM ASSUMIDO A GUARDA DE REFUGIADOS MENORES DE IDADE, QUE CHEGARAM AO BRASIL TOTALMENTE SOZINHO… 

Vocês que acolheram os “pequenos” em seus braços… Menores desacompanhadas, que perderam ou se perderam de suas famílias em conflitos terríveis chegam ao Brasil angustiados. Sempre precisando de carinho e apoio. Vocês que assumiram estes menores como fossem seus filhos, deram-lhe moraria, carinho, a atenção e principalmente uma família. Muito obrigada.

ÀQUELES REFUGIADOS QUE ACOMPANHAM OS REFUGIADOS RECÉM CHEGADOS COMO TRADUTORES, GUIAS EM ÓRGÃOS PÚBLICOS E NA CIDADE E QUE BUSCAM ALTERNATIVAS PARA SEREM MELHOR ABRIGADOS EM SEUS PRIMEIROS TEMPOS NO BRASIL…. 

Vocês são ouvidos e olhos solidários daqueles que ainda não conseguem compreender este país. Vocês guiam recém chegados à Caritas, à Polícia Federal, ao Ministério do Trabalho, às casas de acolhida, aos hospitais… Vocês servem de tradutores do idioma e da cultura brasileira. Vocês cavam fontes de apoio até mesmo dentro da Caritas e abrem espaço para refugiados que, como vocês um dia sentiram, têm muitas dificuldades de dar os primeiros passos. A vocês que são padrinhos, muito obrigada.

ÀQUELES REFUGIADOS QUE ACEITAM RELEMBRAR OS PRIORES DIAS DE SUA VIDA PARA CONTAR SUA HISTÓRIA A JORNALISTAS, CINEASTAS E ESTUDANTES, E, ASSIM, AJUDAR NA SENSIBILIZAÇÃO DE BRASILEIROS SOBRE A REALIDADE DO REFÚGIO… 

Vocês oferecem suas histórias para dar visibilidade à causa e às necessidades das pessoas refugiadas. Contar a história de vida de pessoas espetaculares como vocês, faz com que os brasileiros compreendam melhor o que existe por trás da palavra “refúgio” e porque esse assunto deve interessar todo o país. Sabemos que muitas vezes pode não ser fácil contar sua história pessoal para pessoas desconhecidas e, por isso, vos agradecemos ainda mais. É hora de construir um Brasil mais humano e justo e vocês são elos fundamentais dessa luta. Ações de sensibilização e conscientização dos brasileiros são fundamentais nesse processo e não conseguiríamos sucesso sem vocês, amigos que ofertam sua história em prol de uma causa maior. Muito Obrigada.

ÀQUELES REFUGIADOS SE OFERECEM OU ACEITAM PARTICIPAR VOLUNTARIAMENTE DE PROJETOS CONJUNTOS COM A CARITAS…  

Vocês dispõem do seu tempo e de suas habilidades para elaborar a participar de projetos e ações para a redução da discriminação e a desinformação sobre os refugiados.

Vocês acreditam conosco que a ação em conjunto e a promoção de campanhas, músicas, videoclips e mesmo de uma COPA dos REFUGIADOS poderá abrir os olhos dos brasileiros sobre a dignidade e a riqueza que cada refugiado pode oferecer ao Brasil.Vocês que até oferecem suas próprias habilidades profissionais para integrar projetos em conjunto com a Caritas demonstram que mesmo em necessidade e sendo acolhidos em novo país, podem oferecer o que trazem em suas mãos, acolhendo uma causa maior do que a necessidade de cada um.Muito obrigado.

ÀQUELES REFUGIADOS QUE PARTICIPARAM DAS ETAPAS DA CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE MIGRAÇÕES E REFÚGIO…            

Vocês participaram ativamente de conferências da COMIGRAR e trouxeram a sua experiência de estrangeiros no Brasil. Participaram ativamente da elaboração de propostas para uma nova política migratória no Brasil.  Todas as mudanças sociais são feitas com muita luta e dedicação. As mudanças não acontecem espontaneamente, especialmente quando tratamos de proteger populações vulneráveis. Por isso, lutar pelo acreditamos é fundamental e ocupar os espaços públicos também. Se a causa nos interessa, precisamos participar para fazer com que a nossa voz seja ouvida e nossa vida transformada. Por isso, rendemos nossa homenagem à todas as mulheres e homens que participaram da primeira conferência nacional sobre migrações e refúgio que aconteceu em São Paulo no mês passado. Esse evento foi inédito para a democracia brasileira e a maior prova foi a grande participação de estrangeiros que se fizeram ouvir e que lutam para que haja uma mudança substancial na política nacional que favoreça aqueles que já estão aqui e, também, aqueles irmãos que poderão chegar em um país melhor.

ÀQUELES REFUGIADOS QUE RECEBEM EM SUAS PRÓPRIAS OS RECÉM CHEGADOS QUE NÃO TERIAM UM BOM LUGAR PARA ESTAREM ABRIGADOS…  

Vocês abrem suas casas para receber os recém chegados… Sabemos das dificuldades que um refugiado enfrenta ao chegar e se adaptar a uma nova cultura, uma nova cidade e uma nova vida. Porém, nesse caminho, alguns encontram uma outra pessoa, que também passou pelos mesmos desafios, que conhece as razões que o levaram a chegar até aqui e que sentem a mesma saudade do seu país de origem. Em um gesto humano e de amor ao próximo, um refugiado acolhe o outro, até então desconhecido, em sua própria casa. Gesto que merece toda nossa homenagem, pois nos ensina o quanto um olhar, uma mão estendida é capaz de recriar vidas e esperança, mesmo nas situações mais difíceis.Recebam aqui nossa sincera homenagem!

A OUTROS ESTRANGEIROS QUE APADRINHAM  A CAUSA DOS REFUGIADOS E DEDICAM SEU TEMPO E SEUS RECURSOS PARA ATENDER OS RECÉM CHEGADOS… 

Vocês são estrangeiros também. São também filhos de terras sofridas.  E daqui do Brasil resolveram ser padrinhos daqueles que passaram a chegar na condição de refúgio. Receberam um, dois, dez, cem recém chegados. Organizaram suas comunidades, construíram bases seguras para tantos e tantos refugiados que é impossível dimensionar o impacto do que fizeram. Vocês, um pouco brasileiros e um pouco estrangeiros, ensinaram aos filhos desta nossa terra verde e amarela como ser um melhor anfitrião.

AOS REFUGIADOS CONFORTARAM OS QUE SE FORAM…                                                                                    

Vocês que acompanharam solicitantes de refúgio e refugiados doentes, que fizeram companhia enquanto os mesmos estavam internados e que tiveram que receber a triste notícia do seu falecimento. Tiveram que substituir suas famílias que não poderiam estar presentes até mesmo no momento do adeus e continuam tendo forças para seguir suas próprias vidas com fé e esperança. Muito obrigado.

AOS REFUGIADOS QUE FALECERAM NO BRASIL… 

A vocês os que faleceram em busca de segurança e sobrevivência, oferecemos esta singela homenagem. A. U. T., M. Y., M. G. E. O., G. G. S…  A todos que se foram, em país estrangeiro, sem a presença de familiares, sem as honras de um ofício cerimonial…, as nossas escusas. Pois, nós lhe devemos uma existência. O mundo lhes deve a existência. Com esta homenagem, buscamos resgatar essa existência ligando o passado ao presente. E também ao futuro, por meio de sua linhagem em novas terras. E aqueles que não deixaram descendência como Abdo Uahabo Trauare, que a sua existência seja resgatada pelo trabalho humanitário, pelo trabalho em busca da verdade. E a verdade deve ser dita e repetida: NÃO DEVERIA HAVER NECESSIDADE DE REFÚGIO NESTE MUNDO! Então, mais do que palavras, vamos recorrer às letras cantadas de John Lennon, aquele que tombou no meio do caminho e eternizou-se no mundo dos vivos. Imaginem este mundo, sonhem com esse mundo…

ÀS FAMÍLIAS REFUGIADAS QUE SE REENCONTRARAM NO BRASIL…

Vocês trazem hoje um sorriso enorme em seus rostos porque reencontraram seus maridos, esposas, filhos, irmãos, tios e sobrinhos…Vocês mantiveram e a força, mesmo depois de terem seus familiares arrancados de suas vidas. Vocês seguiram adiante com dignidade e superação e, ainda, cultivaram a esperança do reencontro… Muito obrigada por nos emocionar com suas histórias e por compartilhá-las com este Brasil, para que ele possa ele ser o berço de muitos outros reencontros…

FINALMENTE, HOMENAGEAMOS OS PEQUENOS QUE NASCERAM NO BRASIL … 

Vocês chegaram ao Brasil ainda no ventre das suas mães, que os carregavam com amor, apesar da tristeza ao redor… Vocês sorriem e brincam conosco e nos lembram que mesmo a vida mais frágil tem a força extraordinária de renovar a história! Obrigada por alegrarem nossos dias!

Fonte: Caritas Arquidiocesana de São Paulo


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