Apesar de trégua, incerteza sobre futuro do Sudão do Sul

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Foto: Charles Lomodong/ AFP/ Getty Images

Foto: Charles Lomodong/ AFP/ Getty Images

Num reflexo da complexidade da situação no Sudão do Sul, poucas horas depois da assinatura de um acordo de cessar-fogo entre rebeldes e o governo, forças fiéis ao líder insurgente Riek Machar acusaram nesta sexta-feira (24/01) tropas governamentais de atacarem seus homens.

Posições rebeldes nos estados de Unity e Upper Nile teriam sido alvejadas por tropas do governo. Segundo informações do jornal online Sudan Tribune, um porta-voz de Machar ressaltou o direito de autodefesa dos rebeldes.

Após semanas de pesados combates, representantes do governo do presidente Salva Kiir e dos rebeldes concordaram numa trégua na noite de quinta-feira na capital etíope, Adis Abeba. O tratado prevê uma pausa de 24 horas nos combates.

O governo também concordou em libertar 11 aliados do líder rebelde Riek Machar, presos em dezembro, acusados de conspiração para um golpe de Estado. Esta foi a principal demanda dos rebeldes, que havia sido a princípio categoricamente rejeitada pelo governo.

Elogios da ONU e de Washington

O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, e o Conselho de Segurança da ONU saudaram
o acordo. Ban disse que o documento foi um “passo no caminho para um acordo abrangente que possa dar fim à violência no Estado mais novo do mundo”. Ele pediu que todas as partes implementem o tratado imediatamente.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saudou o cessar-fogo, mas também pediu a libertação dos presos políticos que estão sob custódia do Executivo e a participação deles no processo de paz.

“A completa participação dos presos políticos retidos pelo governo do Sudão do Sul será crucial nas conversas para resolver as causas do conflito, e nós continuaremos trabalhando para acelerar sua libertação”, afirma Obama em comunicado da Casa Branca. O presidente americano também pediu que “aqueles que cometeram atrocidades sejam detidos e prestem contas por suas ações”.

Guerra de fundo étnico

Obama agradeceu também o “papel construtivo” da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad, na sigla em inglês), o bloco regional mediador da África Oriental na crise do Sudão do Sul. Os líderes dos sete países que formam a Igad aprovaram o envio ao Sudão do Sul de uma força pacificadora de 5,5 mil soldados, segundo anúncio da ministra do Exterior do Quênia, Amina Mohammed.

Com essa decisão, a Igad implementará uma resolução da ONU aprovada no dia 24 de dezembro para aumentar sua presença no Sudão do Sul com mais 5,5 mil capacetes azuis, fornecidos por alguns dos países-membros da organização regional.

O conflito no Sudão do Sul começou em 15 de dezembro passado, quando o presidente do país, Salva Kiir, acusou o ex-vice-presidente e atual líder rebelde, Riek Machar, de tentativa de golpe.

A guerra também tem fundo étnico. Os principais rivais na luta pelo poder pertencem a dois dos mais poderosos grupos do país, que abriga cerca de 60 etnias.

O presidente Salva Kiir pertence aos dinkas, a etnia mais influente e numerosa. Enquanto Riek Mashar é um nuer, grupo étnico um pouco menor, mas que também está fortemente representado nas forças de segurança sul-sudanesas. Ambas as tribos têm travado violentos conflitos desde a independência do país, em 2011.

Entre mil e 10 mil mortos

O número de mortos no conflito vai de mil, segundo estimativa da ONU, até 10 mil pessoas, de acordo com cálculos do International Crisis Group, uma organização internacional não governamental especializada na análise de conflitos.

Mais de 500 mil foram expulsos de sua terra natal. A organização humanitária Médicos sem Fronteiras informou que 46 mil sul-sudaneses fugiram para Uganda, onde vivem em “condições desesperadoras”. Os refugiados estão debilitados, com fome e desidratados.

O mais novo Estado do mundo se separou do Sudão e declarou independência em 9 de Julho de 2011, depois de décadas de guerra contra o governo do país, dominado por árabes e muçulmanos.

MD/afp/efe/dpa

Fonte: DW


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