Segundo a ONU, casamento infantil cresceu após início do conflito; criança relatava abusos durante a união
Uma menina síria de 12 anos pediu o divórcio após se casar com um homem de 30 no início do ano, informou o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). A história, publicada em um artigo divulgado pela agência da ONU, denuncia o aumento da prática do casamento infantil no país desde o início do conflito há três anos.
— Nenhuma menina quer esta vida — afirmou a jovem em Aleppo. — Adolescentes e meninas sírias estão sendo forçadas a casamentos prematuros para salvar suas famílias.
Depois de abusos constantes por parte do marido, ela saiu de casa e decidiu pediu ajuda em uma clínica apoiada pelo Unfpa. Hoje, já de volta à escola, a adolescente se mudou para o abrigo onde vivem a mãe e cinco irmãos e pediu o divórcio. Ela também recebe apoio psicológico regular.
A menina contou que não teve outra escolha senão aceitar o casamento. Segundo ela, nove membros de sua família estavam abrigados em uma única sala, sobrevivendo com pouca comida e algumas roupas, livros ou brinquedos.
— Minha família estava enfrentando problemas econômicos, e eu era um fardo para eles — disse ela.
Quando um homem sírio que ela nunca tinha visto antes pediu para se casar e ofereceu uma espécie de “dote” — quantia suficiente para sustentar a família por quase um ano —, eles concordaram. Mas o casamento rapidamente se transformou em pesadelo diante dos constantes abusos.
O casamento infantil tem sido uma preocupação em diversas partes da Síria, pois desde o início do conflito no país, há três anos, o número de casos aumentou. Com muitas pessoas desabrigadas, vivendo em abrigos apertados e a maioria desempregada, as famílias passaram a acreditar que suas filhas serão mais protegidas e seguras se estiverem casadas.
Nesta quinta-feira, o Alto Comissário para Refugiados, António Guterres, pediu uma ação urgente para fortalecer a proteção de milhões de crianças refugiadas, durante uma conferência nos Emirados Árabes Unidos. Guterres afirmou que é preciso manter a segurança dos menores, pois o impacto de deslocamentos forçados sobre elas é enorme.
— Muitas das crianças refugiadas que conheci experimentaram a violência e a brutalidade da guerra, perderam entes queridos ou estavam feridos — afirmou Guterres. — Elas estão sob maior risco de trabalho infantil e recrutamento, e mais vulneráveis à violência em suas casas, comunidades e escolas, incluindo a violência sexual e baseada no gênero. Esta é uma das razões, juntamente com as dificuldades financeiras, que pais refugiados concorda em casar suas filhas ainda crianças.
Fonte: O Globo