Jamil Iskandar, professor de Filosofia Medieval Árabe na Universidade Federal de São Paulo
Na opinião de Jamil Iskandar, os acontecimentos na Faixa de Gaza são a prática da ideologia sionista e uma solução só pode ser encontrada com exclusão de radicais de ambos os lados.
Até agora há registros de que 900 palestinos já morreram. Do lado israelense, foram 35 militares e dois civis. Como o senhor interpreta esses números?
Essa desproporção é tão grande, os números estão dizendo. Do lado palestino, 85% dos mortos são civis e há muitas crianças entre eles. A desproporção já incrimina o governo de Israel. O que está acontecendo não é algo novo, isso tem sido recorrente, porque essa é uma filosofia já bastante antiga do sionismo – não estou falando do povo judeu, porque existem muitos judeus que são contra o que está acontecendo agora. Se a gente voltar na história, ao século 19, vamos ver que o fundador do sionismo, em 1897, na Basileia, chamado Theodor Herzl, escreveu em seu diário essa estratégia de expulsar o povo palestino. Isso é uma coisa planejada. Na história antiga dos povos judeu e palestino não havia conflito.
Como chegar a um acordo de paz se, mesmo que os estados firmem um pacto, grupos rebeldes podem agir por conta própria de forma contrária aos acordos?
Acredito que, quando você dá o direito a cada um, ninguém mais pode ser radical. Nada pode se sobrepor à Justiça. Se chegarem a um acordo onde haja justiça, imediatamente se acaba com os radicais de ambas as partes e aí o estado pode agir com aqueles que quiserem continuar.
Como o estado poderia agir?
Como a questão já vem há mais de seis décadas, de ambos os lados cultiva-se ódio, ambos perderam entes queridos, vivem na ansiedade, sempre pensando que daqui a pouco pode haver uma guerra ou um conflito. Tem que haver um trabalho sério de conscientização, com psicólogos, cientistas sociais, médicos, psiquiatras. As pessoas que individualmente não concordarem, devem ser excluídas. Como? Podem até ser presas, é uma maneira de manter a paz. A pessoa que não consegue conviver com a sociedade precisa ficar excluída. Não se pode deixar que essa pessoa crie convulsão na sociedade.
Qual a sua opinião sobre a posição do governo brasileiro, que criticou a ofensiva israelense?
Qualquer pessoa que tenha bom senso tem que condenar uma ação dessas. As crianças são as mais afetadas, o povo de Gaza está numa prisão a céu aberto, está privado de tudo que se pode imaginar, de água, de luz, de gêneros de primeira necessidade. Isso por si só já é um crime de guerra.
Fonte: Gazeta do Povo