O aumento da violência entre muçulmanos e cristãos na República Centro-Africana pode transformar o conflito numa guerra religiosa e se espalhar para além das fronteiras do país, alertou o subsecretário-geral da ONU para assuntos políticos, Jeffrey Feltman, na segunda-feira (6).
Segundo ele, foram montados postos de controle “anticristãos” e “antimuçulmanos” nos bairros da capital, Bangui, monitorados por civis armados. A situação se repete nas cidades de Bossangoa, Bouar, Bozoum e Paoua, que testemunham confrontos diários entre membros das duas religiões.
A insegurança, a falta de financiamento e o difícil acesso a certas localidades estão dificultando as atividades da ONU e seus parceiros no país. Feltman apelou para autoridades que têm influência sob as partes envolvidas no conflito usem de seu poder para acabar com a violência e impedir graves violações de direitos humanos, incluindo contra crianças.
Inabilidade do governo ajudou a provocar crise
O conflito no país começou há um ano, quando rebeldes Séléka, principalmente muçulmanos, lançaram ataques que forçaram o presidente François Bozizé a fugir em março de 2013. Um governo de transição já foi encarregado de restaurar a paz e abrir caminho para eleições democráticas, mas os combates armados entre ex-membros do Séléka e as milícias do grupo cristão antiBalaka têm aumentado significativamente nas últimas duas semanas.
Feltman observou que a incapacidade das autoridades de transição para reduzir os abusos praticados pelo Séléka contra os cristãos durante o ano passado contribuiu para a transformação gradual de grupos locais de autodefesa, como o antiBalaka, em uma rebelião completa.
“Por outro lado, a frustração das comunidades muçulmanas é o resultado de anos de marginalização por parte dos sucessivos governos desde a independência do país há 50 anos. Por exemplo, apesar a comunidade muçulmana representa cerca de 20% da população total do país, não há feriados muçulmanos observados oficialmente”, disse.
Violência extrapola capacidade da resposta humanitária
Milhares de pessoas já morreram desde o início do conflito. Mais de 935 mil foram expulsas de suas casas e 2,2 milhões, cerca de metade da população, precisam de ajuda humanitária. Aproximadamente 100 mil centro-africanos estão em um acampamento improvisado no aeroporto da capital, onde a insegurança torna difícil o fornecimento de serviços essenciais pela ONU.
Segundo Feltman, os deslocados precisam de abrigo, proteção e acesso à água, cuidados médicos, suprimentos básicos, saneamento e higiene. A ajuda humanitária não está dando conta de tantas vítimas, já que a violência e a insegurança forçaram muitos a fugir para as florestas.
Apesar da situação caótica, Feltman observou alguns progressos para as eleições, já que um novo código eleitoral foi adotado e tomou posse a Autoridade Nacional Eleitoral, formada pela sociedade civil, partidos políticos e governo, a qual o Escritório Integrado da ONU de Construção da Paz na RCA (BINUCA ) prestará apoio técnico e logístico.
Fonte: ONU