A UE (União Europeia) lançou nesta segunda-feira (01/04) uma operação militar na RCA (República Centro-Africana), com uma força composta por mil soldados e orçamento estimado em € 25,9 (R$ 80,8 milhões), após a autorização do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Desde o dia 20 de janeiro, os membros da UE já haviam concordado em enviar tropas ao país africano. Contudo, na ocasião, afirmaram que precisariam esperar um mandato de autorização do Conselho de Segurança da ONU. A proposta é que o novo contingente vá ajudar os 1.600 soldados da operação francesa no país e as tropas africanas do Misca (Missão Internacional de apoio à RCA).
Segundo comunicado emitido hoje pela comissão da UE, a missão tem como intuito proporcionar um apoio internacional temporário para proteger as populações em risco, gerar um ambiente seguro e fornecer ajuda humanitária na área de Bangui (capital) e do seu aeroporto internacional, que aloja atualmente centenas de milhares de civis deslocados.
“O lançamento desta operação demonstra a determinação da UE de tomar parte integral dos esforços internacionais para restaurar a estabilidade e a segurança em Bangui e em toda a República Centro- Africana”, anunciou a Alta Representante para Assuntos Exteriores da EU, Catherine Ashton.
Na quinta passada (27/03), Ashton já havia alarmado a escalada de violência nos últimos dias na RCA e a situação havia se deteriorado muito desde então. “É vital que haja um retorno à ordem pública, assim que possível, para que o processo de transição política possa voltar ao caminho certo”, completou.
Crise humanitária
O conflito no país remonta o dia 24 de março de 2013, quando um golpe de Estado afastou o então presidente François Bozizé e declarou Michel Djotodia o primeiro líder muçulmano em um país de maioria cristã. Desde então, a República Centro-Africana virou palco de conflitos sangrentos entre cristãos (Antibalaka) e muçulmanos (Seleka). Com a renúncia de Djotodia, no início de janeiro deste ano, a situação ainda mantém-se frágil e instável.
Em entrevista a Opera Mundi, o brasileiro Hugo Reichenberger, funcionário do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) na RCA, afirmou que, nos últimos tempos, “os níveis de brutalidade são inacreditáveis” no país. Para ele, o conflito apresenta “raízes de um genocídio e potencial para se tornar um, mas, por enquanto, trata-se de uma verdadeira limpeza étnica e religiosa”. A respeito do aumento do contingente militar no país, Hugo mantém posicionamento otimista. “Devo admitir que sempre fui contra intervenção armada, mas a presença das tropas foi extremamente positiva”.
O brasileiro também enfatizou a importância do aumento da assistência de agências da ONU em vilarejos com mais potencial de guerra. “A presença da ajuda humanitária nessas zonas de conflito ajuda a reduzir a tensão do local, pois há o partido neutro com o qual todo mundo pode falar”, explicou Reichenberger. Para ele, uma das expectativas é que a atual líder e primeira mulher a assumir a presidência no país, Catherine Samba-Panza, consiga reconciliar as duas milícias religiosas em guerra.
Fonte: Ópera Mundi