Uma vigília global marcou os 100 dias do sequestro de um grupo de mais de 200 meninas de uma escola em Chibok, no nordeste da Nigéria. A iniciativa é parte da campanha #BringBackOurGirls que promove o retorno seguro das alunas à casa.
Segundo o grupo extremista islâmico Boko Haram, que assumiu a autoria do ataque, as meninas, a maioria cristãs, teriam se “convertido voluntariamente ao islamismo”. Este era só o começo de uma mudança drástica para as alunas de uma pacata escola secundária retiradas à força do internato enquanto dormiam.
Pais
Muitas delas sonhavam em continuar os estudos. Transformar-se em professoras, médicas, engenheiras, esposas, mães, jornalistas, em construir um futuro. Um sonho interrompido pela ação criminosa dos sequestradores na sombria noite de 14 de abril.
As semanas que se seguiram foram de apreensão. Elementos do Boko Haram diziam que as garotas seriam “vendidas para casamento”, outros relatos davam conta de que as crianças já haviam sido retiradas do país. O apelo pelo retorno das meninas atravessou continentes. Em Nova York, a marcha foi acompanhada pela Rádio ONU.
Ao se reunirem para a vigília, realizada na quinta 23, os manifestantes eram liderados pelo ex-primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, atual enviado especial da ONU para educação global. Até mesmo o chefe da organização, Ban Ki-moon, saiu em defesa das meninas pedindo que elas fossem libertadas imediatamente. Ban expressou sua “solidariedade a todos que participaram da vigília demonstrando assim ao mundo que as meninas, sequestradas da escola 100 dias antes, tão cruelmente, não haviam sido esquecidas.”
Discriminação
Ban reiterou o apelo pelo fim da discriminação, intimidação e violência a meninas ou a qualquer um que busca o acesso à educação.
E este parece ser mesmo o xis da questão: o direito de meninas e mulheres à educação. O Boko Haram, que em hausa (uma das línguas oficiais da Nigéria) significa “educação do Ocidente é proibida”, parece ter outros planos.
Desde que iniciou suas operações militares em 2009 com o objetivo de “criar um Estado islâmico”, seus militantes já mataram milhares de pessoas além de cometerem outros crimes. As alunas do internato de Chibok, no estado de Borno, não foram as últimas a serem raptadas por eles. Pelo menos outros dois sequestros em massa foram levados a cabo pelo Boko Haram nas semanas seguintes e para o desespero de pais e familiares que vivem desde então a agonia diária de não saber onde estão suas filhas.
Malala
Em meados do mês, à causa das meninas sequestradas juntou-se uma forte aliada: a paquistanesa Malala Yousafzai. Malala é uma outra adolescente que conhece bem o alto preço de lutar por educação num ambiente hostil como os arredores do Vale do Swat, onde vive, no Paquistão, sob poder do movimento islâmico Talebã.
Por se oporem ao direito das meninas à educação, militantes do Talebã dispararam três tiros contra Malala, em 2012. Uma atravessou o crânio da ativista a caminho da escola. Em meados deste mês, Malala visitou a Nigéria para pedir o retorno das meninas sequestradas. Era a forma que ela escolhera comemorar seus 17 anos de idade: ao lado das famílias das vítimas.
Ali, Malala teve uma audiência com o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, para pedir mais ações pela libertação das meninas. E ainda: que ele se reunisse com as famílias. O presidente ouviu.
Escolas Seguras
Vários dias depois, em Nova York, a vigília pelo retorno das nigerianas percorreu alguns quarteirões entre a Missão da Nigéria e a sede da ONU com velas e cartazes da campanha: #BringBackOurGirls.
Agora, Gordon Brown enviará um abaixo-assinado ao presidente nigeriano. As famílias das meninas também devem firmar o documento e apoiar inteiramente a Iniciativa Escolas Seguras, defendida por Brown.
O ex-premiê explicou que um piloto de US$ 23 milhões deve ajudar a lançar a pedra angular de 500 escolas na Nigéria para que, no futuro, as meninas possam estudar sem medo.
Fonte: Brasil Post