Nada a estranhar na revelação de que no próprio seio da valorosa comunidade judaica sejam bastante numerosas as vozes erguidas contra as ações sangrentas descomedidas praticadas pelas forças de ocupação no território palestino. Os extremistas radicais que governam Israel enfrentam, além da condenação da opinião publica internacional, veementes reações em sua própria comunidade pelas ações executadas.
A rica cultura humanística e espiritual hebraica legou à civilização lições magníficas de celebração da vida. E de respeito aos direitos fundamentais que conferem dignidade à aventura terrena.Os métodos exacerbados de violência empregados pelas bem equipadas forças militares – todos sabemos – encontram-se em completo desalinhamento com esse colossal patrimônio de ideias, força motriz da boa convivência social, construído por pensadores judeus eminentes. Figuras reverenciadas pelo seu trabalho em todas as áreas do conhecimento.
Por mais que a mídia internacional esteja a dificultar, incompreensivelmente à luz do bom senso, o acesso a informações acerca do inconformismo de significativos segmentos da comunidade judaica diante do caos instalado em Gaza, sabe-se com certeza que muita gente de peso, em Israel, tem assumido postura crítica com relação à belicosidade do governo. São cidadãos de diferentes tendências políticas. Clamam pela amplitude do diálogo. Apontam a mesa de negociações, com mediação da ONU e das grandes potências, como o único instrumento capaz de assegurar na região conflagrada a paz ardentemente almejada. O celebrado escritor Amós Oz e organizações como a “Peace Now” deixam claro nos posicionamentos formal indignação. Algum tempo atrás, outro indicador valioso das fortes divergências reinantes em Israel quanto ao massacre infligido à Palestina foi dado por combatentes militares de graduação elevada. Inesperadamente, eles se recusaram a participar de bombardeios contra a população civil. Por tal motivo foram destituídos de seus postos.
Esses setores esclarecidos sonham fervorosamente com uma nova ordem no relacionamento árabe-judeu. Mostram-se afinados com lideranças mundiais realmente engajadas em processo que seja capaz de instalar paz duradoura no conturbado território. Tal processo, para que se revele eficaz, terá que compreender, evidentemente, pra começo de conversa, a demolição do “muro da vergonha” que circunda a população palestina, impondo-lhe sofrimento e humilhação inenarráveis. Terá que assegurar o direito de retorno aos refugiados. E estabelecer fronteiras precisas. Garantir que esse bem vital, a água, chegue às torneiras palestinas. Demolir os afrontosos assentamentos de colonos. Definir com exatidão a situação jurídico-institucional de Jerusalém, capital espiritual do mundo, de preferência tornando-a cidade internacional sob a égide da ONU. Terá que reconhecer também a legitimidade do Estado da Palestina, tanto quanto a legitimidade do Estado de Israel, absorvida com simpatia pela Comunidade das Nações,mesmo que negada, irracional e raivosamente, por alguns grupos extremistas incendiários do lado contendor.
A comoção gerada pelos acontecimentos na faixa de Gaza tem dado origem a manifestações de protesto em todos os cantos. Javier Bardem, ator espanhol, ganhador de Oscar, assinou mensagem largamente divulgada nas redes sociais, entre outras coisas afirmando o seguinte: “No horror que acontece em Gaza não há espaço para equidistância nem neutralidade. É uma guerra de ocupação e de extermínio contra um povo sem meios, confinado em um território mínimo, sem água, e onde hospitais, ambulâncias e crianças são alvos e suspeitas de terrorismo. Difícil de entender e impossível de justificar. (…)“Não entendo essa barbárie e os horríveis antecedentes vividos pelo povo judeu tornam-na ainda mais incompreensível.Só as alianças geopolíticas, essa máscara hipócrita dos negócios – como, por exemplo, a venda de armas- explicam a posição vergonhosa dos Estados Unidos, União Europeia e Espanha.” (…) “Tenho muita gente querida a meu redor que é judia. Ser judeu não é sinônimo de apoiar um massacre.” (…) “E ser palestino não é ser terrorista do Hamas.”(…)“Trabalho nos Estados Unidos, onde tenho amigos e conhecidos hebreus que rechaçam tais intervenções e políticas de agressão. Não se pode invocar autodefesa quando se assassina crianças – me diz um deles por telefone.”
Fonte: Diário de Cuiabá