A ONU alertou nesta terça-feira (24) sobre a situação de insegurança e de violações graves e crescentes dos direitos humanos no Sudão do Sul. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem dialogado com diversos líderes locais e regionais, além de reforçar a capacidade da missão de paz da ONU no país (UNMISS) para permitir que ela faça o possível para proteger os civis e intensificar os esforços para encontrar uma solução política para a crise.
Segundo as Nações Unidas, Ban Ki-moon já falou com líderes da União Africana, Etiópia, Ruanda, Malauí, Tanzânia, Paquistão, Bangladesh e Nepal.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, expressou grande preocupação também nesta terça-feira (24) diante das graves e crescentes violações de direitos humanos que ocorreram nos últimos 10 dias, chamando a liderança de ambos os lados para proteger os civis e abster-se da incitação da violência étnica.
Pillay disse que execuções extrajudiciais em massa, ataques com base na etnia e detenções arbitrárias foram documentadas nos últimos dias, acrescentando que uma vala comum foi descoberta em Bentiu, no Estado de Unity, com pelo menos dois outros relatos similares em Juba.
Dois assessores especiais da ONU – sobre a Prevenção do Genocídio e sobre a Responsabilidade de Proteger – também expressaram preocupação com o grave risco de uma escalada de violência entre comunidades, observando que os ataques direcionados a civis e funcionários da ONU poderiam constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade.
Eles exortaram todas as partes a agir com moderação e em conformidade com o direito internacional humanitário e os direitos humanos, lembrando a responsabilidade do governo de proteger todos os sul-sudaneses, independente de sua etnia ou filiação política.
O Escritório da ONU Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) informou que cerca de 81 mil pessoas foram deslocadas pela crise no país, mas que o número real é provavelmente maior.
O OCHA afirma que 45 mil pessoas buscaram refúgio em campos administrados pela missão da ONU no país, enquanto o acesso para aqueles que estão fora tem sido limitado devido à insegurança contínua.
O coordenador do OCHA, Toby Lanzer, visitou Bor e disse que 17 mil sul-sudaneses buscaram abrigo na base da ONU. Ele afirmou que os trabalhadores de ajuda humanitária estão sob intensa pressão e que as instalações humanitárias estão sendo saqueadas em várias regiões.
Neste domingo (22), a UNMISS começou a retirar todo o pessoal considerado não essencial de Juba. Eles estão sendo levados para Entebbe, em Uganda. A decisão foi tomada como medida de precaução. A missão, no entanto, está sendo reforçada, inclusive com membros das forças de paz de países da região.
O Ministério do Interior disse que a resposta humanitária para ajudar cerca de 20 mil pessoas deslocadas em duas bases da UNMISS em Juba está ganhando força, com o registro dos civis e a distribuição de alimentos em andamento.
Mais de 2.200 famílias receberam alimentos no domingo (22) e segunda-feira (23), em Juba, enquanto a ajuda alimentar foi distribuído para 7 mil civis abrigados na base da UNMISS em Bentiu no domingo (22).
A clínica móvel está operacional e realizou 200 consultas médicas na segunda-feira (23) em uma base da UNMISS em Juba.
As famílias deslocadas em Juba receberam mosquiteiros, cobertores, colchões, sabão e conjuntos de cozinha. Itens adicionais estão sendo pré-posicionados para distribuição nos próximos dias.
Risco para as crianças aumenta com falta de saneamento
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF ) também presta assistência aos civis. A agência está especialmente preocupada com a população do Estado de Jonglei, onde os conflitos se intensificaram.
O Fundo afirmou que a falta de saneamento gera um alto risco para a saúde. As crianças passam o dia sob sol forte e calor intenso e dormem ao relento nas noites frias. Com a ajuda de parceiros, o UNICEF está construindo latrinas e pelo menos 400 ficam prontas nos próximos dias. Equipes de voluntários limpam as áreas a céu aberto, onde as pessoas são obrigadas a fazer suas necessidades.
A agência da ONU também ajuda no cadastro das famílias de deslocados, um passo bastante importante para reunir crianças que foram separadas de seus pais durante os confrontos.
Conselho de Segurança deve enviar 5,5 mil soldados ao país
Em reunião de emergência no fim da tarde desta segunda-feira (23), hora local em Nova York, o Conselho de Segurança avaliou um pedido do secretário-geral da ONU sobre o envio de mais tropas para o Sudão do Sul.
Mais cedo, Ban Ki-moon encaminhou uma carta ao órgão, pedindo reforço para a missão da ONU. Com a piora do conflito inter-comunitário no país mais novo do mundo, 45 mil civis já buscaram abrigo nas bases das Nações Unidas.
Após a reunião de emergência, o embaixador da França, Gérard Araud, que preside o Conselho de Segurança este mês, explicou que o órgão vota na tarde de terça-feira (24) – também horário de Nova York – a resolução que autoriza o envio de mais tropas ao Sudão do Sul.
Se o texto for aprovado, a Missão da ONU vai ganhar o reforço de 5,5 mil soldados de paz. Segundo Araud, os 15 Estados-membros do Conselho receberam de forma positiva a proposta de resolução. Araud destaca que a violência se espalha no país e a situação humanitária está piorando.
Para a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, os relatos da ONU sobre a situação no Sudão do Sul são “perturbadores”, com pelo menos 100 mil pessoas desalojadas. Ela destaca que o Conselho de Segurança pede a todos os lados em conflito na nação africana que protejam os civis, independente de sua condição política ou étnica.
ONU investigará relatos de violações dos direitos humanos
Ban Ki-moon afirmou na segunda-feira (23) que as Nações Unidas vão investigar os relatos de graves violações dos direitos humanos e de crimes contra a humanidade no Sudão do Sul. Ele fez a afirmação em entrevista a jornalistas na sede da ONU em Nova York. Ban disse estar “muito preocupado” com os assassinatos étnicos no país.
O secretário-geral disse que os responsáveis pelos crimes “vão ser acusados e terão de enfrentar as consequências, mesmo que digam que não tinham conhecimento dos ataques”. Ele reuniu, pela manhã, seus principais assessores para discutir a situação. Participaram da reunião por videoconferência a representante especial da ONU para o Sudão do Sul, Hilde Johnson, e o representante especial da União Africana, Haile Menkerios.
O chefe da ONU declarou que tem pedido de forma consistente ao presidente Salva Kiir e aos líderes da oposição que negociem uma solução política para a crise. Ban disse que qualquer que seja a diferença entre eles, não se justifica a violência que tomou conta do país.
Ele também enviou uma mensagem direta para os sul-sudaneses dizendo que a ONU apoiou o caminho para a independência e continuará ao lado deles nesse momento.
A representante especial do secretário-geral da ONU, Hilde F. Johnson, aproveitou para lembrar o Natal e a mensagem de paz que a data traz. “No meu país, este é o dia de Natal, 24 de dezembro. Em outros países, amanhã é dia de Natal, mas para nós é hoje o dia de Natal. E como sabemos, a mensagem de Natal é a mensagem da paz, e para mim é importante lembrar a todos que, neste momento particular, gostaríamos de exortar os dois líderes, qualquer um que tenha influência na situação atual, bem como todos os cidadãos do Sudão do Sul a contribuir para que este Natal seja um Natal de paz e não de violência.”
Fonte: ONU