O Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, pediu na última semana, durante uma importante conferência em Sharjah, medidas urgentes para fortalecer a proteção de milhões de crianças refugiadas.
Proteger crianças refugiadas é uma prioridade para o ACNUR, e fazer isso da melhor maneira requer estreita colaboração com todos os envolvidos”, disse Guterres aos delegados na abertura dos dois dias da conferência “Investindo no Futuro”, que está sendo organizada pelo governador de Sharjah, Sheikh Sultan bin Muhammad Al Qasimi. O foco é o Oriente Médio e o Norte da África.
“Precisamos fazer o melhor para manter as crianças refugiadas seguras – garantindo seu acesso à educação de qualidade, atendimento psicossocial e apoio para aquelas com necessidades específicas, além de assegurar seu registro de nascimento. Mas é igualmente importante apoiar suas famílias e comunidades para que possam protegê-las melhor”, acrescentou o Alto Comissário.
Segundo ele, a conferência de Sharjah foi uma oportunidade de trabalhar em conjunto para melhorar a proteção das crianças refugiadas na região. “Espero que esta reunião ajude a fortalecer as parcerias entre governos, sociedade civil, organizações internacionais e setor privado, e que identifiquemos ações específicas para garantir que as crianças e adolescentes refugiados estejam melhores protegidas, com esperança para o futuro”.
Guterres disse ainda que as crianças, o grupo mais vulnerável em tempos de conflito e deslocamento, agora compõem metade dos refugiados do mundo, a maior proporção em mais de uma década. A situação no Oriente Médio é particularmente mais grave, com crises na Síria e no Iraque. “Nesta região, a cada minuto, uma criança é forçada a fugir de seu país”,
“O impacto do deslocamento forçado para crianças é enorme”, disse Guterres. “Muitas das crianças refugiadas que conheci presenciaram a violência e a brutalidade da guerra, perderam entes queridos ou foram feridas.”
A vida das crianças no exílio é cheia de incertezas e lutas diárias. “Muitas são separadas de suas famílias, têm dificuldades para acessar serviços básicos, e vivem em pobreza crescente. Apenas uma em cada duas crianças refugiadas sírias nos países vizinhos estuda”, acrescentou Guterres.
“Sabemos que as crianças refugiadas correm mais risco de trabalho infantil e recrutamento, e são mais vulneráveis à violência em suas casas, comunidades e escolas, incluindo a violência sexual e baseada em gênero. Esta é uma das razões, além das dificuldades financeiras, que levam os pais a concordarem em casar suas filhas ainda crianças.”
O Alto Comissário disse que as consequências da violência para as crianças são “graves, caras e de longo prazo ” tanto para as crianças quanto para suas comunidades. “À medida que o deslocamento se torna mais prolongado, é necessário mais investimento para apoiar sistemas e serviços de proteção nacional, fornecidos pelo governo e organizações da sociedade civil.”
“Não podemos permitir que essas crianças se tornem uma geração perdida. Se não as protegermos da exploração e abuso, se as deixarmos sem educação e qualificação, a recuperação e o desenvolvimento de seus países atrasarão por muitos anos”, disse Guterres.
Em outro discurso, a Rainha da Jordânia Rania descreveu o deslocamento em massa da Síria como “um tapa na cara da humanidade.” Ela também pediu a continuação do apoio internacional para os países de acolhimento como a Jordânia, acrescentando que “as necessidades são muito maiores do que o apoio oferecido.”
Mais de 300 delegados, incluindo funcionários de governo, trabalhadores humanitários e especialistas em assuntos de refugiados e de proteção à criança discutiram uma ampla gama de questões durante o encontro em Sharjah. Os tópicos incluíam a violência sexual e baseada no gênero; proteção de crianças afetadas por conflitos armados; registro de nascimento e documentação legal dos bebês nascidos em situação refúgio; exploração e separação; educação e capacitação de jovens como agentes de transformação.
A apoiadora do ACNUR, Sheikha Jawaher Bint Mohammed Al Qasimi, esposa do governante de Sharjah, ajudou a organizar a conferência, o primeiro deste tipo na região. A reunião terminou na quinta-feira (dia 16 de outubro) com o conjunto de princípios para proteção às crianças refugiadas.
Por Mohammed Abu Asaker in Sharjah, United Arab Emirates
Fonte: ACNUR