Feriado religioso tem início em Gaza com 1.062 pessoas mortas

segunda-feira, julho 28, 2014

Nesta segunda-feira (28), a Faixa de Gaza, que entra no feriado islâmico para o fim do Ramadã (Eid al-Fitr), já contava 1.062 pessoas mortas pelos 20 dias de bombardeios israelenses. O maior hospital do enclave palestino, Al-Shifaa, também foi alvo de ataques, de acordo com fontes médicas locais, no domingo (27), e cerca de 10 crianças foram mortas no campo de refugiados Al-Shati. Enquanto isso, aliado incondicional do governo israelense, o presidente dos EUA, Barack Obama, pede “cessar-fogo”.

Oficiais de resgate removem um corpo dos escombros de um prédio, no sábado (26), onde ao menos 20 membros da família Al-Najjar foram mortos por bombardeios de Israel, em Khan Younis, na Faixa de Gaza.

Oficiais de resgate removem um corpo dos escombros de um prédio, no sábado (26), onde ao menos 20 membros da família Al-Najjar foram mortos por bombardeios de Israel, em Khan Younis, na Faixa de Gaza.

“As horas do cessar-fogo no domingo não estavam sendo usadas tanto para preparar o feriado de três dias Eid al-Fitr, que começou à noite, marcando o Ramadã. Ao invés disso, foram usadas para enterrar os mortos e procurar por mais corpos sob as ruínas pelos bairros e vizinhança, onde a destruição era inimaginável,” descreve Jack Khoury para o jornal israelense Haaretz.

Embora o número de mortos tenha saltado de mais de 900 para 1.062 de sábado até a manhã desta segunda, o domingo foi percebido como “um dos mais calmos” desde que o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa Moshe Ya’alon lançaram a ofensiva terrestre, em 17 de julho, no âmbito da “operação Margem Protetora”, oficializada cinco dias antes. Ataques aéreos já tinham sido denunciados nos dias anteriores, com ao menos seis mortes resultantes entre os palestinos de Gaza, desde meados de junho.

Apesar dos conflitantes relatos de um “cessar-fogo temporário” negociado sobretudo pelo secretário de Estado dos EUA John Kerry e pelo Egito, o Ministério da Saúde de Gaza informou ao menos oito mortos após bombardeios que atingiram inclusive o campo de refugiados Al-Shati. Na tarde de domingo, Israel anunciou que o Hamas, partido à frente do governo de Gaza, havia quebrado o acordo temporário lançando foguetes contra o seu território, e voltou a bombardear o enclave palestino, matando mais cinco pessoas. No total, 13 palestinos foram mortos, “um número relativamente baixo comparado com os dias anteriores”, escreve Khoury.

Continuação do massacre

Enquanto milhares de pessoas continuam saindo às ruas em todo o mundo, ou protestando de outras formas – inclusive de comunidades judaicas em países estreitamente aliados ao governo israelense, como nos EUA – contra o repetido massacre dos palestinos, líderes extremistas em Israel reafirmam a posição de que o país deve retomar o controle da Faixa de Gaza, de onde retirou milhares de colonos em 2005, mas deixou um brutal sistema de bloqueio que mergulha a população de quase 1,8 milhão de palestinos em constante emergência humanitária.

Inúmeras famílias desabrigadas devido à destruição das suas casas têm buscado refúgio em escolas geridas pela ONU, em igrejas, mesquitas e até em hospitais. É o caso do hospital Al-Shifaa, o maior do território, na Cidade de Gaza, já abarrotado e sobrecarregado devido ao aumento expressivo de feridos e mortos nos últimos dias, de acordo com o médico Belal Dabour, em conversa recente com o Portal Vermelho, por telefone.

Dabour, que trabalha no pronto socorro, também divulgou imagens em seu perfil do Twitter mostrando algumas famílias abrigadas no exterior do hospital, que foi atingido no domingo, o que constitui um crime de guerra, em violação do direito internacional humanitário que pretende estabelecer garantias de proteção aos civis.

"Este era o hospital Shifa ontem (sábado, 26). Além dos médicos e dos pacientes, dúzias de famílias também  se abrigam lá," escreve Dabour.

“Este era o hospital Shifa ontem (sábado, 26). Além dos médicos e dos pacientes, dúzias de famílias também
se abrigam lá,” escreve Dabour.

“Se a vitória é medida pelo número de mortos, então Israel e seu exército são grandes vencedores”, escreve a jornalista israelense Amira Hass para o Haaretz, em artigo intitulado “A derrota moral de Israel vai nos perseguir durante anos”. Ela continua: “Desde a hora que escrevo estas palavras, no sábado, e até que você as leia no domingo, o número já não será 1.000 (70-80% civis), mas até mais.”

“Quantos mais? Dez corpos, 18? Mais três mulheres grávidas? Cinco crianças mortas, seus olhos semiabertos, suas bocas entreabertas, seus dentes de lente visíveis, suas camisetas cobertas em sangue enquanto elas são carregadas em uma maca? Se a vitória significa levar o inimigo a empilhar várias crianças assassinadas em uma maca, já que não há macas o suficiente, então vocês venceram, chefe do Estado Maior Benny Gantz e ministro da Defesa Moshe Ya’alon – a nação os admira,” ironiza Amira.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,

Com informações das agências palestinas e do Haaretz

Fonte: Vermelho


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