Há algumas semanas, a região russa de Rostov vive em estado de emergência, com a chegada de até 15.000 refugiados ucranianos por dia. O Serviço de Imigração da Rússia revelou, contudo, que até 4.000 desses cidadãos estão voltando ao país de origem diariamente. A correspondente da Gazeta Russa foi ao local para entender o que está por trás desse fluxo.
Apesar de o número de imigrantes que saem da Ucrânia em direção à Rússia não se comparar com o de pessoas que estão voltando, o recente fluxo demonstra a coragem de quem tenta retornar às regiões de origem. Enquanto nas estradas rumo à Rússia observa-se carros lotados e uma multidão de pessoas emigrando à pé, é possível contar nos dedos os passageiros dentro de ônibus com placa ucraniana que estão voltando ao país vizinho.
“Nós já evacuamos mais de 200 mulheres e crianças da região de Lugansk. Este já é meu terceiro turno”, contou o motorista de um dos vários ônibus que seguem para a Rússia. “Mas nem todos conseguem vir – a fila para conseguir lugar é enorme. Mesmo o trajeto sendo muito perigoso, já que perto da fronteira os tiroteios se intensificam, iremos continuar a evacuar a população.”
A cada turno, os motoristas fazem uma rota diferente e não comunicam a ninguém sobre o caminho a ser seguido. Os passageiros são escolhidos “a dedo” e, depois de um ônibus cheio de crianças ser atingido por tiros na semana passada (sem causar ferimentos), muitos têm medo de arriscar a cruzar as fronteiras.
“Eu tenho dois garotos, um de 10 e outro de 7 anos de idade”, diz uma das passageiras. “Eles não ficarão sozinhos na Rússia, mas em um acampamento para crianças. Claro que eu fico preocupada, mas deixá-los em casa é mais perigoso”, continua.
Perto da fronteira, o casal de ucranianos Nikolai e Tatiana estavam dispostos a fazer o caminho inverso. Depois de deixarem os filhos com os avós na Rússia, resolveram retornar à Ucrânia.
“Estamos indo para defender nossa terra, a nossa casa. Eu fui recrutado pela milícia e minha esposa vai ser a nossa cozinheira”, disse Nikolai. “É lógico que tenho medo, mas, quando bombardearam o hospital e mataram crianças inocentes, aflorou em nós apenas um desejo: o de se unir e se defender.”
Depois dos bombardeios atingiram um hospital infantil, os pacientes e funcionários foram transferidos para uma ala subterrânea do estabelecimento. A história do resgate de Gênia, uma criança que estava internada na UTI na hora do ataque e permaneceu soterrada nas ruínas por uma semana, foi manchete em diversas partes do mundo. O garoto, atualmente sob cuidados de médicos russos, respira sozinho após ser submetido a uma cirurgia em São Petersburgo.
No entanto, nem todos não tiveram a mesma sorte de Gênia. Mais de 40 crianças morreram de estilhaços e balas perdidas depois dos confrontos no leste do país, de acordo com os dados oficiais divulgadas na semana passada pela chefe do Comitê do Parlamento Ucraniano para a Saúde, Tatiana Bakhteieva.
Ajuda aos refugiados
Atualmente, o número de refugiados registrados na região de Rostov chega a quase 16.000 pessoas, incluindo mais de 6.000 crianças. A maioria dos ucranianos que se refugiam na Rússia se estabelecem no interior do país ou ficam com seus parentes e amigos. Autoridades, equipes de voluntários, instituições de caridade e pessoas comuns têm prestado assistência aos refugiados.
Devido ao grande fluxo, as autoridades russas montaram quatro acampamentos na região de fronteira, cada um com capacidade para 4.000 pessoas. A Defesa Civil russa também organizou uma ponte aérea com seus próprios recursos para evacuação de vítimas de Donbass e outras regiões ucranianas.
Por enquanto, somente a região de Rostov recebeu suporte financeiro do governo federal para o assentamento de cidadãos ucranianos. Na quinta-feira passada (26), o primeiro-ministro Dmitri Medvedev assinou um decreto para alocar pouco mais de US$ 7 milhões para a região – cada refugiado deve receber quase US$ 17 por dia e US$ 7,50 para alimentação.
Fonte: Gazeta Russa