Responsável pelo primeiro festival de palhaços do mundo árabe fala como é atuar em campos de refugiados da Palestina

quarta-feira, março 5, 2014

mulheres palhaças

Performances foram realizadas até mesmo em locais próximos de bombardeios no Festiclown Palestina 2011

Há histórias que devem ser contadas porque multiplicam a esperança. Iván Prado, 39 anos, espanhol, ator e palhaço, dirige o Pallasos en Rebeldia, organização cujo propósito é construir pontes para a esperança por meio do riso. A companhia leva a arte da palhaçaria para locais onde existem conflitos militares ou injustiças sociais. Em 2011 o grupo realizou o primeiro festival de palhaços do mundo árabe, o Festiclown Palestina. Em outubro deste ano será realizada a segunda edição, desta vez em campos de refugiados palestinos e sírios. O grupo de Florianópolis Traço Cia de Teatro é o único brasileiro convidado a participar.

Iván esteve em Florianópolis na última semana, quando apresentou três curtas-documentários sobre festivais realizados em lugares em situação de risco. Alto, moreno, cabelos pretos e compridos, ele nunca perde a piada, mas mantém o tom de seriedade ao explicar a importância de seu trabalho.

— Há uma humanidade que precisa desse lugar do riso, das bobagens. O que unifica a humanidade é a utopia. O ser humano sente esperança o tempo todo, e o palhaço é um porta-bandeiras desse lugar utópico.

Sua primeira experiência como palhaço foi ao nascer, brinca ele, quando preferiu esperar mais três dias na barriga da mãe porque estava com frio. Ainda adolescente começou a fazer teatro e passou por companhias famosas. Mas a criação/desconstrução de espaços culturais transformados socialmente sempre foi seu foco, já com a realização do primeiro Festival Internacional de Clown da Galícia, o Festiclown, no ano 2000. Em 2003 ele foi a primeira vez para a Palestina, junto com uma expedição do Palhaços sem Fronteiras, onde se apresentou na Faixa de Gaza.

— Atuamos lá debaixo de bombardeios. As mães emocionadas falavam pra gente que os filhos riam depois de nos ver. As crianças paravam de chorar — conta.

Foi aí que ele largou o trabalho como diretor e professor para voltar a atuar.

— O palhaço é a alma mais livre que há nas artes cênicas, porque mostra o seu ridículo pessoal e o público identifica-se com as bobagens. O palhaço é um pirata do amor, conectado aos aspectos estéticos, sociais e políticos da sociedade. Ele pega tudo isso e faz uma teia, uma renda que mostra a verdade mais profunda do ser humano, que é a estupidez pessoal.

Experiências de risco e alegria

palhaço em campo de refugiados

Palhaço Ivan Prado

O Pallasos en Rebeldia, dirigido por Iván Prado, obedece a um critério: trabalhar em locais de risco e colaborar de alguma forma para a sociedade.

— O palhaço reflete a humanidade, é um espelho. Usa a menor máscara do mundo, o nariz vermelho, que é um semáforo das emoções. E a forma de vida humana está cheia de coisas ridículas.

Os relatos dele são carregados de pesada carga dramática, como a vez em que se apresentou a 300 metros de um bombardeio no Oriente Médio, ou quando distribuiu pistolas de água para crianças do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, logo após uma matança entre traficantes e a polícia, ou ainda quando foi ameaçado de morte por causa de uma performance em que ficou nu em um muro, com a mensagem: a humanidade fica pelada nos muros da injustiça.

— As pessoas que vivem nesses lugares valorizam o riso como forma de comunicação mais direta. O riso é alimento para a esperança. É antídoto contra o medo. É uma linguagem universal e rápida.

Em 2011, o primeiro Festiclown Palestina levou 40 artistas à região e reuniu mais de 100 mil pessoas. Os palhaços foram muito bem acolhidos pelos palestinos, na opinião dele porque o palhaço trabalha com a verdade e as pessoas valorizam a honestidade.

— Os palestinos são iluminados. Fazem piada de tudo, até mesmo da ocupação israelita. É um povo cheio de alegria. Eu não imaginava como eram, não sabia o que encontrar, mas vi um povo alegre.

Fonte: Diário Catarinense


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