No dia 15 de outubro de 1964, ancorou no Rio de Janeiro um navio que trazia alguns cidadãos da Coreia do Sul. Entre eles, Paulo Lee e Yung Myung. Fugindo da guerra, eles chegaram em um Brasil que também vivia em clima hostil, com a recém-instalada ditadura militar. À época, aos 10 anos, essa dupla não entendia muito sobre política, fazendo com que a paixão do povo brasileiro pelo futebol conquistasse mais a atenção dos garotos.
- Tínhamos futebol lá, mas nem se compara com aqui. Passei a gostar do esporte como qualquer um que vive no Brasil – afirmou o corintiano Paulo Lee.
No mesmo ano, Jong Lee também chegou no Brasil. No porto de Santos, o país recebeu mais um admirador que se tornou são-paulino.
- Eu cheguei a ir no estádio na Coreia, mas lá era muito amador. Aqui o Brasil já era grande. Gosto muito de futebol. Acompanho futebol e admiro o jeito de jogar dos brasileiros. Sabemos que a Coreia não tem chance. Torço para os dois – disse Jong.
Assim como tantos brasileiros, esse trio de engenheiros que fixou residência em Mogi das Cruzes, viu muitos mundiais. Sem a presença da Coreia na maioria delas, a torcida era verde e amarela.
- Não dá para esquecer a pátria que nasci. Mesmo longe do meu país eu vivi com a cultura coreana, mas estou aqui há muito tempo, sou brasileiro também – garantiu Paulo.
Desde que chegou ao Brasil, esse trio acompanhou 12 Copas do Mundo e viu o “tri”, “tetra” e o “penta”. Entre inúmeras seleções é fácil surgir discussões comuns de muitos brasileiros.
- Eu gosto do futebol arte e não da força. Para mim a melhor seleção que vi foi a de 1970 – falou Paulo.
- Não tenho dúvida que a de 1982 foi a melhor mesmo sem ter ganho a Copa – rebateu Jong.
Quando o assunto é Brasil e Coreia, eles estão divididos. A seleção da Ásia está no Grupo H, com Bélgica, Rússia e Argélia. Se classificar na primeira colocação poderia enfrentar o Brasil na final e em segundo, na semifinal. Isso se o Brasil se classificasse em primeiro.
- Como torcedor eu apostaria na Coreia, o placar seria 2 a 1, mas conhecendo o futebol, o Brasil vence por 3 a 0 – palpitou Paulo.
- Mesmo torcendo para a Coreia, não tem como, o Brasil vence por 2 a 1 – se conformou Jong.
- Que nada. Tenho certeza que venceremos por 2 a 0. Não tenho dúvida. Vamos assistir todos os jogos da Coreia e vamos convidar todos os nossos amigos para torcer com a gente. Se torcer contra, tem muitos judocas e caratecas na família, acho que isso não aconteceria – arriscou Yung.
Mesmo com toda a discussão e brincadeira todos acreditam em uma única coisa: que o esporte promove a união. O futebol aproximou esses coreanos e tantos outros imigrantes do povo brasileiro. União tão sonhada que poderia enfim acabar com um conflito abandonado por eles há 50 anos e que ainda persiste.
- O que gostaríamos é que existisse essa união em nosso país. Os coreanos não gostam dessa divisão. Minha família é da Coreia do Norte e acabamos mudando para a Coreia do Sul por causa da guerra. Tenho muitos familiares lá. Nós queremos que isso acabe. Além disso, se nós uníssemos seriamos muito mais fortes no futebol – disse Yung.