Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, em 2013 o número de refugiados no mundo ultrapassou 50 milhões de pessoas: 51,2 milhões, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), acréscimo de 6 milhões, ou 13%, em relação a 2012. É uma população comparável à de países médios como Espanha, Colômbia ou Coreia do Sul, e em sua maioria mulheres e crianças.
Aos tradicionais refugiados políticos e econômicos, se juntam os deslocados por conflitos e por catástrofes naturais. Até 2010, a ONU já cuidava de cerca de 50 milhões desses refugiados ambientais. Um fenômeno que ganhou força foi o dos que fogem, não tanto de guerras entre países, mas do colapso conflituoso de Estados como Síria, Somália e República Centro-Africana.
A principal responsável pelo crescimento do número de refugiados de 2012 para 2013 foi a guerra civil na Síria, que, em três anos e meio, já contribuiu com 9 milhões de pessoas nessa situação (ou 39% da população do país), dos quais 6,5 milhões são deslocados internos e 2,5 milhões fugiram para outros países, principalmente Turquia, Líbano e Jordânia. No ano passado, segundo o Acnur, o país que produziu mais refugiados foi o Afeganistão (2,55 milhões), seguido de Síria (2,46 milhões), Somália (1,12 milhão), Sudão (650 mil) e República Democrática do Congo (500 mil). A Colômbia ainda é o país latino-americano com a maior marca nessa triste estatística: 400 mil refugiados em 2013.
Esse quadro, extremamente dramático do ponto de vista humanitário e dos direitos humanos, aponta para a necessidade de se ampliarem os esforços da comunidade internacional para apressar, através de negociações diplomáticas ou mesmo pela pressão das sanções, o fim das guerras entre países ou dentro deles. Nesse sentido, são bem-vindas as conversações mantidas em Havana entre o governo da Colômbia e as Farc para tentar pôr fim aos mais antigo conflito armado da América Latina.
É importante que as nações e grupos com influência no Iraque trabalhem para conter o choque entre xiitas e sunitas: em semanas, 300 mil iraquianos fugiram para a região curda, após a invasão do país pelos fundamentalistas do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Isis). Milhares de refugiados têm escapado para outras regiões do país ou Rússia, diante dos choques entre ucranianos e separatistas, nos últimos meses.
A xenofobia deve ser combatida. É o caso da Europa: em tênue recuperação econômica, torna-se a meca para milhares de outras regiões mais pobres, sobretudo da África, que em grande parte morrem em naufrágios ao tentarem chegar à ilha italiana de Lampedusa, ao enclave espanhol de Ceuta ou a outros pontos. Crescem forças políticas retrógradas que repudiam a chegada e a permanência desses imigrantes em seus países, sem qualquer consideração de ordem humanitária. Também é preciso contê-las.
Fonte: O Globo