Após concluir uma visita de dois dias à operação de assistência aos refugiados do Sudão do Sul na Etiópia, a sub Secretária de Estado dos Estados Unidos, Anne C. Richards, declarou estar chocada com a situação e afirmou que irá persuadir os norte-americanos a aumentar o apoio a esta operação.
Anne Richards, que é a secretária-assistente no Escritório de População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos EUA (BPRM, na sigla em inglês), visitou campos de refugiados e zonas de fronteira na região de Gambella, oeste da Etiópia, aonde já chegaram aproximadamente 167 mil refugiados do Sudão do Sul desde que o início da recente guerra civil no país, em dezembro passado.
“Estou plenamente satisfeita com o trabalho que está sendo feito. Mas precisamos fazer mais. Preciso convencer os norte-americanos a doar mais para esta operação, mesmo lidando com outras crises ao redor do mundo”, disse Anne Richards, que visitou no final da semana passada as operações humanitárias coordenadas pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) em Pagak (na fronteira entre a Etiópia e o Sudão do Sul) e nos campos de refugiados Kule 01 e Kule 02.
A visita de Anne Richards à região de Gambella acontece no momento em que o ACNUR e seus parceiros tentam arrecadar US$ 658 milhões para responder à crise regional de refugiados deflagrada pela guerra no Sudão do Sul. Mais de 715 mil refugiados sul-sudaneses são esperados até o fim deste ano nos países da região. Em março, a previsão era de 340 mil refugiados, com um orçamento calculado em US$ 340 milhões.
O conflito em curso e a piora na situação humanitária no Sudão do Sul estão causando um êxodo de refugiados para a Etiópia, Quênia, Sudão e Uganda. A Etiópia é o país que tem recebido o maior número de refugiados do vizinho Sudão do Sul.
Entre 800 e mil novos refugiados sul-sudaneses chegam todos os dias à Etiópia, na região de Gambella. Os três campos de refugiados que foram abertos no início da crise já atingiram sua capacidade. O ACNUR e sua principal contraparte no governo etíope, a Administração para Assuntos de Refugiados e Repatriados (ARRA), estão definindo um novo local para construir mais um campo.
“Nosso planejamento inicial para a Etiópia era de 150 mil refugiados até o final deste ano. Mas este número já foi alcançado, e o ACNUR e seus parceiros revisaram esta população para 300 mil indivíduos”, disse Oscar Mundia, Coordenador Sênior de Emergência do ACNUR na Etiópia.
“Muitos dos refugiados que chegam à Etiópia, Uganda, Quênia e Sudão se encontram em condições terríveis”, disse em Genebra a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming. “Eles estão exaustos, traumatizados pelos motivos de terem fugido e pela difícil jornada até encontrarem segurança, desnutridos e em péssimas condições de saúde”.
A atual crise no Sudão do Sul já gerou cerca de 400 mil refugiados na região, sendo cerca de 160 mil na Etiópia, 118 mil em Uganda e 41 mil no Quênia. Cerca de 14 mil crianças são consideradas desacompanhadas ou separadas dos seus pais e responsáveis.
As prioridades do novo plano de resposta humanitária do ACNUR e seus parceiros são alimentação, apoio nutricional, saúde, água e saneamento, higiene, assistência em abrigos e proteção. As doações feitas até agora cobrem apenas 24% das necessidades previstas no plano de resposta humanitária, que reúne atividades de 34 organizações internacionais e não governamentais.
A grande maioria dos refugiados que chega é formada por mulheres e crianças, particularmente mais vulneráveis. A sub Secretária de Estado dos EUA disse estar particularmente preocupada com as mulheres, meninas e crianças que foram abusadas em sua fuga para o exílio. ”Elas realmente vão precisar de especialistas em tempo integral, não só para atender seus traumas como para garantir a adoção de medidas preventivas”, afirmou.
Anne Rice esteve em Gambella acompanhada da embaixadora dos EUA na Etiópia, Patricia Haslach. Ambas tiveram a oportunidade de falar com vários refugiados. Com lágrimas nos olhos, a refugiada Nyabiel Ran, 45, contou que sua viagem de Bentiu (no Estado de Unity, Sudão do Sul) para a Etiópia levou mais de dois meses. “No fim das contas, eu poderia chegar aqui com apenas dois dos meus filhos e eu não sei o que pode ter acontecido com meu marido e meus outros três filhos”, disse Nyabiel para as funcionárias do governo norte-americano.
O Representante Interino do ACNUR na Etiópia, Bornwell Kantande, elogiou a política de portas abertas do governo etíope em relação aos refugiados. Em particular, ele agradeceu Gatluak Tut Kot, governador do estado de Gambella, que se juntou à visita e anunciou que seu gabinete irá definir um novo local para que seja construído um novo campo de refugiados.
Richards agradeceu ao povo e ao governo da Etiópia pela sua generosidade com os refugiados. E também desafiou os líderes rivais do Sudão do Sul a visitar a Etiópia para ver as consequências humanitárias do conflito.
Outras prioridades do plano de resposta conjunta do ACNUR e seus parceiros incluem atividades de monitoramento para garantir o caráter civil dos campos de refugiados e assentamentos.
“Se o financiamento ao plano não aumentar, as consequências podem ser drásticas, incluindo escassez de alimentos, piora das condições sanitárias, crescimento do risco de doenças e cortes nos programas de educação, agravando assim significativamente as dificuldades enfrentadas pelos refugiados”, afirma a porta-voz do ACNUR em Genebra, Melissa Fleming.
Por Kisut Gebreegziabher, em Gambella, Etiópia.
Por: ACNUR