Hamas e outros grupos armados palestinos negam o uso de civis como escudos humanos
Quando você vê na TV, não é como é na vida real.”
Syed, de 12 anos, se inclina e olha atentamente uma estreita parede de concreto cinza, como se seus olhos fossem capazes de abrir um buraco capaz de ajudá-lo a escapar de sua vida. Morador de Gaza, ele assistiu à morte de seu irmão mais novo.
“Quando sentamos na ambulância juntos, pensei que ele fosse sobreviver, então me senti um pouco melhor”, diz. Mas quando chegaram ao hospital, Mohammad já estava morto.
Três de seus primos também morreram naquele 16 de julho. Eles brincavam em uma praia perto do porto de Gaza quando Israel atingiu a área duas vezes.
Os conflitos modernos são travados em ruas e escolas, deixando pouco de pé. Cada vez mais crianças morrem, e o próprio conceito de infância está sendo destruído.
Israel alega que não atinge civis intencionalmente, mas Gaza é um pedaço de terra estreito, densamente povoado e, agora, perigoso, onde crianças não têm onde se proteger.
O Hamas e outros grupos armados palestinos negam o uso de civis como escudos humanos, mas a BBC presenciou foguetes sendo disparados de dentro de prédios e em áreas abertas.
Antes amigos, agora inimigos
A Organização das Nações Unidas destacou, na semana passada, que uma criança morre por hora em Gaza.
Mas antes de Gaza dominar as manchetes, eram as crianças da Síria que despertavam a consciência do mundo.
Na violenta guerra síria, já em seu quarto ano, mesmo os mais jovens estão sob o alvo de atiradores. Até crianças têm sido torturadas. Milhões delas vivem com fome e medo, e muitas sofrem em áreas cercadas.
A centenas de quilômetros de distância, em Damasco, o mundo de Jalal, de 14 anos, está enraizado no apoio ao presidente Bashar al-Assad, incluindo o pai e tios que lutam em uma unidade de defesa de bairro.
Jalal lamenta o quanto “a crise mudou a gente. Agora as crianças entendem e falam sobre política. Estamos todos prontos para morrer pelo nosso país”.
Jalal e Ezadine veem antigos amigos, agora do outro lado, como alvos de uma “lavagem cerebral”.
E as crianças veem suas próprias situações com uma clareza surpreendente.
“Eu não vejo por que eu tinha que perder a minha perna só porque Bashar al-Assad queria permanecer no poder”, diz Mariam, de 9 anos.
Até hoje, ela não consegue sentar em uma sala. E não consegue brincar com outras crianças em um parquinho no sul da Turquia.
‘Eu odeio o futuro’
Baraa, de 8 anos, cuja família deixou o bairro antigo de Homs, sitiado, fala com vergonha sobre a mudança que o conflito provocou em sua vida. “Em vez de aprender a ler e escrever, eu aprendi sobre todos os tipos de armas. Agora, eu sei o nome de balas”.
“Na nossa casa tinha cerca de 40 ratos, então tínhamos uma gata. Ela comia todos os ratos, até que um dia resolveram comer ela. Não nos disseram o que era no início, mas no dia seguinte disseram que era carne de gato”, contou.
No subúrbio de Damasco, Kifah, de 13 anos, vive no campo de refugiados palestinos em Yarmouk. Ele diz que sua vida é “normal”.
Mas a determinação do jovem de manter seriedade desaba quando perguntado sobre o que ele estava comendo. “Não tem pão”, diz, imerso em lágrimas.
Há uma nova e preocupante “normalidade” para crianças que vivem sob a guerra.
Amer Oda chefia uma grande família que vive no bairro de Zeitoun, em Gaza. Crianças de todas as idades se amontoam nas escadas atrás dele ou sentam-se de pernas cruzadas sobre um chão de concreto.
Há o som regular de artilharia israelense ou fogo de tanques na mesma rua. Há, também, o barulho alto de foguetes sendo disparados contra Israel.
Amer Oda ignorou as advertências israelenses para levar sua família de 45 membros para fora desta área, perguntando, como toda Gaza faz, “Para onde posso ir?”
“Isto se tornou vida normal para elas (crianças)”, diz, enquanto puxa a pequena Dima, de 4 anos. “Isso é tudo o que elas conhecem”.
Dima já viveu duas guerras de Gaza. Todo cidadão local, com idades entre seis e mais, já presenciou três ou mais.
Em Gaza, três crianças de uma mesma família foram mortas por um ataque de advertência de Israel conhecido como “toque no telhado”. Eles estavam brincando com pombos no telhado.
“Eu odeio o futuro tanto”, disse Daad, de 11 anos, da Síria, que se veste de rosa e tem pesadelos. “Podemos viver, ou podemos morrer.”
Fonte: Terra