Apaixonado por capoeira, Tarek Alsaleh, alemão de ascendência síria formado em Ciência do Esporte, se mudou para Damasco em 2007. Lá, começou a ensinar o esporte brasileiro para crianças nas ruas da cidade. O interesse dos jovens pela atividade foi crescendo e a prática foi levada também para prisões e hospitais. Com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Alsaleh começou a ensinar o esporte também no campo de refugiados de Al Tanf, na fronteira entre Síria e Iraque. Daí nasceu a organização ‘Bidna Capoeira’ (Queremos Capoeira, em árabe), que utiliza a mistura de luta e dança para melhorar a vida dos jovens refugiados.
Atualmente, o projeto atua na Síria, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, com participantes de 07 a 22 anos. Além da prática da capoeira, os alunos também aprendem a história e cultura do esporte. “Os paralelos que a capoeira oferece para os jovens em situações vulneráveis são extremamente valiosos em ajudá-los a lidar com as situações difíceis pelas quais eles passam”, conta Ummul Choudhury, co-fundadora e diretora da ONG.
Ela lembra que os campos de refugiados são lugares superpovoados, pobres e que a violência física faz parte do dia a dia dos jovens. Com poucos lugares para brincar, diz, muitas crianças apresentam problemas de comportamento, como agressividade, depressão e hiperatividade.
“O Bidna Capoeira usa a forma de arte única e não competitiva da capoeira para quebrar ciclos de violência, isolamento e melhorar a saúde psicossocial de jovens desesperadamente vulneráveis”, afirma Choudhury.
Parte dos professores é brasileira, mas o projeto também trabalha treinando novos instrutores locais. “Nosso programa na Síria é gerido por pessoas locais que começaram como estudantes conosco e evoluíram, tornando-se instrutores. Trabalhamos para institucionalizar o valor social que a capoeira pode trazer para jovens traumatizados e vulneráveis e para poder espalhar esta mensagem”, destaca a diretora.
Do Brasil, também vai a língua das músicas cantadas nas rodas. “As canções da capoeira são ensinadas em português, junto com o significado e a história narrativa da capoeira. Nós também trabalhamos com nossos alunos para criar canções em árabe adaptadas do estilo original em português”, diz Choudhury.
A diretora revela ainda que a ONG tem planos de expandir seu trabalho. “Vamos começar projetos na Jordânia em 2014. Esperamos conectar, inspirar e acessar a comunidade mundial da capoeira por meio de nossos projetos”, completou.
O orçamento atual da ONG é de 320 mil libras esterlinas, cerca de R$ 1,242 milhões. Segundo Choudhury, a organização conta com a ajuda do governo brasileiro no desenvolvimento dos projetos.
Quem quiser conhecer o Bidna Capoeira pode acessar o site www.bidnacapoeira.org ou a página do projeto no Facebook www.facebook.com/BidnaCapoeira.