Confrontos entre grupos armados deixam oito mortos e oito feridos
A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi obrigada a interromper uma campanha de vacinação contra o sarampo na região de Kalonge, no leste da República Democrática do Congo (RDC). No domingo, 3 de agosto, um grave incidente aconteceu na cidade de Cifunzi, onde eclodiram confrontos entre tropas do exército congolês e um grupo armado. Como resultado, oito pessoas foram mortas enquanto outras oito ficaram feridas e tiveram de ser tratadas por MSF no hospital de Kalonge. Membros de MSF sofreram violentas ameaças por parte dos militantes.
Cinquenta membros da equipe de vacinação de MSF e da equipe do hospital de Kalonge foram evacuados para a cidade de Bukavu. Eles ficarão ali até que a situação esteja esclarecida e a segurança das equipes possa ser garantida.
Antes da suspensão das atividades, cerca de 30 mil pessoas foram vacinadas, menos da metade da meta prevista para a imunização.
O embate aconteceu na manhã do domingo e começou com um tiroteio que matou oito pessoas e feriu outras oito, incluindo três crianças e duas mulheres. Após o conflito, os militantes mantiveram preso um grupo de familiares dos soldados, inclusive mulheres e crianças, contra a vontade deles. Saindo de Cinfunzi, o grupo se deparou com dois carros de MSF e os rebeldes tentaram tomar os veículos fazendo ameaças aos seus ocupantes.
Ninguém de MSF ficou ferido e os familiares dos soldados foram liberados, mas a situação levou MSF a evacuar as equipes na área para garantir sua segurança. Apenas alguns membros permaneceram no hospital para garantir serviços de emergência mínimos em Kalonge.
A campanha de vacinação em Kalonge, prevista para durar 15 dias, começou na última semana, com o objetivo de imunizar ao menos 65 mil crianças e jovens com idades entre seis meses e 15 anos. Além dos problemas gerados pelas atividades dos diversos grupos armadas na área, a campanha também enfrenta enormes dificuldades para chegar aos enclaves, acessíveis apenas a pé ou por motocicletas, o que dificulta a manutenção da cadeia de frio necessária para a preservação das vacinas.
Por décadas, a RDC tem sido cenário de surtos de sarampo, sendo que o ano de 2010 marcou um grande ressurgimento da doença. Um estudo conduzido pelo Epicentre, centro de pesquisa epidemiológica de MSF, indica que, entre 2010 e 2013, cerca de 300 mil casos foram registrados no país – quase dois terços referentes a crianças com menos de cinco anos – e mais de 5 mil pacientes morreram. De acordo com o relatório, o número de casos caiu mais de 20% após as primeiras campanhas de vacinação. MSF responde a surtos da doença por todo o país.
MSF iniciou suas atividades na área de Kalonge há seis anos para prestar suporte a um grande número de pessoas deslocadas pelo conflito na RDC. O apoio foi oferecido a um hospital e oito centros de saúde.
MSF pede que todas as partes envolvidas no conflito respeitem civis e nossas atividades médicas para que possamos continuar o trabalho, levando assistência vital à população. Atores humanitários precisam ser capazes de trabalhar livremente e sem obstáculos.
Fonte: MSF