Com o cessar-fogo na Faixa de Gaza, iniciado na terça-feira, muitos palestinos decidiram se arriscar e retornar às suas casas. Vasculhando pilhas de destroços, eles tentam encontrar resquícios da vida que um dia levaram. Objetos de casa, colchão, alguns cobertores e uns poucos brinquedos – quase nada restou que ainda possa ser utilizado. Em meio aos escombros, Aische recolhe algumas panelas e uma bacia de plástico que, como por milagre, resistiram aos bombardeios. Na parede da cozinha totalmente destruída está fincado um foguete israelense de cerca de um metro, que não chegou a explodir.
“Era uma manhã de domingo quando a região foi bombardeada e toda a casa estremeceu”, conta Aische. A família fugiu, inicialmente, para o hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, e de lá para a escola da agência da ONU de assistência a refugiados palestinos (UNRWA). “Graças a Deus minha família sobreviveu. Mas meu tio e dois primos ainda estão soterrados sob os escombros”, recorda.
Não sobrou muita coisa depois da bomba jogada por Israel sobre o bairro de Shujaiyyah, em Gaza. Ruas inteiras viraram ruínas. Pedaços de concreto, vigas de ferro retorcido e pedras se amontoam. O cheiro de decomposição espalhou-se por todos os lugares – muitos corpos ainda se encontram debaixo dos escombros. Não é mais possível viver ali. A maioria dos moradores do bairro encontrou refúgio nas escolas da ONU mais a oeste da Faixa de Gaza.
Os refugiados já vivem há três semanas na escola, em um espaço extremamente apertado, sem saber quando poderão deixar o local. Eles não têm mais casa. Pequenos aposentos foram separados por cobertores pendurados, para que as famílias possam ter um pouco de privacidade, inclusive para dormir.
Raida, moradora de Shujaiyyah, conta que não há espaço suficiente para as famílias maiores. “Aqui vivem 15 pessoas, neste cantinho apertado. Dormimos em turnos. Metade da família dorme à noite e a outra metade, de dia”, conta.
O tempo ela passa alimentando esperanças. “Nós ouvimos as notícias e esperamos para ver o que vai acontecer”, relata Raida, ao lado da irmã e da prima, três belas jovens que tomam conta dos irmãos menores e dos próprios filhos. “Pela manhã, a escola nos traz água. Então tomamos banho e lavamos as roupas. Não há muito o que fazer aqui”, afirmam elas.
As crianças correm, alegres, pelo pátio da escola. Em uma barraca próxima, um ambulante vende limonada em copos pequenos. No canto do pátio ficam três grandes pias de metal e várias torneiras – é ali que os refugiados podem pegar água. Ali perto estão os poucos vasos sanitários, e as longas filas para usá-los. Cerca de 3 mil pessoas vivem na escola. Mil já foram embora. Algumas delas foram em busca de um novo lar. Outras tentam reconstruir a antiga residência.
Fonte: Tribuna do Norte