Por Iskender Doğu
Refugiados curdos de Kobanê estão precisando de solidariedade e de apoio, enquanto o exército turco é acusado de compartilhar inteligência com forças do ISIS na Síria.
“O ISIS destruiu todos os meus sonhos”, disse a jovem Medya, de 20 anos, no campo de refugiados “Rojava” em Suruç, onde milhares de refugiados encontraram abrigo em centenas de barracas e dentro de uma fábrica abandonada. Junto com a sua família, ela chegou aqui há dez dias, como parte do grande êxodo da população de Kobanê, que viu dezenas de milhares de pessoas deixando suas casas, atravessando a fronteira para a Turquia.
“Dois homens chegaram à nossa aldeia em uma moto, eles estavam cobertos de sangue e gritavam que o ISIS tinha invadido sua aldeia e mataram todos”, contou um dos moradores do acampamento. O pânico explodiu, e todos saíram com pressa, trazendo com eles apenas o que podiam carregar com as próprias mãos. “Mais tarde, percebemos que esta era uma tática do ISIS, e que os dois homens que chegaram de moto faziam parte do grupo”. Aparentemente o ISIS repetiu o mesmo truque na maioria das aldeias vizinhas de Kobanê, assustando milhares de suas casas em um movimento que pode ser considerado uma forma de guerra psicológica.
O fluxo de refugiados acabou tirando o foco e atenção das Forças de Defesa do Povo e das mulheres da Força de Defesa (YPG / yPJ) contra o avanço do ISIS, e enquanto os olhos do mundo estavam fixos no desastre humanitário na fronteira com a Turquia, o ISIS tomou facilmente o controle sobre a maioria das aldeias da região de Kobanê.
Agora, como resultado, Medya vive em uma barraca no campo de refugiados, onde passa as noites com outras vinte pessoas em um espaço menor do que o de um quarto médio de uma casa europeia. Ela perdeu o sonho de uma vez se tornar jogadora de futebol de um time nacional sírio e agora só espera que ela e sua família possam fazer o caminho para Istambul, encontrando um lar e trabalho.
» Iskender Doğu é um escritor freelance residente em Istambul, ativista e editor para a ROAR Magazine, em parceria com o coletivo Guerrilha GRR – ele se encontra atualmente na fronteira entre a Turquia e a Síria, acompanhando o desdobramento nos campos de refugiados.
Fonte: Guerrilha [GRR]