Tropas vão tentar frear escalada de violência no conflito com “raízes de genocídio” que assola o país há mais de um ano
O Conselho de Segurança da ONU autorizou nesta quinta-feira (10/04) o envio de uma missão de paz composta por 11.800 soldados e policiais para a RCA (República Centro-Africana).
Proposta pela França, a operação das Nações Unidas terá período de atuação de um ano. Após retornar de viagem ao país africano, a embaixadora norte-americana da ONU, Samantha Power, ressaltou que o envio da missão “é um passo importante” para pôr fim às atrocidades e aos abusos dos direitos humanos, destacando a “urgência” do aumento de segurança na RCA.
Na semana passada, a UE (União Europeia) lançou uma operação militar na República Centro-Africana, com uma força composta por mil soldados e orçamento estimado em € 25,9 (R$ 80,8 milhões), após a autorização do Conselho de Segurança da ONU. Em ambos os casos, a proposta é que o novo contingente vá ajudar os 1.600 soldados da operação francesa no país e as tropas africanas do Misca (Missão Internacional de apoio à RCA).
Segundo comunicado emitido pela comissão da UE, a missão tem como intuito proporcionar um apoio internacional temporário para proteger as populações em risco, gerar um ambiente seguro e fornecer ajuda humanitária na área de Bangui (capital) e do seu aeroporto internacional, que aloja atualmente centenas de milhares de civis deslocados.
“O lançamento desta operação demonstra a determinação da UE de tomar parte integral dos esforços internacionais para restaurar a estabilidade e a segurança em Bangui e em toda a República Centro- Africana”, anunciou a Alta Representante para Assuntos Exteriores da EU, Catherine Ashton. No fim de março, Ashton já havia feito um alerta sobre a escalada de violência nos últimos dias na RCA e a situação havia se deteriorado muito desde então. “É vital que haja um retorno à ordem pública para que o processo de transição política possa voltar ao caminho certo”, completou.
Crise humanitária
O conflito no país remonta ao dia 24 de março de 2013, quando um golpe de Estado afastou o então presidente François Bozizé e declarou Michel Djotodia o primeiro líder muçulmano em um país de maioria cristã. Desde então, a República Centro-Africana virou palco de conflitos sangrentos entre cristãos (Antibalaka) e muçulmanos (Seleka). Com a renúncia de Djotodia, no início de janeiro deste ano, a situação ainda mantém-se frágil e instável.
Em entrevista a Opera Mundi, o brasileiro Hugo Reichenberger, funcionário do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) na RCA, afirmou que, nos últimos tempos, “os níveis de brutalidade são inacreditáveis” no país. Para ele, o conflito apresenta “raízes de um genocídio e potencial para se tornar um, mas, por enquanto, trata-se de uma verdadeira limpeza étnica e religiosa”.
A respeito do aumento do contingente militar no país, Hugo mantém posicionamento otimista. “Devo admitir que sempre fui contra intervenção armada, mas a presença das tropas foi extremamente positiva”. O brasileiro também enfatizou a importância do aumento da assistência de agências da ONU em vilarejos com mais potencial de guerra.
“A presença da ajuda humanitária nessas zonas de conflito ajuda a reduzir a tensão do local, pois há o partido neutro com o qual todo mundo pode falar”, explicou Reichenberger. Para ele, uma das expectativas é que a atual líder e primeira mulher a assumir a presidência no país, Catherine Samba-Panza, consiga reconciliar as duas milícias religiosas em guerra.
Fonte: Opera Mundi