Um dos maiores programas de reassentamento do mundo terminou recentemente na Tailândia, com o ACNUR recebendo as últimas manifestações de interesse de refugiados de Myanmar que querem começar uma nova vida nos Estados Unidos.
O programa de reassentamento coletivo foi iniciado em 2005, com apoio dos governos da Tailândia e dos EUA, para oferecer uma solução duradoura para dezenas de refugiados de Myanmar que se encontravam em uma prolongada situação de refúgio e dependentes de assistência internacional, nos noves campos ao longo da fronteira Tailândia-Myanmar.
Anne C. Richards, secretária-assistente no Escritório de População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos EUA, disse que seu país recebeu e assentou mais de 73 mil refugiados de Myanmar desde 2005. “Os Estados Unidos estão orgulhosos de ter concedido um novo começo a esses refugiados. Refugiados birmaneses reassentados prosperaram em suas novas casas e enriqueceram suas comunidades. Muitos viraram proprietários de casas, donos de pequenos negócios e cidadãos americanos,” ela disse.
“Esperamos que outros milhares cheguem no ano que vem enquanto o programa desacelera”, adiciona. “Esse reassentamento bem-sucedido chegou à sua conclusão natural, atingindo o prazo até 24 de janeiro para refugiados birmaneses expressarem seu interesse em reassentamento para o ACNUR”.
O fechamento do programa começou a ser implementado em janeiro do ano passado no campo Mae La. Na sequência, foram envolvidos outros campos. Refugiados elegíveis em cada campo tiveram três meses para decidir se iam ou não se candidatar para o reassentamento nos EUA, com procedimentos simplificados.
O processo finalizado na última sexta, quando terminou o prazo para inscrições nos três últimos campos na província de Mae Hong Son: Mae La Oon, Mae Ra Ma Ruang e Ban Mae Surin.
Ao longo do ano passado, aproximadamente 6.500 refugiados de Myanmar na fronteira com a Tailândia expressaram interesse no programa de reassentamento coletivo dos EUA – 2.500 indivíduos a mais do que em 2012, uma indicação de que muitos refugiados estavam esperando pela última chance antes de tomar a decisão de serem reassentados ou não.
Tun Myin, 30 anos e pai de três filhos no campo Mae La Oon, estava entre os últimos refugiados que manifestaram interesse. “Estávamos esperando para ver o que as pessoas fariam”, disse ele, na semana passada. “Agora que todos os meus irmãos estão sendo reassentados, não queremos ficaram para trás, sozinhos, no campo.”
Manter a família unida foi uma consideração importante para muitos. “Nossos parentes recentemente se inscreveram para os EUA, e as crianças não querem se separar de seus avós”, disse Aung Mya Khe, 39, também do campo Mae La Oon. Tais decisões nunca são fáceis, e ele está preocupado que seus filhos esqueçam a cultura Karen ao longo do tempo.
O acesso à educação superior foi outro fator-chave na decisão de se reassentar. “A vida dos nossos filhos será muito melhor nos EUA. No campo eles não podem progredir além da 10a série na escola, e eles não podem ir para a universidade na Tailândia,” disse Thein Than Aye, professor e pastor no campo Mae Ra Ma Luang.
Tun Myin concorda, “Haverá oportunidades de educação para meus filhos e minha mulher nos EUA. Eu farei qualquer trabalho que puder”.
O ACNUR está trabalhando juntamente com o Centro de Apoio ao Reassentamento do Comitê de Resgate Internacional e a Organização Internacional para Migração para conduzir o processo de reassentamento até que as inscrições tenham sido analisadas e os casos aprovados tenham recebido ajuda para embarcar da Tailândia.
Além das partidas para os EUA, aproximadamente 19 mil refugiados na Tailândia foram para outros países de reassentamento, incluindo Austrália, Canadá, Finlândia e Japão, nos últimos nove anos. “O final deste capítulo não significa que o reassentamento está completamente concluído”, disse Mireille Girard, representante do ACNUR na Tailândia. “O ACNUR vai continuar a identificar e enviar refugiados com necessidades específicas de proteção, individualmente, para vários países. Também estamos trabalhando com o governo tailandês e países de reassentamento para reunir famílias e garantir que seus membros possam ser reassentados juntos”.
Estima-se que haja 120 mil refugiados de Myanmar restantes nos nove campos da Tailândia, incluindo mais de 40 mil não registrados pelas autorizadas tailandesas.
A agência da ONU para refugiados tem trabalhado há anos para assegurar uma gama de opções e soluções para os refugiados. Ela conduz pesquisas nos campos para obter um perfil mais claro dos refugiados registrados e não registrados, e também para entender melhor seus planos depois de sair do campo.
Nos dois últimos anos, o desenrolar positivo dos acontecimentos no sudeste de Myanmar aumentou as expectativas de que os refugiados possam retornar para casa em um futuro não muito distante.
Por Vivian Tan em Bangkok e Max McClellan em Mae Sariang, Tailândia.
Por: ACNUR