Saaraui conta história da ocupação pelo Marrocos com exposição

domingo, janeiro 5, 2014

Foto: reprodução

Bandeira do Saara Ocidental (Foto: Joe Huddleston)

A cientista política e jornalista saaraui Agaila Abba visitou recentemente a sua terra natal, o Saara Ocidental, ocupado pelo reino do Marrocos, no noroeste da África. Como resultado da viagem, ela divulga uma exposição fotográfica, em coautoria com Joe Huddleston, sobre as origens da questão do povo saaraui e do problema atual dos refugiados. Veja a seguir alguns trechos e fotos tiradas por Huddleston.

“Há uma manhã específica que me vem à memória: Eu tinha sete anos de idade, e fiz duas questões simples que mudaram a minha vida. Enquanto os anciãos e membros jovens da família cercavam meu avô em sua simples tenda, eles começaram a falar de um evento passado que aconteceu num país chamado Saara Ocidental. Eu larguei a minha curiosidade; perguntei ao meu avô o que é ‘Saara Ocidental’ e o que havia acontecido lá”, começa Agaila.

“Meu avô disse: ‘Saara Ocidental é o nosso país, agora ocupado pelo Marrocos. É o país pelo qual o seu pai morreu, e você, minha querida, como todos nós, é saaraui.’ As palavras do meu avô não só me cativaram, me deram uma identidade, uma identidade que, enquanto criança, eu não entendia. Entretanto, crescendo, tornou-se uma descoberta, assim como uma dolorosa realidade de vida.”

Agaila nasceu em um campo de refugiados na Argélia, onde há milhares de outros saarauis, e sua família ainda vive lá, desde a guerra entre o Marrocos e o Saara Ocidental, em 1975. Foi esta história que ela voltou para descobrir, aos 24 anos de idade, depois de seis anos vivendo nos Estados Unidos.

“Novamente, eu estava rodeada de anciãos e membros mais jovens da família na casa do meu avô. Era a minha avó quem falava, com a sua voz terna. Ela contou sobre o dia da ‘Marcha Verde’, em 1975, quando o Marrocos ocupou o Saara Ocidental. Minha avó fugiu, levando todas as crianças e algumas coisas básicas, como água e cobertores. Por sorte, o primo da minha avó os viu correndo e parou o seu carro para ajudá-los.”

“Viajando pela longa estrada até a Argélia, minha avó viu pessoas serem mortas, mulheres serem estupradas e outras ‘coisas terríveis’, como ela diria, em nosso dialeto (chamado Hassaniya). Enquanto minha avó estava fungido pela vida, meu avó viajava para outra cidade. (Ele acabou lutando, mas conseguiu encontrar a minha avó mais tarde).”

“No vazio do deserto, minha avó tentou começar uma nova vida, longe da guerra. Sem lar, dinheiro, comida ou qualquer bem básico, era uma luta a sobrevivência dela e dos filhos dela. Como ela descreveu, ‘os saarauis que fugiram para Tindouf tornaram-se uma equipe, ajudando uns aos outros.’ A guerra não havia acabado, e as mulheres começaram a construir novos campos de refugiados, enquanto os homens foram lutar contra o Marrocos.”

Entre os trechos mais detalhados do conto de sua avó, Agaila ressalta momentos de sofrimento, como as mortes dos seus tios, que sua avó enterrou.

“Enquanto ela terminava de contar a história, fez a seguinte afirmação: ‘Marrocos não só tomou a nossa terra, matou nossos homens e estuprou nossas mulheres, mas também deixou muitas crianças saarauis como você órfãs.’ (…) 36 anos depois, minha avó e o resto da minha família continua no campo de refugiados, esperando por uma solução que traga um fim à longa disputa territorial entre o Saara Ocidental e o Marrocos.”

Fonte: Vermelho


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