Sudão do Sul: Situação segue tensa entre moradores e refugiados de Maban

segunda-feira, março 31, 2014

Essa mulher e sua família foram afetadas pela recente violência que comoveu o Sudão do Sul. Alguns de seus pertences e doações recebidas podem ser vistos ao fundo.

Essa mulher e sua família foram afetadas pela recente violência que comoveu o Sudão do Sul. Alguns de seus pertences e doações recebidas podem ser vistos ao fundo.

A crescente hostilidade entre refugiados do campo de Yusuf Batil, em Maban County, e seus vizinhos sul-sudaneses devido à existência de recursos naturais na região, atingiu seu ápice recentemente quando tiroteios e a violência forçaram cerca de 8.000 refugiados a fugirem do campo no início de março.

Certa calma foi restaurada após várias reuniões envolvendo o Comitê para Questões de Refugiados do Sudão do Sul (CRA, sigla em inglês para Committee on Refugee Affairs), autoridades locais, ACNUR, refugiados e os líderes das comunidades que os acolhem, que permitiram o retorno dos refugiados ao campo após dois dias dormindo perto de uma estrada.

No entanto, necessita-se fazer mais para resolver questões centrais como diferenças culturais e competições por recursos escassos, incluindo terra para pastagem, madeira e grama usadas para a construção de casas impermeáveis. O ACNUR está encorajando e apoiando os esforços para reparar as divergências, mas a tensão continua.

A primeira providência a se tomar é restaurar a confiança dos moradores do campo como Fatna, uma mãe de cinco filhos que ainda está aflita por conta da memória do confronto. “Quando nós retornamos ao campo me esforcei para ter uma boa noite de sono porque estava com medo de que o conflito retornasse” ela diz.

Ela estava cozinhando o almoço para sua família no campo de aproximadamente 40.000 pessoas quando um tiroteio começou – cada lado diz que o outro foi o responsável – e pessoas aterrorizadas corriam atrás de abrigo. Isso a lembrou da fuga de sua casa no Nilo Azul, estado do Sudão, dois anos atrás.

De volta ao campo, ela está em constante vigia para qualquer sinal de problema e, como muitas outras refugiadas, ela adverte seus filhos para brincarem perto de casa e dentro dos perímetros do campo.

Fatna culpa os homens de ambas as comunidades pelo conflito, ela os culpa pela incapacidade de resolver as diferenças ou chegar a um compromisso que seja para o bem de todos. Ela anseia por um tempo em que as mulheres das duas comunidades podiam se visitar. “Se havia um casamento ou morte na comunidade que nos acolhe, nós os apoiávamos e eles faziam o mesmo por nós”, diz. “Nós vendíamos e trocávamos bens uns com os outros e vivíamos realmente em harmonia. Agora, tudo isso tem mudado”.

O problema estava se desenvolvendo há algum tempo. A comunidade que os acolhe acusou os refugiados de ignorarem suas regras e usar seus recursos naturais. Os refugiados, por sua vez, disseram que os habitantes locais os trataram de forma injusta e cobraram impostos não oficiais pelo corte de grama e de madeira. Eles também alegaram sobre roubo de gado.

Os esforços para a resolução do conflito começaram um dia após o êxodo dos refugiados, em 4 de março. Oficiais do CRA e o ACNUR se reuniram com os líderes da comunidade que acolhe os refugiados e com representantes dos refugiados enquanto reforços policiais foram mobilizados para a área com a finalidade de manter a paz e permitir o regresso de todos.

Ambos os lados têm sofrido, e o ACNUR está avaliando os danos às propriedades pertencentes aos refugiados e aos membros da comunidade, sendo que alguns deles se esconderam por medo de represálias. A agência começou a distribuir itens de ajuda como sacolas plásticas, cobertores, mosqueteiros, conjuntos de cozinha e colchões para as famílias afetadas e indivíduos de ambas comunidades.

“Temos pedido à nossas ONGs parceiras para apoiar as comunidades com instalações de água e saneamento, serviços de saúde móvel e material de abrigo, antes das chuvas começarem,” diz Adan Ilmi, chefe do subescritório do ACNUR em Bunj, Maban County.

Encorajados pelos esforços externos para resolver suas diferenças, as comunidades afetadas têm, desde então, se reunido para apoiar iniciativas que tragam tolerância e reconciliação. Mais de 20 líderes das comunidades que acolhem os refugiados, em uma recente reunião com o ACNUR e com representantes dos refugiados dos campos de Yusuf Batil e de Gendrassa, ofereceram um ramo de oliveira para expressar sua disposição em negociar a fim de chegar a uma solução para a divergência.

Mais de 50 membros da comunidade que acolhe os refugiados, incluindo idosos, caciques, mulheres e jovens, reuniram-se com o ACNUR e o CRA para discutir as formas de se alcançar uma reaproximação e uma harmonia. Eles pediram que governo, por meio do CRA, conduzisse um processo de estabilização e de resolução do conflito mediante os mecanismos tradicionais de resolução. Eles, por sua vez, apoiarão os esforços para assegurar a paz duradoura por intermédio da consulta e do diálogo.

As comunidades também têm pedido que o incidente ocorrido no início de março seja investigado e que os suspeitos por começar a violência, que deixou duas pessoas mortas, sejam levados à justiça. Por fim, a comunidade que acolhe os refugiados tem apelado ao CRA propostas e implementação de medidas para preservar e proteger o meio ambiente, a vegetação e os recursos naturais da colheita indiscriminada e de seu uso excessivo.

“Os refugiados, por sua vez, se comprometeram em respeitar a cultura e as tradições da comunidade que os acolhe, incluindo leis e instituições que regulam o país, e em apoiar o estabelecimento de comissões mistas entre as duas comunidades para tratar de maneira proativa e solucionar os problemas,” diz Ilmi do ACNUR.

Com o progresso alcançado na definição das soluções para os problemas que afetam os refugiados e a comunidade que os acolhe, a implementação dessas recomendações são esperadas para se traçar um caminho a fim de restaurar a convivência pacífica entre as duas comunidades em Maban.

Para Fatna, essas são boas notícias. “Eu realmente espero que todos nas comunidades se comprometam com as recomendações e com as resoluções tomadas para restaurar a harmonia entre os refugiados e os Mabaneses, caso contrário, os problemas continuarão a destruir o que somos e o pouco que temos.”

Por Pumla Rulashe, no Campo de Yusuf Batil, Sudão do Sul.

Por: ACNUR

 


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