Um bebê de 14 meses, Khaled* estava à beira da morte. Toda a sua curta existência foi marcada pelo conflito na Síria. Mas a maior ameaça, no final das contas, não era a violência propriamente dita. Preso e sitiado dentro do campo de refugiados de Yarmouk, próximo a Damasco, com quase nenhuma comida ou assistência, todos sofreram, mas Khaled era jovem e fraco demais para sobreviver somente com alguns copos de água por dia e quase nenhuma comida.
“O inferno deve ser melhor”, disse a mãe de Khaled, Noor*, de 29 anos. “Nos últimos dois meses não havia comida, comemos grama do chão e fervemos temperos na água para tomarmos. Agora,não sobrou nada. Não posso nem mais amamentar”
Alguns meses após o nascimento de Khaled, Noor se encontrava num estágio de desnutrição tão severo que parou de produzir leite. Leite em pó não estava disponível e um único litro de leite de vaca estava custando cerca de 20 dólares nos mercados da região. Khaled então desenvolveu uma doença chamada kwashiorkor, relacionada à falta grave proteína na dieta, assim como diversas inflamações, abdômen protuberante e baixíssima estatura para a sua idade, evidenciando o seu mal desenvolvimento físico.
Para Noor, a única forma de salvar o seu filho era tirá-lo de Yarmouk. Ela se arriscou com seus cinco filhos, de portão em portão do campo de refugiados, até que um dos soldados teve piedade do seu bebê desnutrido e a deixou sair. Os soldados a deram pão e trouxeram comida. Ficaram surpresos quando a criança comia somente pão, coisa que não fazia há meses.
Apesar do inferno vivido, Khaled teve sorte: sua mãe o trouxe para uma clínica da UNRWA fora de Yarmouk e o médico da Agência, Dr. Ibrahim Mohammad* rapidamente concluiu que Khaled aparentava ter cinco meses de idade somente, não 14, devido ao seu estado de desnutrição severa. Após 20 dias de alimentação adequada e cuidados médicos, Khaled está completamente diferente, sorrindo, com seus olhos brilhando – e teve uma nova chance na vida.
Esta é somente uma história. Milhares de refugiados da Palestina ainda permanecem dentro de Yarmouk, sendo muitas crianças e em situações similares a que Khaled passou.
Depois de muitos meses a UNRWA finalmente teve acesso à Yarmouk e entregou caixas de comida – incluindo pão e leite para as crianças – e para uma infinidade de famílias. Mas a necessidade local é enorme e se mantém.
A frustração na voz do Dr. Mohammad é clara: “ainda podemos salvar muitas vidas, se conseguirmos chegar até elas.”
* Nomes foram alterados
Fonte: Unrwa