Cardeal Fernando Filoni, enviado pessoal do Papa ao Iraque, fala da situação que encontrou no país

terça-feira, agosto 19, 2014

radioO Cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e Enviado pessoal do Papa, continua a sua missão entre os refugiados no Iraque. Nesta segunda-feira encontrava-se em Erbil, no Curdistão. Hoje, terça, deverá ter viajado para Bagdad, sendo portador de uma mensagem do Papa para o presidente iraquiano, Fuad Masum.

Sobre a situação dos deslocados, ouçamos o testemunho do Cardeal Filoni, contactado por telefone, em Erbil, por Sergio Centofanti:

Dia após dia vê-se que, apesar da precariedade, já se estão a tomar soluções oportunas para facilitar a presença destes mais de vinte mil refugiados aqui em Erbil, sobretudo na cidade de Ankawa, uma cidade quase totalmente cristã caldeia, onde foram hospedados nos vários lugares, dos jardins perto da igreja, à própria igreja, aos locais da catequese, ou então nos centros que foram postos à disposição, mas onde – naturalmente – se teve de lidar com a logística: pensemos nas casas de banho, os chuveiros… aqui são 48 graus!

Portanto, as exigências destas pessoas são os géneros de primeira necessidade. É claro que, depois desta primeira solução, começa a emergir mais forte o problema do futuro. Portanto, estamos um pouco nesta situação. Todas as autoridades nos garantiram a sua colaboração.

É preciso pensar que aqui no Iraque há hoje um milhão e duzentos mil refugiados, 400 mil crianças, pessoas pertencentes a diferentes grupos religiosos e étnicos… E depois há todo o problema da segurança e isto envolve as autoridades para a presença e a própria segurança destes lugares. Depois, há toda a questão dos peshmergas que estão tentando retomar e controlar os territórios que anteriormente não estavam sob o seu controle.

- O patriarca caldeu Sako lançou um apelo à comunidade internacional para libertar as aldeias ocupadas pelos jihadistas. O senhor Cardeal juntou-se a este apelo…

Sim. Na verdade, dando uma volta, sobretudo na parte norte, constatámos as situações precárias que se criaram. Eu gostaria de dizer que há questões relativas mesmo à segurança desta gente, para poder viver, embora em locais de refúgio, mas contudo em segurança.

Da nossa parte, o que pedimos – mas não nós, portanto eu como cardeal, o patriarca ou o bispo, fazemo-lo em nome de toda esta gente, que assim nos pediu por todos os lugares onde fomos.  O que o patriarca pôs por escrito é exatamente o que os cristãos disseram.

Portanto, nós não somos porta-vozes de algo nosso, mas sim das vozes que surgiram por todo o lado onde fomos, entre católicos, cristãos, yazidis, outras minorias. Eu gostaria de dizer isto com clareza, porque acho oportuno que se entendam a exigência e o desejo de toda a gente que encontramos.

- Existe o perigo de que os cristãos e outras minorias religiosas estejam em risco no Iraque, se nada for feito?

Claro! É este o problema mais grave! Portanto, por isso dizemos que o próprio apelo pede uma intervenção urgente o que, basicamente, faz eco àquilo que o Santo Padre pediu quando escreveu à Organização das Nações Unidas.

- Sabe que o Papa rezou por si esta manhã em Seul?

Não, é uma notícia que recebo de si…

- O Papa ao fim da oração dos fiéis, disse estas palavras: “… pelo Cardeal Fernando Filoni que deveria estar entre nós, mas que não pôde vir porque foi enviada pelo Papa ao povo sofredor do Iraque, para ajudar os perseguidos e desalojados, e todas as minorias religiosas que sofrem naquela terra. Que o Senhor o acompanhe na sua missão”. Estas foram as suas palavras…

… aproveito esta oportunidade obviamente para agradecer… estou um pouco comovido por saber isto…

- São palavras muito bonitas proferidas num momento particular, durante a Missa pela paz e a reconciliação…

Tenhamos em mente que mais do que de pessoas, a gente aqui precisa de ser apoiada. Ontem à noite, quando fizemos uma grande missa aqui em Erbil com a igreja muito cheia, onde eu manifestei a proximidade, o afecto e o encorajamento por parte do Santo Padre. Não éramos só nós daqui, os refugiados e a comunidade cristã de Erbil, mas em todos os lugares onde fomos nós dissemos para se unirem espiritualmente a este nosso acto de culto e, portanto, mesmo que eles estavam espalhados pelas várias aldeias, nós os teríamos presentes neste momento particular para celebrar a missa em favor dos refugiados, em apoio às suas vidas. Portanto, éramos um pouco uma comunidade presente, mas também os ausentes, estavam espiritualmente presentes.

Fonte: Rádio Vaticano


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